"Uma cidade que não tem memória é uma cidade sem alma. E a alma das cidades é sua própria razão de ser. É sua poesia, é seu encanto, é seu acervo. Quem nasce, quem mora, quem adota uma cidade para viver, precisa de história, das referências, dos recantos da cidade, para manter sua própria identidade, para afirmar sua individualidade, para fixar sua municipalidade”.
Rua Augusta
Debaixo do oitizeiro
O dia fica moreno
A um peito no cativeiro
O mundo inteiro é pequeno
Rua Augusta, rua acima
Porta da cidade ainda menina
Fizeste sol, fizeste lua
A beleza que acentua
O destino das fogueiras
Caravana e matilha
Me restou na partilha
Toda a solidão do mar
O meu olhar pela janela
Não viu mas os olhos dela (bis)
Rua do Comercio
Veste-se do tempo a Rua do Comércio
no sangue dos anônimos transeuntes
que ensombram sua dessimétrica passagem.
Na noite alta e silenciosa, a antiga rua
assobia os fantasmas perenes que gemem
no seu rosto multiforme de vertigens.
A Rua do Comercio é uma língua de serpente.
Quedam-se violados de vida os assassinados.
Rua Guedes Gondim
Por tudo não vê-los,
e com muita negação:
vizinhos e à cotovelos
à fofoca e à danação.
Pega o disse-me disse
mesmo a quem não ouvisse.
Ferem até as línguas
essas vidas mínguas.
Nova Rua
Nova de toda rua
agora a Guedes Gondim
trescala a flor do tempo.
Era outrora a Santa Maria
onde nas esquinas da rua
bêbados recobravam amores,
embriagadas saudades.
Do outro lado da rua,
margeando a linha férrea,
as prostitutas em frenesi
ante o mangue vendiam-se
peitos podres caindo a vida.
Prostitutas loucas
gozando o dinheiro:
cheiro das feridas.
Rua Descalça
Rua nua
Descalça,
Passo a passo
Mais passos, rápidos e lentos
Inverno e verão...
Sol e ventos.
Rua Descalça
Noturna, escura
Quebra o silêncio
Do ronco do rouco
Da insônia...
Do sonho da rua.
Rua nua
Sem calçada
Sem esgoto
Sem nada...
Com esperança e promessa
Com vergonha de ser nua
Rua do Sol
Rua do Sol, Rua do Sol, Rua do Sol, Maceió
Ainda ontem eu vim de lá... (Repete 4 vezes)
As Alagoas já foi cidade de praia
Lá na rua de Atalaia não podia se passar
Só se passava pisando caco de "vrido"
Com talão "arricibido" do guarda "municipá"
Rua do Sol, Rua do Sol, Rua do Sol Maceió
Ainda ontem eu vim de lá... (Repete 2 vezes)
Naquele tempo se considerava insulto
"Mulé" de vestido curto era face sem valia
Vinha pra rua da motiva falação
A fazer pape do cão, entre as moça de "famia"
Rua do Sol, Rua do Sol, Rua do Sol, Maceió
Ainda ontem eu vim de lá... (Repete 2 vezes)
Mas hoje em dia Maceió é coisa louca
Eu também vou nessa boca
Lá tem tudo de melhor
Pajuçara, Sururu água de coco
Descuidou-se fica louco
Não sai mais de Maceió
Rua do Sol, Rua do Sol, Rua do Sol, Maceió
Ainda ontem eu vim de lá... (Repete 2 vezes)
Eu quero agora é cair nessa arapuca
Meu amor é Jatiuca, Alagoas meu xodó
Eu já mereço ter a vida que preciso
Vou até no paraíso me mandar pra Maceió
Rua do Sol, Rua do Sol, Rua do Sol, Maceió
Ainda ontem eu vim de lá... (Repete 2 vezes)
Ainda ontem eu vim de lá
Ainda ontem eu vim de lá
A Praça é do Povo Sandoval Caju
A polícia foi à praça
Espancar os estudantes,
Reproduzindo a desgraça
Daqueles dias distantes
Dos tempos do Imperador !...
Lembram ? Castro Alves disse
Nos seus versos inflamantes,
Antes esse quadro de horror,
Que hoje se estampa de novo:
"A praça... a praça é do Povo
Como o céu é do Condor !...
Poeta da Abolição,
Ressuscita; vem de novo
Dizer que a praça é do Povo
Como e céu é do Condor !
Vem com tua vibração,
Poeta da Liberdade,
Liderar a mocidade;
Prepará-la à reação
Contra tamanha desgraça,
Conforme fazias dantes;
Ao tempo do Imperador !
Se a polícia vai a praça
Espancar os estudantes,
Vem poeta, vem de novo
Dizer que a praça é do Povo
Como o céu é do Condor ! ...
Rua do Comércio
Quem traçou, em meados do século XVIII, a futura Rua do Comércio ? Algum engenheiro, agrimensor, ou mesmo mestre de obras ou prático ?
Evidentemente, o traçado da artéria desta capital se deve as rodas dos carros de bois do engenho que possivelmente se chamava Massayó, os quais iam buscar, em Bebedouro, na Cambona do Machado, na Água Negra, canas para a moenda e lenha para a fornalha. Basta atentar para a irregularidade daquela via pública, que nenhum intendente ou prefeito pode consertar até os nossos dias, e muito dificilmente alguém fará, para nos convencermos foram os pesados veículos, puxados por bois lerdos e pacientes, tangidos por pobres trabalhadores de calças arregaçadas, camisas de pano ordinário, ferrão em punho e facão ao lado que traçaram a futura rua, a primeira do povoado como tudo indica, embora não haja certeza.
A rua, em 1837, ainda não era calçada, tanto que a Câmara Municipal solicitou, para o aluído fim, um auxilio ao governo provincial. Tal serviço só se faria 33 anos depois.
Em 1850 reclamava o Diário das Alagoas por ainda passarem carros de bois pela rua. Somente na segunda década deste século (XX) é que a Intendência proibiu o transito de tais veículos pela artéria. Naquele ano foi o calçamento contratado com o sr. José Antônio Mendonça, futuro Barão de Jaraguá.
Segundo o livro Maceió de Outrora do escritor Felix Lima Junior página 108 afirma que o nome oficial da Rua do Comercio, em 1897, era Rua Conselheiro Sinimbu, mantido ainda em 1902. Depois voltou a ser do Comercio. Em 1913 ou 1914 mudaram o nome para Rua Dr. Rocha Cavalcanti. é quase impossível precisar a data dessas mudanças, pois nem a Municipalidade, ao que consta, tem registro ao qual se possa recorrer. Depois da revolução de 1930, passou a ser novamente Rua do Comercio.
A lei municipal 167, de 3 de abril de 1923, proibiu construção de casas térreas na Rua do Comercio.
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