quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Um hormônio que mantém as pessoas em alerta também suprime a disseminação do câncer.

Um hormônio que mantém as pessoas em alerta também suprime a disseminação do câncer
13/10/2014

Surgem de noite, enquanto a pessoa dorme sem perceber, crescem e se disseminam o mais rápido que podem. E são mortais. Em um achado surpreendente que foi recentemente dado a conhecer no Nature Communications, investigadores do Instituto Weizmann de Ciências demonstraram que a noite é o momento certo para que o câncer cresça e se dissemine pelo corpo. Seus achados indicam que a administração de determinados tratamentos em coincidência com o ciclo diurno-noturno do corpo poderia melhorar sua eficácia.

Este achado surgiu de uma pesquisa sobre as relações entre diferentes receptores na célula -uma rede complexa que ainda não compreendemos totalmente-. Os receptores -moléculas de proteína na superfície celular ou dentro das células- recebem mensagens bioquímicas secretadas por outras células e as passam para o interior da célula. Os cientistas, dirigidos pela Dra. Mattia Lauriola, pesquisadora pós-doutorado do grupo de pesquisa do Professor Yosef Yarden do Departamento de Regulação Biológica do Instituto Weizmann, em colaboração com o Professor Eytan Domany do Departamento de Física de Sistemas Complexos, enfocaram-se em dois receptores específicos. O primeiro, o receptor de fator de crescimento epidérmico, EGFR, favorece o crescimento e a migração das células, incluídas as cancerosas. O segundo se une a um hormônio esteroide chamado glicocorticoide (GC). Os glicocorticoides desempenham um papel em manter os níveis de energia do corpo durante o dia, bem como o intercâmbio metabólico de substâncias. Frequentemente é denominado hormônio do estresse, porque suas concentrações aumentam em situações estressantes, que levam rapidamente o organismo a um estado de alerta total.

A célula, com receptores múltiplos, recebe toda classe de mensagens ao mesmo tempo e algumas destas mensagens têm prioridade a respeito de outras. No experimento, Lauriola e Yarden descobriram que a migração das células -a atividade favorecida pelo receptor de EGF- suprime-se quando o receptor de GC se une a seu mensageiro esteroide.

Devido a que as concentrações de esteroide alcançam seu máximo durante as horas de vigília e diminuem durante o sono, os cientistas se perguntaram como isto poderia afetar o segundo receptor: EGFR. Verificando os graus desta atividade nos ratos, descobriram que há uma diferença importante. Este receptor é muito mais ativo durante o sono e quiescente nas horas de vigília.

O quão relevantes são estes achados para o câncer, sobretudo para os tipos que utilizam os receptores de EGF para crescer e disseminar-se? Com o propósito de descobri-lo, os cientistas administraram lapatinib -um dos fármacos antineoplásicos de nova geração- a  modelos de câncer no rato. Este fármaco, utilizado para tratar o câncer de mama, está concebido para inibir o EGFR, e por conseguinte evitar o crescimento e a migração das células cancerosas. No experimento, administraram o fármaco aos ratos a diferentes horas do dia. Os resultados revelaram diferenças significativas entre os tamanhos dos tumores dos diferentes grupos de ratos, o que dependeu de se tinham recebido o fármaco durante as horas de sono ou de vigília. Os achados experimentais indicam que é em realidade o aumento e o diminuição das concentrações dos esteroides GC no curso de 24 horas o que dificulta ou possibilita o crescimento do câncer.

A conclusão, dizem os cientistas, é que poderia ser mais eficiente administrar alguns fármacos antineoplásicos de noite.

«Parece um problema de sincronização», diz Jordão. «Os fármacos para tratar o câncer no geral são administrados durante o dia, justamente quando o corpo do paciente está suprimindo a disseminação do câncer por si mesmo. O que propomos não é um novo tratamento, mas um novo horário de tratamento para alguns dos fármacos atuais»

Fonte: Medical News Today

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