segunda-feira, 22 de abril de 2013

Brasil precisa de 6 milhões de profissionais estrangeiros


Brasil precisa de 6 milhões de profissionais estrangeiros, diz SAE
Atualizado em  22 de abril, 2013 - 08:01 (Brasília) 11:01 GMT


Médicos reunidos no Senado para debate no início de abril | Foto: Antonio Cruz/ABr
Governo já estuda a importação de médicos estrangeiros, mas sindicato discorda
Uma nova estratégia de "atração de cérebros" poderá trazer cerca de 6 milhões de profissionais estrangeiros para o Brasil nos próximos anos, segundo a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) do governo.
Com o auxílio de grupos de especialistas e consultorias de mercado, a secretaria quer desenvolver uma política de atração de profissionais - o número, no entanto, não inclui imigrantes de baixa qualificação e, sim, profissionais altamente qualificados que possam atender a demanda atual da economia brasileira.
Neri afirmou que a estimativa de 6 milhões foi feita depois de levantamentos de uma comissão de especialistas e de pesquisas com as empresas e o público em geral.
Segundo Neri, o Brasil é um dos países com a menor proporção de imigrantes na população, o que reflete "um fechamento do país ao fluxo de pessoas". Os estrangeiros representam hoje 0,2% da população. Com a adição de seis milhões nos próximos anos, este percentual subiria para cerca de 3%.
Para Neri, esse "fechamento" deve ser revertido para responder à demanda crescente por profissionais altamente qualificados, especialmente na áreas de engenharia e saúde.
Mas sindicatos nacionais temem que trazer mão de obra de fora prejudique a força de trabalho doméstica – que, de acordo com eles, é suficiente em termos numéricos, mas precisa de valorização e melhor qualificação.
Neri afirma que a nova estratégia "leva em conta a necessidade atual de mão de obra qualificada, mas mantém o cuidado com o trabalhador brasileiro".
"Não é uma abertura de porteira. Trazer profissionais altamente qualificados cria associações mais fortes, cria mais massa crítica, se aprende muito com outros profissionais."

'Apagão de mão de obra'

A expressão "apagão de mão de obra" é usada com frequência por analistas de mercado nos últimos anos para se referir a uma suposta escassez de profissionais altamente qualificados no Brasil.

Visto rápido e mais seleção

A estratégia mais bem cotada pela SAE para atrair profissionais para o Brasil é a adoção do sistema de pontos, utilizado por países como Austrália, Canadá e Grã-Bretanha.

O sistema confere quantidades diferentes de pontos às respostas do potencial imigrante em um questionário.

André Luiz Sacconato, analista da Brain, diz que o sistema pode ser uma opção beneficie empresas e proteja o trabalhador brasileiro de uma “invasão” de profissionais.

“Ele limita a entrada ao que se precisa, já que você pode dar poucos pontos para determinadas profissões, idades ou experiências que não são desejadas pelo país”, defende.

O ministro Marcelo Neri diz que a SAE não cogita criar uma lista de profissionais em demanda, que também é utilizado por estes países juntamente com o sistema de pontos.

Atualmente, os vistos de trabalho para o Brasil são vinculados à contratação por uma empresa no país. Em 2012, mais de 73 mil vistos foram emitidos.

Agilizar o processo de obtenção do visto é um dos pilares da estratégia da SAE. De acordo com a Brain, o processo brasileiro requer 19 documentos diferentes – são 8 no Canadá, 12 na Grã-Bretanha e 13 na Austrália.

A espera para a emissão do visto brasileiro também é uma das maiores – são 45 dias em média, contra 15 dias na Grã-Bretanha e 21 dias na Austrália.
De acordo com a Pesquisa de Escassez de Talentos 2012 da consultoria internacional Manpower Group, o Brasil é o segundo país do mundo em dificuldade para preencher vagas, atrás apenas do Japão. A falta de candidatos disponíveis e a falta de especialização são apontadas por empresários como as duas principais razões do problema.
Mas, em 2011, um estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) negou a existência de um "apagão" no topo da pirâmide de profissionais brasileiros.
"O verdadeiro apagão de mão de obra está na base, na mão de obra pouco qualificada, que é onde os salários estão subindo mais", diz o ministro Marcelo Neri, que é também o presidente do Ipea.
O ministro, no entanto, afirma que nos últimos anos algumas áreas de especialidade começaram a dar sinais de que a oferta de profissionais domésticos não seria suficiente para atender ao mercado em crescimento do país.
"(Entre os profissionais qualificados) você não tem um apagão completo, mas você tem áreas mais sombreadas do que outras. O fato é que o mercado de trabalho em 2012 e 2013 se aproxima do que se pode chamar de um apagão. A luz ficou mais fraca."
Um levantamento da Brasil Investimentos e Negócios (Brain) - consultoria que realiza pesquisas sobre a inserção do Brasil no mercado internacional e colabora com a SAE - afirma que medicina, engenharia civil, engenharia química e arquitetura são éreas em que o país precisa de mais profissionais do que os disponíveis.
"Independentemente da política realizada para a educação, não vamos ter resultados imediados. O resultado de políticas públicas acontece em duas ou três gerações", diz André Luiz Sacconato, analista da Brain.
Porto de Natal | Foto: ME
Obras de infraestrutura já trazem profissionais estrangeiros ao Brasil
"Existe um buraco entre os resultados de políticas e o que o Brasil necessita hoje. Os imigrantes viriam para suprir essa lacuna."
Outro benefício, de acordo com a Brain, são os empregos criados a partir da importação de profissionais. Cada profissional estrangeiro empregado no Brasil poderia gerar entre 1,3 e 4,6 empregos para brasileiros.
"Temos claramente obras paradas porque não tem engenheiro civil. Quando se coloca um engenheiro civil lá, se gera emprego para mestres de obras e outros. Isso é bom para a economia", afirma Sacconato. "É algo complicado, vai mexer com sindicatos e associações de classe. Mas não queremos tirar o emprego de ninguém, são empregos complementares."

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