O efeito placebo
Efeito placebo é o efeito mensurável ou observável sobre uma pessoa ou grupo, ao qual tenha sido dado um tratamento placebo.
Um placebo é uma substância inerte, ou cirurgia ou terapia "de mentira", usada como controle em uma experiência, ou dada a um paciente pelo seu possível ou provável efeito benéfico. O por quê de uma substância inerte, uma assim chamada "pílula de açúcar," ou falsa cirurgia ou terapia fazerem efeito, não está completamente esclarecido.
A teoria psicológica: está tudo na sua cabeça
Muitos acreditam que o efeito placebo seja psicológico, devido a um efeito real causado pela crença ou por uma ilusão subjetiva. Se eu acreditar que a pílula ajuda, ela vai ajudar. Ou a minha condição física não muda, mas eu sinto que ela mudou. Por exemplo, Irving Kirsch, um psicólogo da Universidade de Connecticut, acredita que a eficácia do Prozac e drogas similares pode ser atribuída quase que inteiramente ao efeito placebo.
Em um estudo publicado [em junho de 1999], Kirsch e... Guy Sapirstein... analisaram 19 testes clínicos de antidepressivos e concluíram que a expectativa de melhora, e não ajustes na química do cérebro, foram responsáveis por 75 por cento da eficácia das drogas.*
"O fator crítico," afirma Kirsch, "são nossas crenças a respeito do que irá acontecer conosco. Você não precisa confiar nas drogas para ver uma profunda transformação." Em um estudo anterior, Sapirstein analisou 39 estudos, feitos entre 1974 e 1995, de pacientes depressivos tratados com drogas, psicoterapia, ou uma combinação de ambos. Ele descobriu que 50 por cento do efeito das drogas se deve à resposta placebo.
As crenças e esperanças de uma pessoa sobre um tratamento, combinadas com sua sugestibilidade, podem ter um efeito bioquímico significativo. Sabemos que a experiências sensoriais e pensamentos podem afetar a neuroquímica, e que o sistema neuroquímico do corpo afeta e é afetado por outros sistemas bioquímicos, inclusive o hormonal e o imunológico. Assim, há provavelmente uma boa dose de verdade na afirmação de que a atitude esperançosa e as crenças de uma pessoa são muito importantes para o seu bem estar físico e sua recuperação de lesões ou doenças.
Entretanto, pode ser que muito do efeito placebo não seja uma questão da mente controlando moléculas, mas sim controlando o comportamento. Uma parte do comportamento de uma pessoa "doente" é aprendida. Assim como o é parte do comportamento de uma pessoa que sente dor. Em resumo, há uma certa quantidade de representação de papéis pelas pessoas doentes ou feridas. Representação de papéis não é o mesmo que falsidade, é claro. Não estamos falando de fingimento. O comportamento de pessoas doentes ou com lesões tem bases, até certo ponto, sociais e culturais. O efeito placebo pode ser uma medida da alteração do comportamento, afetado por uma crença no tratamento. A mudança no comportamento inclui uma mudança na atitude, na qual uma pessoa diz como se sente, ou como esta pessoa age. Ela também pode afetar a química do corpo da pessoa.
A explicação psicológica parece ser aquela em que as pessoas mais acreditam. Talvez seja por isso que muitas pessoas fiquem consternadas quando são informadas de que a droga eficiente que estão tomando é um placebo. Isso a faz pensar que o problema está "todo em sua cabeça" e que não há nada realmente errado com elas. Além disso, há muitos estudos que descobriram melhoras objetivas na saúde com o uso de placebos para apoiar a noção de que o efeito placebo é inteiramente psicológico.
Médicos em um estudo eliminaram verrugas com sucesso, pintando-as com uma tinta colorida e inerte, e prometendo aos pacientes que as verrugas desapareceriam quando a cor se desgastasse. Em um estudo de asmáticos, pesquisadores descobriram que podiam produzir a dilatação das vias aéreas simplesmente dizendo às pessoas que elas estavam inalando um broncodilatador, mesmo quando não estavam. Pacientes sofrendo dores após a extração dos dentes sisos tiveram exatamente tanto alívio com uma falsa aplicação de ultrassom quanto com uma verdadeira, quando tanto o paciente quanto o terapeuta pensavam que a máquina estava ligada. Cinqüenta e dois por cento dos pacientes com colite tratados com placebos em 11 diferentes testes, relataram sentir-se melhor -- e 50 por cento dos intestinos inflamados realmente pareciam melhores quando avaliados com um sigmoidoscópio.*
Claramente, tais efeitos não são puramente psicológicos.
A teoria da natureza-seguindo-seu-curso
Alguns acreditam que pelo menos parte do efeito placebo se deve a uma doença ou lesão seguindo seu curso natural. Nós muitas vezes nos curamos com o tempo, mesmo se não fizermos nada para tratar uma doença ou lesão. O placebo é às vezes erroneamente considerado como eficaz quando, na verdade, o corpo está se curando espontaneamente.
Entretanto, curas espontâneas e remissão espontânea de doenças não podem explicar todas as curas ou melhoras que ocorrem devido a placebos, ou devido a medicamentos ou tratamentos ativos, por sinal. As pessoas a quem não é dado nenhum tratamento freqüentemente não se saem tão bem quanto aquelas a quem são dados placebos ou remédios e tratamento reais.
a teoria do processo-de-tratamento
Outra teoria que está ganhando popularidade é a de que um processo de tratamento que envolva atenção, cuidado, afeição, etc. para o paciente, um processo que seja encorajador e que alimente esperanças, pode por si só disparar reações físicas no corpo, que promovem a cura.
Certamente há dados que sugerem que o simples fato de estar em situação de tratamento consegue alguma coisa. Pacientes deprimidos que são puramente colocados em uma lista de espera por tratamento não se saem tão bem quanto aqueles a quem são dados placebos. E -- isto é muito sugestivo, eu acho -- quando os placebos são dados para controle da dor, o curso do alívio da dor segue o mesmo que se teria com uma droga ativa. O pico do alívio vem aproximadamente uma hora após eles serem administrados, assim como vem com a droga real, e assim por diante. Se a analgesia por placebo fosse o equivalente a não dar nada, seria de se esperar um padrão mais aleatório. (Dr. Walter A. Brown, psiquiatra, Brown University)
Dr. Brown e outros acreditam que o efeito placebo é principalmente ou puramente físico e se deve a mudanças físicas que promovem a cura ou o bem estar.
As mudanças físicas obviamente não são causadas pela substância inerte em si, então qual é o mecanismo que explicaria o efeito placebo? Alguns pensam que é o processo de administrá-lo. Pensa-se que o toque, o cuidado, a atenção e outras comunicações interpessoais que fazem parte do processo do estudo controlado (ou das característica terapêuticas), além da esperança e encorajamento dados pelo experimentador/terapeuta, afetam o humor da pessoa testada, que por sua vez dispara mudanças físicas, como a liberação de endorfinas. O processo reduz o stress por dar esperanças ou reduzir a incerteza sobre que tratamento adotar ou qual será o resultado. A redução no stress previne, ou desacelera a ocorrência de futuras mudanças físicas prejudiciais.
A hipótese do processo-de-tratamento explicaria como remédios homeopáticos inertes e as terapias questionáveis de muitos dos praticantes da saúde "alternativa" são muitas vezes eficazes, ou tidos como eficazes. Ela explicaria também por quê pílulas ou procedimentos usados pela medicina tradicional funcionam, até que seja demonstrado que não possuem valor.
Há quarenta anos atrás, um jovem cardiologista de Seattle chamado Leonard Cobb, conduziu um teste singular de um procedimento então comumente usado para a angina, no qual os médicos faziam pequenas incisões no peito e atavam nós em duas artérias para tentar aumentar o fluxo do sangue para o coração. Era uma técnica popular -- 90 por cento dos pacientes relatavam melhoras -- mas quando Cobb a comparou com a cirurgia placebo, na qual se fazia incisões mas não atava as artérias, as operações falsas se mostravam igualmente bem sucedidas. O procedimento, conhecido como ligação mamária interna, foi logo abandonado.*
Se o efeito placebo é principalmente psicológico, ou cura espontânea mal interpretada, ou devido a um processo caracterizado por demonstrar cuidado e atenção, ou devido a alguma combinação dos três, pode não ser conhecido com completa confiança. Mas não há dúvidas sobre o poderoso efeito do placebo.
Eficácia do placebo
H. K. Beecher avaliou duas dúzias de estudos e calculou que aproximadamente um terço dos pacientes nos estudos melhorou devido ao efeito placebo ("The Powerful Placebo," O Poderoso Placebo, 1955). Outros estudos calculam que o efeito seja ainda maior do que afirmou Beecher. Por exemplo, estudos demonstraram que os placebos são eficazes em 50 a 60 por cento dos pacientes com determinadas condições, por exemplo, "dores, depressão, algumas indisposições cardíacas, úlceras gástricas e outras queixas estomacais."* E tão eficazes como as novas drogas psicotrópicas parecem ser, no tratamento de vários distúrbios mentais. Alguns pesquisadores sustentam que não há evidências adequadas a partir de estudos que provem que as novas drogas sejam mais eficazes que os placebos.
Os placebos já chegaram a ser mostrados causando efeitos colaterais desagradáveis. Existem até relatos de pessoas se tornando viciadas em placebos.
O dilema ético
O poder do efeito placebo levou a um dilema ético. Um médico não deve enganar as pessoas, mas deve aliviar a dor e sofrimento dos seus pacientes. Deveria alguém usar a enganação para o benefício de seus pacientes? Seria anti-ético para um médico conscientemente prescrever um placebo sem informar ao paciente? Se informar ao paciente reduz a eficácia do placebo, seria justificável algum tipo de mentira com o objetivo de beneficiá-lo? Alguns médicos acham justo usar o placebo nos casos em que foi demonstrado um forte efeito placebo, e onde o sofrimento é um fator agravante.* Outros acham que é sempre errado enganar o paciente, e que o consentimento informado exige que se conte ao paciente que o tratamento é um tratamento placebo. Outros, especialmente os praticantes da medicina "alternativa", nem sequer querem saber se um tratamento é um placebo ou não. Sua atitude é a de que, contanto que o tratamento seja eficaz, quem se importa se ele é um placebo?
Os placebos são perigosos?
Ao mesmo tempo em que os céticos talvez rejeitem a fé, a oração e as práticas médicas "alternativas" como bioharmônicos, quiroprática e homeopatia, estas práticas talvez não deixem de ter seus efeitos benéficos. Claramente, elas não curam o câncer ou reparam um pulmão perfurado, mas poderiam prolongar a vida ao dar esperanças e aliviar o sofrimento, e pela interação com o paciente em uma forma cuidadosa e atenciosa. No entanto, para aqueles que dizem "que diferença faz por que alguma coisa funciona, contanto que funcione" eu respondo que é provável que haja algo que funcione ainda melhor, algo para os outros dois terços ou metade da humanidade que, por uma razão qualquer, não podem ser curadas ou ajudadas por placebos. Além disso, placebos podem nem sempre ser benéficos ou inofensivos. Em acréscimo aos efeitos colaterais adversos, mencionados acima, John Dodes observa que
Pacientes podem se tornar dependentes de praticantes não científicos que empregam terapias de placebos. Tais pacientes podem ser levados a acreditar que estão sofrendo de uma hipoglicemia "reativa" imaginária, alergias ou micoses inexistentes, "intoxicação" por amálgama de restaurações dentais, ou que estão sob os poderes do Qi ou de extraterrestres. E os pacientes podem ser levados a acreditar que as doenças respondem somente a um tipo específico de tratamento feito por um praticante específico.*
Em outras palavras, o placebo pode ser uma porta aberta para o charlatanismo.
Para finalizar, a esperança dada por muitos praticantes "alternativos" é uma esperança falsa. É verdade que o tratamento cuidadoso e humano de uma pessoa que está morrendo pode prolongar a sua vida e pode melhorar a qualidade do que restar de vida para o paciente. Mas dar aos pais esperanças de que sua garotinha com um tumor no cérebro "poderia" responder ao tratamento com antineoplastos, sobreviver e crescer para se tornar uma adolescente e adulta saudável, quando se sabe que a probabilidade disto acontecer é praticamente zero, parece cruel e desumano. A atenção e o tratamento constante poderiam ajudar a criança a viver e sofrer por mais tempo, e os pais poderiam ficar eternamente gratos pelo tempo extra que tiveram com sua criança amada, mas no fim das contas estes tratamentos são como um abuso dos indefesos.
Por outro lado, se um adulto que está morrendo de alguma coisa como câncer pancreático, e não recebeu nenhuma esperança de recuperação por parte dos praticantes da medicina tradicional, quisesse tratar-se com antineoplastos em um procedimento clínico onde a esperança e o cuidado são mais abundantes que o sucesso ou o conhecimento, pareceria cruel e desumano negar-lhe isso. Nós não temos nenhuma obrigação de oferecer tal tratamento, mas se ele estiver disponível e o paciente puder pagar por ele, será que é da nossa conta interferir? Podemos achar que este homem é tolo e está apenas desperdiçando seu dinheiro porque está desesperado. Podemos achar que aqueles que fornecem tais tratamentos questionáveis são charlatães e estão cruelmente enchendo as pessoas com falsas esperanças. Podemos achar que não é nada além do efeito placebo que é responsável pelo apoio do paciente a continuar o tratamento. Mas até que possa ser demonstrado sem sombra de dúvidas que o tratamento é fraudulento, potencialmente prejudicial ou completamente e absolutamente inútil, será que temos o direito de evitar que ele seja fornecido?
Nas segundas, quartas e sextas eu digo "sim". Nas terças, quintas e sábados eu digo "não". Nos domingos eu digo "eu não sei".
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