segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O Homem e a Morte

O HOMEM DIANTE DA PRÓPRIA MORTE / O HOMEM DIANTE DA MORTE DO OUTRO

Desde muito cedo, ainda bebês, quando passamos a distinguir nosso próprio corpo do corpo da mãe, somos obrigados a aprender a nos separar de quem ou daquilo que amamos. A princípio, convivemos com separações temporárias, como por exemplo, a mudança de escola. Mas chega uma hora, que acontece a nossa primeira perda definitiva: alguém que nos é muito querido, um dia, se vai para sempre. É justamente esse “para sempre” que mais nos incomoda.

Porém, quanto mais conscientes estivermos de nossas mortes diárias, mais nos preparamos para o momento da grande perda de tudo que colecionamos e nutrimos durante a vida: desde toda a bagagem intelectual, todos os relacionamentos afetivos, até o corpo físico.

Com o distanciamento cada vez maior do homem em relação à morte, cria-se um tabu, como se fosse desaconselhável ou até mesmo proibido falar sobre este tema.

Segundo Bromberg (1994) “como aprendemos em nossa cultura, evitamos a dor, evitamos a perda e fugimos da morte, ou pensamos fugir dela...”

Esse quadro atual nos revela a dimensão da cisão que o homem tem feito entre vida e morte, tentando se afastar ao máximo da idéia da morte, considerando sempre que é o outro que vai morrer e não ele. Nos lançamos então à questão da angústia e do medo em relação à morte.

Uma das limitações básicas do homem é a limitação do tempo. Segundo Torres (1983): "...o tempo gera angústia, pois do ponto de vista temporal, o grande limitador chama-se morte..."

A Psicanálise Existencial, apontada por Torres (1983) revela a dimensão da angústia da morte: "A angústia mesma nos revela que a morte e o nada se opõe à tendência mais profunda e mais inevitável do nosso ser", que seria a afirmação do si mesmo.

Mannoni (1995) busca em Freud, palavras que falem da angústia do homem diante da morte: "... Freud a situa ou na reação a uma ameaça exterior, ou como na melancolia, ao desenrolar de um processo interno. Trata-se sempre, porém, de um processo que se passa entre o eu e a severidade do supereu."

Segundo Kastenbaum e Aisenberg (1983) o ser humano lida com duas concepções em relação à morte: a morte do outro, da qual todos nós temos consciência, embora esteja relacionada ao medo do abandono; e a concepção da própria morte, a consciência da finitude, na qual evitamos pensar pois, para isto, temos que encarar o desconhecido.

É a angústia gerada ao entrar em contato com a fatalidade da morte, que faz com que o ser humano mobilize-se a vencê-la, acionando para este fim, diversos mecanismos de defesa, expressos através de fantasias inconscientes sobre a morte. Muito comum é a fantasia de existir vida após a morte; de existir um mundo paradisíaco, regado pelo princípio do prazer e onde não existe sofrimento; de existir a possibilidade de volta ao útero materno, uma espécie de parto ao contrário, onde não existem desejos e necessidades. Ao contrário dessas fantasias prazerosas, existem aquelas que provocam temor. O indivíduo pode relacionar a morte com o inferno. São fantasias persecutórias que têm a ver com sentimentos de culpa e remorso. Além disso, existem identificações projetivas com figuras diabólicas, relacionando a morte com um ser aterrorizante, com face de caveira, interligado a pavores de aniquilamento, desintegração e dissolução.

O homem é o único animal que tem consciência de sua própria morte. Segundo Kovács (1998): "O medo é a resposta mais comum diante da morte. O medo de morrer é universal e atinge todos os seres humanos, independente da idade, sexo, nível sócio-econômico e credo religioso."

Para a Psicanálise Existencial enunciada por Torres, (1983): "... o medo da morte é o medo básico e ao mesmo tempo fonte de todas as nossas realizações: tudo aquilo que fazemos é para transcender a morte.”

Complementa esse pensamento afirmando que "todas as etapas do desenvolvimento são na verdade formas de protesto universal contra o acidente da morte."

Segundo Freud (1917) ninguém crê em sua própria morte. Inconscientemente, estamos convencidos de nossa própria imortalidade. “Nosso hábito é dar ênfase à causação fortuita da morte – acidente, doença, idade avançada; desta forma, traímos um esforço para reduzir a morte

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