domingo, 20 de abril de 2014

Brasil é 11º país mais mortal para jornalistas

 
Jornalistas em homenagem a Santiago Andrade (AP)
Jornalistas em homenagem a Santiago Andrade, morto durante cobertura de protestos
O cinegrafista Santiago Andrade, de 49 anos, registrava um confronto entre policiais e manifestantes em um protesto no Rio de Janeiro em fevereiro deste ano quando foi atingido na cabeça por um explosivo.
Ele foi levado para o hospital, mas não resistiu aos ferimentos.
 
A morte de Andrade durante o exercício de sua profissão contribuiu para um triste índice brasileiro: O país é atualmente o 11º país mais perigoso do mundo para se exercer o jornalismo, segundo o "Índice de Impunidade", Clique publicado anualmente pelo Comitê de Proteção a Jornalistas.
A maioria dos jornalistas mortos trabalhava para veículos impressos (48%) e cobria casos de corrupção (59%). Todos eram homens.
A organização sem fins lucrativos monitora a violência contra esses profissionais por meio de seu ranking anual publicado desde 2008.

Represália

Entre 1994 e 2014, foram contabilizadas 29 mortes de jornalistas brasileiros. Eles morreram por ações de represália a seu trabalho ou em situações de combate ou conflito.
Em outros nove casos, o motivo da morte não pôde ser determinado e, por isso, eles não foram contabilizados no índice.
Em 93% das mortes registradas, os jornalistas foram assassinados.
Autoridades do governo foram consideradas responsáveis pelos disparos de armas de fogo em 56% das mortes. Os tiros partiram de criminosos em 33% dos casos.

Os dez países mais perigosos para jornalistas

  1. Iraque: 164 mortes
  2. Filipinas: 76 mortes
  3. Síria: 63 mortes
  4. Algéria: 60 mortes
  5. Rússia: 56 mortes
  6. Paquistão: 54 mortes
  7. Somália: 52 mortes
  8. Colômbia: 45 mortes
  9. Índia: 32 mortes
  10. México: 30 mortes
* Entre 1992 e 2014

Fonte: CPJ
A taxa brasileira foi a terceira mais alta da América Latina, onde a Colômbia é líder, com 45 mortes, seguida pelo México, com 30.

Líderes

O Iraque é de longe o país com mais mortes no ranking do comitê, num total de 164. Num distante segundo lugar estão as Filipinas, com 76 mortes. A Síria vem logo atrás, com 63.
"Esse índice mede como os países lidam com a violência contra a imprensa", afirmou o comitê no anúncio dos resultados atualizados de 2014. "No Iraque, uma centena de jornalistas foi morta na última década e ninguém foi punido."
No caso do Brasil, 70% das mortes seguem impunes, enquanto em 19% dos casos os culpados foram punidos parcialmente. O comitê avaliou que somente em 15% das mortes a justiça se fez por completo.
Por enquanto, o caso de Andrade continua em andamento. Fábio Raposo Barbosa e Caio Silva de Souza, acusados pelo Ministério Público de provocar a morte do cinegrafista, estão presos no Complexo Penitenciário de Jericinó, em Bangu, na Zona Oeste do Rio, enquanto aguardam julgamento.

Greves: O Brasil pode parar durante a Copa

 
Força Nacional na Bahia. AFP
A greve dos policiais da Bahia é apenas uma das paralisações no período pré-Copa
Diante de uma série de assembleias e ameaças de paralisação, marchas por reajustes e trabalhadores de setores importantes já de braços cruzados, a proximidade do torneio da Fifa e exemplos de eventos em outros países levantam a questão: As greves podem parar o Brasil durante a Copa?
Para especialistas ouvidos pela BBC Brasil o momento atual é propício ao surgimento de mais movimentos de paralisação em todo o país, devido a um “coquetel explosivo” que inclui perdas salariais, cenário econômico desfavorável, o estímulo da ida às ruas, a Copa do Mundo dentro de dois meses e a realização de eleições presidenciais em seis meses.
Mas eles acreditam que acordos com trabalhadores e servidores de segmentos cruciais como transportes e segurança devem impedir um travamento total do país durante o megaevento – cenário considerado como um “exagero”.
“O Brasil está num momento econômico delicado, mas permanecemos num discurso de crescimento e desenvolvimento, e estamos sediando grandes eventos internacionais. É natural que os trabalhadores queiram uma parte disso. Estamos em ano eleitoral, há tensões inflacionárias e houve perdas salariais, então é natural que haja toda essa movimentação”, acredita Adílson Marques Gennari, professor de Ciências Econômicas da Unesp.
“A Copa não criou essa conjuntura econômica. Acho um exagero dizer que haverá um levante total dos trabalhadores para bloquear a realização da Copa. Agora é claro que é um combustível, um ingrediente que potencializou tudo isso”, acrescenta.

Reta final

Nas Olimpíadas de Londres, em 2012, os motoristas de ônibus da capital britânica entraram em greve pouco antes da abertura dos Jogos, até conseguirem um bônus pelo trabalho extra durante o evento. Já na Copa da África do Sul, em 2010, milhares de trabalhadores dos mais variados setores interromperam suas atividades antes e durante o torneio, e muitos fizeram críticas pelos baixos salários e más condições dos contratos temporários.
O país africano não “parou”, mas houve tumulto e a necessidade de soluções emergenciais em mais de uma ocasião. No jogo entre Itália e Paraguai, por exemplo, no dia 10 de junho, na Cidade do Cabo, os “stewards”, vigilantes que deveriam fazer a segurança do estádio, cruzaram os braços e protestaram, e mais de mil cadetes policiais em treinamento foram enviados ao local para substituí-los.
No Brasil, o que se vê nesta reta final para a Copa em diferentes pontos do país é uma onda de greves e discussões sobre o uso de diferentes estratégias para aumentar a pressão sobre empresas e o governo. Há setores já paralisados, há os que fazem ameaças e ainda os que deram início a interrupções intermitentes, sinalizando que uma falta de acordo incorrerá em paralisação indeterminada após o torneio.
Em Brasília, os metroviários estão paralisados desde o dia 4; em Salvador, a Polícia Militar interrompeu o trabalho na última terça-feira; e na semana passada mais de 9 mil trabalhadores saíram em marcha no centro de São Paulo demandando redução da jornada de trabalho, melhorias e reajustes.

Oportunismo x demandas

As centrais sindicais negam “oportunismo” com a Copa e explicam que diversas categorias têm suas datas-base (período de vencimento das convenções coletivas, quando os aumentos anuais são negociados) nos próximos meses, o que aumenta a probabilidade de greves.
Entre elas estão trabalhadores dos setores de gastronomia, hotelaria e turismo, construção, vigilantes, além de vários ligados ao transporte (metroviários, rodoviários, aeroviários, aeronautas, motoristas e cobradores de ônibus, taxistas e motoboys).
Greve no Rio
Centrais sindicais negam “oportunismo” e alegam ter suas datas-base nesse período
“A greve não é um aproveitamento da situação. Trata-se de um instrumento para ser usado em última instância. Muitos vêm negociando há algum tempo”, diz Mauro Ramos, da UGT (União Geral dos Trabalhadores), que reúne 623 sindicatos e mais de 5 milhões de trabalhadores em todo o país.
Para Alci Araújo, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Comércio e Serviços da CUT (Central Única dos Trabalhadores), o objetivo não é atingir a Copa.
“As mobilzações podem ocorrer, sim, se os direitos forem desrespeitados. Não queremos atrapalhar o desenvolvimento do país, não somos baderneiros, e não estamos movimentando nenhum processo para prejudicar a Copa. Queremos que nossas demandas sejam atendidas, e que o legado inclua melhores condições de trabalho para o nosso setor”, diz.
Pedro Trengrouse, professor da FGV e consultor da ONU/PNUD para a Copa, diz que “existe realmente um componente de oportunismo, sim, mas que não é determinante, porque cada greve e protesto têm suas peculiaridades e intensidades diferentes”.

Setores cruciais

Elementos-chave para a Copa, quatro categorias também se posicionaram nos últimos dias. A Polícia Federal vai interromper o trabalho por 24 horas no dia 23 de abril, e adianta que pode parar 70% de seu efetivo em todo o território nacional durante o evento; os aeroviários e aeronautas estudam paralisações nos aeroportos de todo o país e os vigilantes tiveram reunião com a Fifa, em Brasília, na terça-feira, para exigir melhores condições e salários maiores.
No Rio, o sindicato dos vigilantes se antecipou e fez reunião na segunda-feira. Foram anunciadas “paralisações relâmpago” no Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), no Aeroporto Santos Dumont e no Maracanã entre os dias 16 e 23 deste mês. Além disso, bancos, shopping centers e postos de saúde também poderão ficar sem segurança.
O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Jones Borges Leal, explica que a categoria deve entrar em greve às vésperas da Copa, mas que 30% do pessoal seguirá trabalhando, sobretudo os agentes de controle de passaporte nos terminais aéreos internacionais.
“Na verdade os aeroportos já funcionam hoje com efetivo irrisório. Não é a intenção fazer isso (interromper totalmente o serviço). Já fomos 15 mil e hoje somos apenas 10 mil policiais federais em todo o país”, explica, acrescentando que os servidores estão há sete anos sem aumento salarial.
Já o vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários, Marcos José Moraes, diz que a perspectiva é de 99% de chances de greve. “Já reduzimos nossa demanda de 12% de reajuste salarial para 8%, mas as empresas só querem dar a recuperação do IPC, de 5,6%”, diz.
Ele adianta que um aeroporto fica impossibilitado de operar sem os aeroviários, responsáveis pelo check-in, bagagens e movimentação de aeronaves em solo.
Os aeronautas (comissários de bordo, comandantes, copilotos e engenheiros de voo) também já se mobilizam. Na quinta-feira, os funcionários da TAM se reuniram em quatro cidades (São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Rio de Janeiro), para estudar demandas e possibilidade de greve. Só na capital paulista mais de mil tripulantes aderiram ao movimento.

Sangue Artificial deve começar a ser testado em humanos até 2016


 

Banco de sangue | Crédito: BBC
Consórcio de universidades e órgãos do governo britânico está por trás de iniciativa, que poderá elevar estoque para transfusões
Cientistas britânicos querem começar a testar sangue artificial pela primeira vez em humanos nos próximos três anos.
Eles planejam iniciar a primeira fase de testes com voluntários no final de 2016 ou no início de 2017.
 
Por trás da iniciativa está um consórcio de universidades e órgãos do governo do Reino Unido que já vem produzindo células sanguíneas a partir de células-tronco.
As células-tronco são aquelas capazes de se transformar em qualquer outra célula do corpo humano. Muitos estudiosos apostam nelas como a chave para a cura de inúmeras doenças.
Cultivadas em laboratório, as células sanguíneas poderiam ser, assim, usadas para transfusões, evitando uma série de problemas comumente observados nesse processo, como o risco de transmissão de infecções, a incompatibilidade com o sistema imunológico do receptor e a possibilidade de excesso de ferro no sangue do doador.
Além disso, se for bem sucedido, o projeto permitirá aumentar a oferta de sangue disponível para transfusões.
Muitos países do mundo, como o Brasil, sofrem com o estoque dos bancos de sangue, que, alimentados por doações públicas, são insuficientes para atender a crescente demanda pelo material.
Segundo os envolvidos na pesquisa, o uso de células sanguíneas cultivadas em laboratório também apresentaria uma vantagem clínica em relação ao sangue colhido de doadores.
Isso porque, de acordo com os cientistas, as células produzidas artificialmente são mais novas e têm maior longevidade.
"Produzir uma terapia celular que leve em conta a escala, a qualidade e a segurança exigidas para testes clínicos em humanos é um desafio muito grande. Mas se tivermos êxito, poderemos garantir a populações de diferentes países o benefício dessas transfusões de sangue", afirmou Marc Turner, professor da Universidade de Edimburgo, na Escócia, e responsável pelo projeto.
"Os testes que faremos também fornecerão informação de valor a outros pesquisadores no desenvolvimento de terapias celulares", acrescentou.

Técnica

Turner e sua equipe usaram uma técnica que cria células do sangue a partir de células-tronco pluripotentes induzidas, também conhecidas como células iPS ou iPSCs.
Por esse artíficio, as células doadoras são isoladas e cultivadas. Posteriormente, transferem-se para elas os genes das células-tronco associadas por meio de vetores virais.
Ao final do processo, as células-tronco pluripotentes induzidas são estimuladas por uma substância química para se transformar em células do sangue do tipo O, raro e universal.
Segundo Turner, é provável que os testes sejam feitos em três pacientes com talassemia, uma doença que acomete o sangue e exige transfusões contínuas.
O comportamento das células sanguíneas produzidas artificialmente será monitorado durante os testes, acrescentou o pesquisador.
Ele, no entanto, ressalva que ainda há um longo caminho a percorrer para produzir sangue artificial em escala "industrial".
Atualmente, o custo para uma única transfusão de sangue é de 120 libras no Reino Unido, ou R$ 360.
Para Turner, se os testes forem eficazes, esses custos poderão ser reduzidos substancialmente no futuro.