sexta-feira, 12 de outubro de 2012
Fotografias de fantasmas
Desde os primórdios da fotografia muitos crentes têm tratado de respaldar a existência da vida após a morte com fotos de fantasmas. Usando truques engenhosos – alguns nem tanto – criam imagens que podem parecer muito surpreendentes a pessoas sem conhecimento apropriado destes métodos. Em detrimento da suposta autenticidade das fotografias de fantasmas está a facilidade de sua realização e também suas características, que são inconsistentes com as que uma pessoa poderia esperar ao fotografar um espírito desencarnado.
Tipicamente fotos trucadas podem ser descobertas através de erros em sua realização e pelos "testemunhos" que as acompanham. Neste artigo descreveremos quais são as técnicas mais freqüentes para trucar este tipo de fotos com o propósito de poder emitir um juízo crítico a este respeito. Mas, antes disto, faremos alguns comentários gerais sobre o que mostram as fotos de fantasma típicas.
Radiação eletromagnética brincalhona
Um primeiro ponto que deve ser considerado se refere às histórias que acompanham as fotos: assegura-se que nenhuma das testemunhas viu qualquer coisa no momento de tomar a fotografia. Afirma-se que só depois da revelação do filme aparece uma imagem, uma sombra, um corpo parcial, uma luz, um ser translúcido, um borrão, ou qualquer anomalia que remete a uma manifestação sobrenatural. O que nos faria suspeitar imediatamente deste tipo de relatos é a sua incoerência com as leis naturais da física. E neste caso, nós não podemos justificar isto com a resposta simplista de que "os fantasmas não são governados pelas leis da física porque pertencem a planos superiores". De maneira alguma! As fotografias são suspeitas por causa do comportamento impossível da luz que a máquina fotográfica captura.
Os pigmentos dos filmes fotográficos são substâncias químicas sensíveis à luz. Tipicamente haletos e brometos de prata, ao receberem luz, mudam sua configuração química, alterando suas características óticas. O que a máquina fotográfica faz é focalizar a luz que adentra a câmera no filme fotográfico. Para isto se utiliza o sistema de lentes. Se o filme é impressionado com a imagem de um fantasma isto quer dizer que havia fótons de luz fantasmagórica que foram recebidos pela câmera. Mas isto acusa imediatamente a falsidade do testemunho. Se uma parte dos fótons foi suficiente para impressionar o filme fotográfico, deveria necessariamente ter impressionado o olho das testemunhas, uma vez que o olho humano é muito mais sensível que os filmes fotográficos comuns. Isto é evidente a qualquer pessoa, porque em muitas situações em que podemos ver sem qualquer problema, é necessário um flash para que o filme registre a imagem: temos mais sensibilidade à luz que um filme fotográfico.
Surge assim uma impossibilidade física: haveriam fótons captados pela máquina fotográfica mas não captados pelo olho. Isto contraria tudo que conhecemos sobre o comportamento da luz. E note-se que nós não estamos falando das propriedades do fantasma: estamos nos referindo exclusivamente às propriedades da radiação luminosa. Uma radiação assim seria uma luz inteligente, brincalhona, que tomaria direções, evitando os olhos das testemunhas, para entrar diretamente pela lente da câmera. Isto é tão absurdo que o relato de testemunhas que não vêem nada até que se revela a foto é uma indicação direta de fraude fotográfica.
Um segundo ponto a considerar é o da tremenda disparidade nas manifestações espectrais que supostamente são capturadas pela câmera. De seres humanos completamente nítidos e com aparência sólida, até traços estranhos de luz, passando por figuras humanas incompletas, seres translúcidos, figuras nebulosas, brilhantes, etc.. Afirma-se que todos estes tipos de imagens representam as aparições de espíritos desencarnados do além.
É inconcebível que as imagens de um mesmo fenômeno (espíritos), capturados por um mesmo tipo de dispositivo (filme sensível com base em haletos e brometos de prata, usando sistemas de lentes), possa exibir semelhante disparidade de manifestações. Todos estes tipos diferentes de fantasmas trazem à mente a exibição de espécimes variados em um museu.
Poderia-se alegar que alguns destes documentos fotográficos representam fases diversas de aparições fantasmagóricas, mas frente a isto se pode argumentar o seguinte: as fotos que mostram seqüências fantasmagóricas, com nuvens difusas que se compactam para formar figuras nítidas, são claramente fraudes desacreditadas inclusive pelas associações parapsicológicas. A figura final acaba sendo tão semelhante a um recorte de papel que a hipótese dessas "fases" não é muito apoiada por elas. Por outro lado, têm-se supostos testemunhos de fantasmas que não mudam de forma durante o tempo que dura o suposto fenômeno, e eles apresentam a mesma disparidade de aspecto.
A alta variabilidade nas imagens aponta mais à capacidade humana de realizar fraudes que à unicidade de um mesmo fenômeno.
Fantasmas pudicos
Um último aspecto que gera curiosidade em alguém com espírito crítico é o pudor ou o puritanismo destes espíritos. Um provérbio popular é bastante sábio: "nada trazemos a este mundo e dele nada se leva": se viemos nus em pêlo e o que se vai é o espírito, então este também deveria partir nu. Até onde sabemos, ninguém postula que as roupas têm "alma" e que a alma dos trajes vai fiel, tal qual um cachorro atrás de seu dono, até a outra vida. Então é muito suspeito que os primeiros fantasmas fotografados, justamente na era vitoriana, apareceram embrulhados em roupas espalhafatosas, típicas da época. Seria um escândalo social completo o oposto: que os fantasmas andassem por aí nus!… Não faltaria outra coisa! Que mau gosto!… Onde ficaria a educação das pessoas "decentes" quando morriam?
Desde então, praticamente todas as fotografias exibidas como provas dos fantasmas mostram seres com roupas da moda na época de sua suposta morte, ou vestem roupas típicas de sua vida. Alguns aparecem com um absurdo lençol com dois buracos na altura dos olhos… é triste a deterioração mental que estes indivíduos sofrem ao morrer, que os leva a perder o bom gosto em se vestir!… Outros espectros, geralmente as senhoras, aparecem com vestimentas vaporosas semelhantes às que se mostram nos contos de fadas… O caso é que de maneira alguma podem faltar ao bom gosto. Assim, todas estas imagens falham em algo que deveria ser óbvio: se o espectro fosse humano e aparecesse nitidamente, não deveria apresentar vestimentas; um fantasma assim deveria levantar suspeitas imediatamente. É claro que uma mente crédula não notará estes detalhes.
Facilidade de falsificação
Talvez o maior problema que confronta as supostas fotografias autênticas de fantasma é o modo tão fácil como podem ser criadas fotos trucadas que competem em qualidade com elas. Acabam sendo, no pior dos casos, indistinguíveis, e no melhor, muito mais convincentes que as que os crentes postulam como fotos autênticas.
Neste caso, a navalha de Occam oferece seu veredicto. Diante de duas explicações oferecidas, que são "as fotos são manifestações de espíritos"
e "as fotos foram habilmente trucadas", você escolhe sempre a hipótese que explique melhor as características do fenômeno. No caso de ambas explicações funcionarem igualmente bem, você escolhe a mais simples… Neste caso não é nem mesmo necessário passar à segunda fase. As fotos espectrais são explicadas muito melhor como fraudes que como aparições reais. Além disso, conhecido o número de fraudes neste campo, nenhuma evidência pode ser tomada como válida até que se descarte por completo qualquer tipo de falsificação. Afirmações extraordinárias requerem uma prova extraordinária.
Métodos tradicionais de falsificação
Chegando a este ponto podemos passar para explicar os métodos mais comuns para fabricar fotos de supostos fantasmas. Alguns estão baseados no uso de uma dupla exposição do filme, outros se valem de recortes de figuras de papelão, outras de ilusões óticas e, na atualidade, pelo enorme avanço dos computadores é feito uso dos programas modernos de manipulação digital de imagens. Veremos na continuação os métodos mais comuns.
1. Varrido
É alcançado deixando aberto o obturador da máquina fotográfica durante um tempo prolongado (vários segundos). Durante deve-se deixar estático o que se quer que apareça de forma natural, e em movimento o que se deseja que pareça fantasmagórico. De forma que o filme não "queime", o diafragma da máquina fotográfica deve ficar mais fechado que o habitual para uma dada sensibilidade da película.
Há dois exemplos de Varrido nas figuras 1 e 2. Na figura 1, o autor deste artigo aparece com camiseta branca. À direita inferior da foto aparece sua sombra (não confundir isto com o fantasma). Do lado esquerdo da imagem, e passando por detrás do autor, há uma figura fantasmagórica cinzenta que ergue uma mão sobre sua cabeça. Muitas fotografias de espectros se parecem bastante com esta.
Para realizá-la, abriu-se o obturador e o personagem de camiseta branca permaneceu estático; ao mesmo tempo Diego Cuartas, quem fez o papel de fantasma, se moveu em direção erguendo uma mão atrás da cabeça do de branco. Como o personagem que em movimento se desloca durante a tomada, há áreas da imagem que ocupam apenas um momento e que depois são expostas com a parede do fundo. Esta é a razão pela qual a figura fantasmagórica fica translúcida.
Embora estas fotos sejam as mais fáceis de trucar, não oferecem resultados muitos estéticos em geral. O método seguinte dá resultados muito mais bonitos.
2. Dupla exposição
Para tirar uma foto de dupla exposição, a forma mais simples é a seguinte: Primeiro se fixa a câmera fotográfica de forma que não se mova durante o processo. Se não for bem fixa, a imagem pode sair borrada. Então se prepara a cena que se fotografará. Quando estiver pronta, abre-se o obturador da máquina fotográfica durante um primeiro intervalo ao redor de um segundo.
Nas máquinas fotográficas normais, quando se fecha o obturador o filme avança para preparar uma nova tomada. Isto não é desejável, já que nós queremos impressionar o filme novamente, agora com o fantasma na mesma cena. Esta é a razão pela qual se usa um pano preto e opaco para cobrir a lente da máquina, sem fechar o obturador. Quando a lente estiver coberta pelo pano, o fantasma pode entrar na cena. Coloca-se o ator na posição adequada e a lente da máquina fotográfica é descoberta. Permite-se que a nova cena impressione o filme durante outro segundo e por fim, se fecha o obturador.
3. Ilusões óticas
Alega-se que algumas fotografias que mostram figuras humanas incompletas são de origem sobrenatural; geralmente faltam partes do inferior do corpo do suposto fantasma. Estas imagens podem ser tomadas tirando proveito de peculiaridades de perspectiva e de ilusões óticas. Por exemplo, a fotografia 6 mostra a metade superior do "espectro" do autor, passando atrás de uma árvore.
Fantasmas digitais
Embora os métodos tradicionais de trucagem de fantasmas sejam suficientes para obter resultados assombrosos e convincentes quando se utiliza uma atmosfera apropriada, hoje em se dispões de tecnologia abundante para alcançar efeitos tão ou mais impressionantes. O computador, junto com um bom software de manipulação de imagens permite fazer o mesmo tipo de fotos que se explicaram anteriormente.
1. Dupla exposição digital
Obtém-se fundindo um par de fotografias digitalmente com a mesma cena: uma que inclua o fantasma e outra que não. O grau de transparência de cada imagem é ajustado até alcançar um resultado convincente.
2. Retoque digital.
Pode-se utilizar o computador para fazer desaparecer partes do corpo de um indivíduo em uma tomada, com o propósito de lhe dar um caráter fantasmagórico.
As fotografias de fantasmas são muito fáceis de preparar. Não se requerido tecnologia muito avançada nem conhecimentos muito profundos. De métodos rústicos, até métodos digitais, a quantidade de truques a que se pode recorrer torna muito fácil o trabalho de dotar de um "respaldo fotográfico" o testemunho de qualquer brincalhão ou qualquer mitômano que queira ser o centro das atenções.
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