Sabemos que a ação delituosa, nas suas mais variadas modalidades, assusta a sociedade, que, na maioria das vezes, sem enxergar uma saída positiva para a manutenção da paz social, envereda por caminhos violentos, sugerindo, muitas vezes, a punição capital, ou seja, a morte como meio de superar esse problema.
A vida, esse bem inefável, dom do Criador de todas as coisas, é alvo constante de violência.
Na realidade, a epidemia de insegurança que nos assola é fruto da lamentável condição em que se encontra o Brasil. A violência é resultado da miséria social e moral que grassa em nossa terra. Enquanto somos pressionados a pagar uma dívida econômica contraída nos bancos internacionais e já saldada moralmente através do pagamento de juros astronômicos, nossas crianças nascem, crescem e morrem nas ruas. Enquanto uma parte da nossa classe dominante, rica, injusta e egoísta, mora em luxuosas mansões, trafega em carros importados, navega em suntuosos iates; enquanto políticos desonestos se locupletam com mensalões e mensalinhos, transferem fraudulentamente o produto da pilhagem para “paraísos fiscais”, ou em malas e cuecas, o dinheiro sujo subtraído do erário através de negociatas, pouco se importando com a grave desintegração social que se verifica no País.
Segundo dados do IBGE, 15,4das crianças brasileiras, com menos de cinco anos, sofrem de desnutrição crônica, quando a taxa considerada normal pela Organização mundial de Saúde (OMS) é de 3 No Nordeste, 27,3dessas crianças são desnutridas, convivendo com a fome desumana.
Os dados a respeito da nossa Pátria são assustadores. 67dos brasileiros não atingiram os níveis mínimos de consumo alimentar recomendados.
A taxa de morte na infância (64 óbitos por mil nascimentos) só é inferior, na América latina, aos de Honduras e Bolívia.
30da população de crianças e adolescentes (0 a 17 anos) vivem na pobreza absoluta. Diversos exemplos de dificuldades levam dor e drama à diversas cidades brasileiras.
As causas primárias da criminalidade se encontram numa sociedade egoísta, desumana e cruel, em que se exaltam os valores mundanos em detrimento do espírito, do altruísmo, da solidariedade, da liberdade, da igualdade e da fraternidade.
Portanto, a pobreza é resultante do amor excessivo ao bem próprio dos que muito possuem, sem consideração aos interesses alheios. Estes em grande maioria, à guisa de amontoarem bens em abundância, alimentam chagas sociais, desestimulam os programas de melhoria sócio-econômica e cultural, como também exploram o semelhante visando proveito pessoal.
Desde cedo tivemos em nossos pais e familiares na escola, no exército e na Ordem, guias que souberam nos ensinar a servir, respeitar e procurar a cada minuto de nossa vida travar uma batalha apoiados no bem e combatendo o mal, para transformar o mundo em algo cada dia melhor.
Tudo nos foi ensinado, colocando-nos numa situação privilegiada para analisar o tema com bastante propriedade. Que mágoa sentimos quando lemos ou ouvimos afirmações desconexas de homens que deveriam aproveitar sua inteligência para combater aquilo que é contrário à formação do ser humano.
Somos brasileiros e acostumados a conviver com crianças que nascem, crescem e sobrevivem no seio de famílias desajustadas, onde elas são espezinhadas, maltratadas, mal-alimentadas e esquecidas pela maioria da população, conhecendo ao longo do seu desenvolvimento a tristeza, a amargura, a fome, vivendo promiscuamente, muitas vezes dentro de um lar, onde pai, trabalhador desempregado, torna-se alcoólatra, e as mães que no afã de buscar sustento para os filhos abandonam as crianças em suas casas e sujeitam-se a exercer o subemprego. Estas humilhadas e maltratadas crianças crescem e, quando começam a falar e ter algum entendimento da vida, saem para as ruas, a fim de pedir esmolas.
Muitas, quando chegam à idade escolar, buscam a escola pela famigerada merenda que lá é oferecida, e não por causa do estudo. E, no entanto, são crianças com os mesmos direitos que qualquer outra. Ontem eram crianças carentes, que curtiram amargamente sua infância e adolescência, hoje são marginais e delinqüentes revoltados que passam fazer valer seus direitos através da violência, querem arrancar de qualquer maneira aquilo que lhes estão negando.
Quando atingem a maioridade, continuam seus crimes e violência, até que encontram a truculência do Estado, através da Justiça dos homens, sendo julgados, condenados e jogados em celas podres, sujas e inabitáveis. Nosso sistema penitenciário não recupera, armazena presos, seres humanos que a vida transformou em monstros e que são enjaulados como animais.
Devíamos lutar contra a impunidade dos ricos, dos sonegadores, dos corruptos, acabando de vez com o crime do “colarinho branco”, pois eles sabem o mal que fazem. Precisamos dar saúde, educação e alimentação para as crianças carentes.
E assim, analisando a situação social do Brasil de hoje, diante dos quadros pesarosos que nos oferece atualmente a criminalidade, concluímos a necessidade urgente do aprimoramento da sociedade humana para que se afinem com as Leis Divinas, seguindo o seu fluxo enobrecedor, laborando o aperfeiçoamento social em cada uma de suas etapas pedagógicas e orientadoras.
E diante dos males que hoje assustam, com a sua violência, a sociedade de nossos dias, deve buscar a necessária inspiração para que todas as criaturas possam conviver fraternalmente, numa sociedade justa, na qual os benefícios do trabalho, do desenvolvimento e do progresso constante possam ser repartidos eqüitativamente.
Desse modo, amparadas por um projeto social de convivência fraterna, alicerçada em profundas bases educadoras, que as criaturas humanas, visualizadas como homens e almas, possam ter a necessária oportunidade de, passo a passo, atingir o fim essencial para o qual fomos criados: o Bem.
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