sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Mal do piolho

No ano 347 a.C., o peito e a barriga do filósofo Platão (428-347a.C.) se encheram de erupções que depois tomaram o corpo todo. Em poucos dias elas estouraram, libertando um exército de piolhos que infestou a pele e se banqueteou com os órgãos internos do autor de O Banquete. Foi uma morte lenta e dolorosa. Platão teria padecido do temível mal do piolho, que, em Roma, ganhou o nome de morbus pedicularis, uma das doenças mais assustadoras entre as descritas no livro Galeria de Curiosidades Médicas, uma obra estranha e muito bem-feita sobre as maiores esquisitices da história da medicina. Junto com a trágica morte do filósofo figuram casos de bêbados que pegavam fogo espontaneamente, um gigante de 2,5 metros e uma mulher que paria coelhos.O autor, o médico sueco Jan Bondeson, disseca cada uma dessas histórias, separando o que é verdade do que não é. Assim, a tal combustão espontânea dos bêbados se revela mito, a parideira de coelhos era uma fraude, mas o gigante realmente existiu, na Irlanda, espichado por um distúrbio hormonal. Fascinado por doenças bizarras, Bondeson pesquisou arquivos médicos e analisou com cuidado todas as referências de cada enfermidade, inclusive em obras de ficção. Chegou até a autopsiar a múmia de uma famosa mulher barbada, a mexicana Julia Pastrana, morta em 1859.



Uma de suas conclusões é que o caso de Platão pode não ter acontecido. Na Antiguidade, freqüentemente atribuía-se aos inimigos a morte pelo mal do piolho, considerada a mais horrível das doenças. Era quase como um xingamento derradeiro, já que a enfermidade era vista como um castigo divino. Como muitos atenienses não gostavam de Platão, é provável que a história do seu padecimento tenha sido apenas um boato. Mas, revendo alfarrábios de Medicina, Bondeson concluiu que o morbus pedicularis, ainda que não tenha matado Platão, existiu mesmo, ao contrário do que pensavam muitos médicos. O sueco sugere até que a doença não era causada por piolhos. Os bichinhos assassinos seriam uma espécie de ácaros erradicada no século XIX pela melhoria das condições higiênicas. Felizmente.

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