sexta-feira, 24 de agosto de 2012
Protocolo sobre mudanças climáticas
Assinado por 17 Academias de Ciências de todo o mundo, documento defende acordo sobre mudanças climáticas
Academias de Ciências de dezessete países divulgaram um documento de apoio ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), com o objetivo de ressaltar os compromissos presentes no Protocolo de Kyoto, quanto a redução da emissão de gases prejudiciais à camada de ozônio.
Aqui está a declaração conjunta, de iniciativa da Royal Society, da Inglaterra, endossada por 16 outras Academias de Ciências (Alemanha, Austrália, Bélgica, Brasil, Canadá, Caribe, China, França, Índia, Indonésia, Irlanda, Itália, Malásia, Nova Zelândia, Suécia e Turquia):
"O trabalho do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) representa o consenso da comunidade científica internacional sobre a ciência das mudanças climáticas. Reconhecemos o IPCC como a mais confiável fonte de informações acerca das mudanças globais e suas causas, e endossamos a sua metodologia para a obtenção deste consenso.
Apesar do crescente consenso sobre a ciência que embasa as previsões sobre as mudanças climáticas globais, foram recentemente expressas dúvidas a respeito da necessidade de mitigar-se os riscos impostos pelas mudanças climáticas globais. Não consideramos tais dúvidas justificáveis. Sempre haverá um grau de incerteza cercando as predições de mudanças em um sistema tão complexo como o clima global. Entretanto, endossamos as conclusões do IPCC, que atestam que é ao menos 90% certo que as temperaturas continuarão a subir, com a temperatura média global da superfície sendo projetada para aumentar entre 1,4 e 5,8ºC acima dos níveis de 1990, por volta de 2100.
Esta ampliação será acompanhada pelo aumento do nível dos mares, incremento da precipitação em alguns países, aumento do risco de secas em outros, e efeitos adversos sobre a agricultura, a saúde e as reservas de água. Em maio de 2000, no Painel Interacadêmico (IAP) reunido em Tóquio, 63 academias de ciências de todas as partes do mundo aprovaram uma declaração sobre sustentabilidade, em que era notado que "as tendências globais das mudanças climáticas... são preocupações constantes" e comprometeram-se a trabalhar pela sustentabilidade - atendendo as presentes demandas humanas ao mesmo tempo em que se preservam o meio ambiente e os recursos naturais necessários para as gerações futuras.
Agora é evidente que as atividades humanas contribuem adversamente para as mudanças climáticas globais. A manutenção dos atuais padrões não representa mais uma opção viável. Conclamamos a todos - indivíduos, empresas e governos - que ajam de forma rápida para reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa. Cento e oitenta e um governos participaram da Convenção sobre Mudanças Climáticas da ONU realizada em 1992, demonstrando um compromisso global para a "estabilização de concentrações atmosféricas seguras de gases causadores do efeito estufa".
Oitenta e quatro países assinaram o subseqüente protocolo de Kyoto em 1997, estabelecendo o compromisso dos países desenvolvidos com a redução em 5,2% de suas emissões agregadas anuais até o período de 2008 - 2012, tomando por base o ano de 1990. A ratificação deste protocolo representa um pequeno, mas essencial primeiro passo em direção à estabilização de concentrações atmosféricas de gases causadores do efeito estufa.
Isto ajudará a criar uma base sobre a qual se poderá construir um acordo eqüitativo entre todos os países desenvolvidos e em desenvolvimento para reduções mais substanciais que serão necessárias em meados do século. Muito pode ser feito presentemente para reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa, sem custos excessivos. Acreditamos que também existe a necessidade de um grande esforço de coordenação de pesquisa em ciência e tecnologia que embase estratégias de mitigação e adaptação relacionadas com mudanças climáticas.
Este esforço deve ser financiado principalmente por países desenvolvidos e deve envolver cientistas de todo o mundo. O balanço das evidências científicas demandam medidas efetivas imediatas, de forma que mudanças danosas ao clima terrestre sejam evitadas.
Aumenta o risco de extinção global
Uma das maiores pesquisas já realizadas sobre as condições de reservas naturais protegidas mostra que elas tem sido tão intensamente exploradas que o planeta enfrenta o mais grave risco de extinção global desde o desaparecimento dos dinossauros, há 65 milhões de anos.
Segundo o estudo, as estratégias de conservação falharam frente a pressão causada pelo crescimento populacional e expansão de áreas agrícolas. Cerca da metade das reservas naturais está sendo intensamente usada para a agricultura. Dez mil pesquisadores de 181 países analisaram as condições de 17 mil reservas naturais. O estudo foi realizado pelas ONGs União Mundial Para a Natureza (IUCN, na sigla em inglês), na Suíça e na Future Harvest, nos EUA.
As áreas estudadas, entre elas a Mata Atlântica brasileira, são consideradas os maiores tesouros naturais do planeta. Os cientistas disseram que encontrar uma forma de atender às necessidades da população e preservar a biodiversidade é um dos maiores desafios do século. "A fome se transformou numa inimiga da vida selvagem", disse a pesquisa. Os pesquisadores descobriram elevados índices de desnutrição da população que vive junto a 16 das 25 grandes áreas mundiais ricas em biodiversidade.
Se o ritmo atual de devastação continuar, 25% das espécies de plantas e animais, e metade das florestas poderão estar extintas ou seriamente ameaçadas até 2050. Os cientistas propuseram que a agricultura e a preservação do meio ambiente sejam unidas sob uma só bandeira, a da ecoagricultura. O estudo frisou que proibir invasões de nada adiantará. Muito mais eficácia teria incentivar a agricultura em outras áreas, com a ajuda de novas tecnologias.
A Mata Atlântica, da qual restam cerca de 7%, mereceu destaque. Segundo o estudo, mesmo o protegido mico-leão-dourado não está livre da ameaça da perda de território para a agropecuária.
Atmosfera perde capacidade autolimpante
Um grupo de pesquisadores dos EUA, da Austrália e do Reino Unido trouxe mais um alerta a quem ainda ousa duvidar do efeito estufa e das mudanças climáticas globais: alem de poluir, o homem também está minando a capacidade da atmosfera de se limpar sozinha - e de uma forma mais avassaladora do que seria imaginável, ou recomendável. Estudo feito por eles e publicado em edição da revista científica americana "Science" (www.sciencemag.org) mostra que os níveis do radical hidroxila (OH) na atmosfera despencaram a partir de 1995.
Esse radical é o principal detergente natural do planeta. É ele o principal responsável pela decomposição de gases-estufa, como o metano e o dióxido de enxofre, e de poluentes, como o monóxido de carbono e o ozônio. Sem o OH por perto, esses gases acabam ficando no ar em quantidades maiores, agravando o efeito estufa (retenção de radiação solar por uma capa de gás, que esquenta a Terra).
Segundo o estudo, coordenado pelo climatologista Ronald Prinn, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts-MIT, EUA, a concentração média de OH no ar do planeta caiu de cerca de 150 ppt (partes por trilhão) em 92 para pouco mais de 40 ppt em 2000. Embora não se arrisquem a apontar as causas dessa redução, Prinn e sua equipe apostam que há o dedo da humanidade por trás dela.
"O recado é basicamente o seguinte: a humanidade alterou o equilíbrio sem entender como funcionava a máquina original", disse o físico Paulo Artaxo, da USP, vice-presidente do IGAC (Programa Internacional de Química Atmosférica Global). Segundo Artaxo, o estudo é importante porque analisa, pela primeira vez, o efeito das mudanças globais sobre os chamados gases de meia-vida curta. Apesar de ficarem muito pouco tempo no ar, esses compostos são fundamentais para o funcionamento da "sopa" atmosférica. O OH, por exemplo, só dura um segundo - mas é responsável pela quebra do metano, que tem meia-vida de 11 anos.
Acontece que, justamente pelo fato de o OH ser tão fugidio, até agora ninguém havia conseguido medir sua concentração. Prinn, então, apelou para um truque: ele calculou indiretamente o nível do gás, olhando para uma molécula chamada metil-clorofórmio. Esse composto é uma espécie de "espelho" químico do OH. Para cada molécula dele que é degradada existe uma molécula do radical fujão na atmosfera. Assim, estimando a sua concentração entre 1978 e 2000, Prinn e seu grupo puderam chegar à trilha do OH.
E não gostaram do que viram: os níveis de metil-clorofórmio subiram 15% entre 78 e 92 e caíram em 2000 para 10% abaixo do mínimo medido em 78. "Esses gases estão reagindo muito depressa 'as mudanças na atmosfera", disse Artaxo. Os cientistas ainda não sabem dizer se a tendência é a queda. Mas num momento em que os EUA enterram o Protocolo de Kyoto, acordo mundial para reduzir os gases-estufa, os resultados não são animadores.
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