segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Distúrbio de comportamento do adolescente

Um grupo de pesquisadores integrado por professores dos Programas de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Unisinos, Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e Saúde e Comportamento da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) verificou que relato de uso de armas por adolescentes com idades variando entre 15 e 18 anos ocorreu mais frequentemente entre jovens que não residiam sob o mesmo teto que seus pais e suas mães do que entre aqueles que moravam com pelo menos um deles.

O artigo, publicado na Revista de Saúde Pública (vol. 44-6), emergiu de um esforço conjunto, coordenado pelo professor Rogério Lessa Horta, do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Unisinos, reexaminando o banco de dados de um estudo de grande porte sobre saúde da população adolescente, realizado em 2002 no município de Pelotas – RS, então coordenado pelos professores Bernardo Lessa Horta (UFPel) e Ricardo Tavares Pinheiro (UCPel) e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul. Naquele ano, uma amostra representativa de todos os domicílios da área urbana da cidade foi visitada e 960 jovens de ambos os sexos foram entrevistados.

Os dados relativos à ocorrência de comportamentos violentos já chamavam a atenção dos pesquisadores e merecem destaque no planejamento de políticas de prevenção à violência. O envolvimento em brigas nos 12 meses que antecederam o estudo foi referido por 23% dos jovens e o uso de armas brancas ou de fogo foi citado por 9,6% dos entrevistados.

Por estarem numa faixa etária na qual os movimentos rumo à autonomia se tornam explícitos, mas os cuidados do grupo familiar ainda são essenciais, o papel das relações familiares despertou interesse. São comuns estudos sobre relações familiares que se preocupam com o fenômeno do divórcio e avaliam se indicadores de problemas de saúde ou comportamentos de risco ocorrem mais entre crianças e jovens que vivem apenas com seus pais ou suas mães, comparando-os com o grupo dos que convivem com ambos. O reexame dos dados, neste momento, não seguiu essa direção, mas esteve focado num fenômeno cada vez mais comum e cada vez mais precoce em nossa cultura: jovens que não vivem na mesma casa nem da mãe nem do pai. Os pesquisadores examinaram se haveria diferença entre o grupo de adolescentes que mora na mesma casa que seu pai ou sua mãe, não distinguindo se ambos ou apenas um deles, e os jovens que não coabitavam nem com pai nem com mãe.

Entre os jovens que não residiam nem com pai nem com mãe se verificou 68% mais chance de informarem ter portado armas no ano anterior às entrevistas. Isso indica que a coabitação parento-filial deve ser considerada em políticas de prevenção ao uso de armas por crianças e adolescentes.

Os pesquisadores destacam, porém, a recomendação de que o cuidado ampliado e o olhar mais dedicado a um grupo específico de adolescentes não contribuam para se estigmatizar crianças e adolescentes que não coabitam com pai e mãe. É importante lembrar que esses comportamentos foram referidos em todos os grupos e em proporções preocupantes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário