sábado, 25 de janeiro de 2014

O Pder do Orgasmo



poder do orgasmo1-Para o Indivíduo Praticante:
Visualize o objetivo desde o início do ato... quanto chegar aos orgasmo, se concentre no objetivo, até que após quando parar, esqueça completamente.

Isto é algo muito forte, que pode ser feito repetidas vezes.

2-Para o casal Praticante:

Visualizem o objetivo comum desde o início do ato... quando um parceiro chegar ao orgasmo ou os dois ao mesmo tempo, se concentrem no objetivo, até que após quando os dois pararem, se abracem e esqueçam completamente.

Isto é algo poderosíssimo e pode ser feito repetidas vezes, ainda mais que tem um efeito sinérgico.

3-A Sedução

Quando for se masturbar, se concentre na pessoa.Mantenha o foco nela enquanto se masturba, e na hora do orgasmo mantenha-se nela.

4-Afastamento

Afastar uma pessoa que não se quer consigo e esta insiste constantemente...

Se concentre em um grupo de pessoas se aproximando de ti, de forma que empurrem a pessoa que você não quer para fora...

Cada pessoa tendo contato sexual consigo. "Pegue leve com isto, pode causar problemas se mais que três vezes por semana".

Elas vão ajudar a afastar a pessoa.

É preciso também fazer orações para que a pessoa encontre e se apaixone por alguém.

Misturando as cores rosa e vermelha misturadas durante a masturbação, se concentre na pessoa sendo puchada para outra pessoa que não você.

Isto vai fazer ela ir atrás de outra pessoa e te livrar.

5-Prolongando o  sexo para entrar em estado alterado

Alguns gnósticos fazem isto. Quando estiver à gozar, pare. Espere um pouco. E continue até se aproximar do ponto. Repita isto, o orgasmo começará a acontecer sem a emissão de esperma com o tempo. E após umas horas se chega ao ponto de entrar em estado alterado de consciência.

Diferenças entre Umbanda, Candomblé e Quimbanda.


Candomblé, Quimbanda [ou Kimbanda], Umbanda: estas são as principais denominações entre as religiões afro-brasileiras. Alguns, negam a estas crenças o status de "religião": 1. porque não se enquadram na idéia de "religião oficial"; 2. porque são praticadas por minorias sociais. No Brasil, embora muito se fale do Candomblé e da Umbanda, os números oficiais, do IBGE, não deixam qualquer dúvida quanto a essa condição de minoria que é uma realidade das religiões afro-brasileiras.
No censo de 2000, em uma população que ultrapassa 160 milhões de habitantes, pouco mais de 525 mil pessoas se declararam adeptas do Candomblé e da Umbanda, embora outros tantos milhares de não-adeptos freqüentem terreiros e tendas como "clientes". Os dados também revelaram que existem mais Umbandistas que "candomblezistas"... [Umbanda: 397.431 ─ Candomblé: 127.582, em universo onde mulheres são a maioria... meditemos...]. Sobre os clientes, escreve Reginaldo Prandi:
"[O candomblé] ...como agência de serviços mágicos... oferece ao não-devoto a possibilidade de encontrar solução para problema não resolvido por outros meios, sem maiores envolvimentos com a religião. [O cliente é] ...consumidor de serviços mágicos que a religião oferece também aos não-devotos, sob pagamento... - [PRANDI, p 12]...
E sobre as religiões afro-brasileiras como minorias, comenta Prandi:
"Em 2001, Ricardo Mariano, analisando o crescimento evangélico, em sua tese de doutorado, fez uma descoberta sensacional. Descobriu que as religiões afro-brasileiras estavam perdendo fiéis... E apontou como razão o enfrentamento com as igrejas pentecostais [[os evangélicos, até porque os pastores se apropriaram de rituais do candomblé ou adaptaram esses  rituais como o descarrego, o banho com a rosa branca, os passes e juntaram tudo isso com o apelo à figura de Jesus Cristo!]. ...Pode-se ver que a perda de fiéis do conjunto afro-brasileiro se deve ao encolhimento da Umbanda. Como o pequeno crescimento do Candomblé não é suficiente para compensar as perdas umbandistas, o conjunto todo se mostra, agora, debilitado e declinante diante do avanço pentecostal." [PRANDI, p 17/18]
No imaginário popular, especialmente daqueles pouco informados sobre estas religiões, Candomblé, Kimbanda, Umbanda não "tudo a mesma coisa", "tudo macumba!", não reconhecendo cada uma como credo distinto, como se não houvesse diferença entre suas teologias, liturgias e origens históricas. Porém, o estudo, ainda que superficial revela que as três não se confundem; ao contrário, diferem significativamente em suas características essenciais e o único fato que têm em comum é a adoção de elementos da cultura religiosa afro-brasileira e, por brasileira, entenda-se catolicismo no molde português colonial.
Diferenças em Linha Gerais
Candomblé, Quimbanda e Umbanda distinguem-se:
1. pelas natureza das entidades cultuadas e/ou invocadas/evocadas;
2. pelos procedimentos do culto;
3. pelos elementos culturais componentes do sincretismo;
4. e, finalmente, pelo uso que se faz das forças metafísicas acionadas.
Considerando estes aspectos, notar-se-á, imediatamente, que o Candomblé difere da Quimbanda e da Umbanda de forma mais enfática enquanto Quimbanda e Umbanda são muito mais próximas.
No Candomblé, os cultuados, os Orixás [ou Orijás] são considerados deuses; na Quimbanda e na Umbanda, ainda que o culto também invoque e evoque Orixás, estes são considerados meros espíritos ancestrais mais antigos ao lado de numerosas outras entidades representativas de ancestrais mais modernos e/ou contemporâneos.
No Candomblé, os deuses, desde de sua origem em terras africanas, também são ancestrais porém sua antiguidade remonta a tempos imemoriais. São como os heróis e deuses gregos, grandes reis, guerreiros e personagens que viraram mitos, foram mitificados e, assim, alcançaram a condição de divindades.  O mesmo processo que originou o panteão greco-romano. Muito além da fantasia popular, os deuses gregos também foram personagens fundadores de Civilizações, de um tempo antediluviano, como Poseidon [ou Netuno] que, segundo a tradição relatada por Platão, em Crítias, foi o último rei Atlante da última grande ilha remanescente da lendária Atlântida.
Na Quimbanda e na Umbanda, os ancestrais são vistos como antepassados mesmo, pessoas mortas, homens e mulheres proeminentes e/ou sábios ou, ainda, perversos. São Espíritos que baixam no culto [evocação, sem incorporação] ou incorporam nas pessoas [invocação] a fim de atuar no mundo dos vivos.
A Umbanda reivindica propósitos sempre voltados para o bem, com um discurso claramente cristão. A Quimbanda, embora seus teóricos neguem, é fortemente associada à magia negra, aos trabalhos para o mal e, além de para espíritos humanos desencarnados, como na Umbanda, também se utiliza de seres não-humanos: larvas [criações da mente dos sacerdotes-magistas], demônios [Espíritos obcessores] e elementais.
Nas palavras do místico e escritor José Romero Romeiro Abrahão: "A Quimbanda é um culto mágico às Entidades malévolas, denominadas Exus, Quimbandeiros... Em geral, na Quimbanda só se trabalha para o mal de alguém ou então para submeter uma pessoa à vontade da outra". Morte Subita coloca a sua disposição uma série de artigos onde são descritas as particularidades de cada uma das três religiões afro-brasileiras.

Candomblé: Origem e Liturgia


Candomblé é uma palavra derivada da língua bantu: ca [ka]=uso, costume, ndomb=negro, preto e =lugar, casa, terreiro e/ou pequeno atabaque. A reunião dos três vocábulos resulta em "lugar de costume dos negros", por extensão, lugar de tradições negras, tradições entre as quais, destacam-se, no sentido atual as práticas religiosas que incluem a música percussiva [A TARDE, 1980]. Outra interpretação informa que kandombele significa "adorar" [Ngunz'tala, 2006].
Hoje reconhecido como religião, no passado, o Candomblé teve seus dias de marginalidade. No período do Estado Novo, por exemplo, entre 1937 e 1945, foi proibido por lei, seus adeptos perseguidos e presos pela polícia. Quando se fala em Candomblé um dos aspectos mais destacados é o sincretismo entre religiosidade africana e catolicismo. Todavia, em geral, a tal religiosidade africana é vista como algo monolítico, homogêneo.
Trata-se de uma visão estereotipada da África e de seus povos. O sincretismo do Candomblé, na verdade, tem sua origem na própria África, onde existiu, na época da colonização, e antes, e atualmente, uma enorme diversidade de povos e culturas interagentes. O panteão africano reúne mais de 400 divindades.

No Candomblé, forjado em terras brasileiras, esse panteão, atualmente, é composto de 16 orixás [ou Òrìsà, em ioruba] principais, numa significativa condensação das forças metafísicas que levou mais de um século para se definir no processo de integração das diferentes nações cujos representantes chegaram ao Brasil durante o período da escravidão. Não obstante, "correndo por fora", contam-se ainda, outros 14 orixás reconhecidos em diferentes centros de culto. Entre as nações que contribuíram na formação do panteão principal relacionam-se: os bantu, nativos de Angola, Moçambique, Congo; Gana, Benin, Nigéria [Ioruba ou Nagôs]; Sudaneses, da Costa do Marfim, os Ewe, muitos, muçulmanos; os Fon e os Ashanti. Todos esses, falando línguas diferentes e cultuando seus próprios deuses.
Liturgia do Candomblé
Apesar das contradições do candomblé, especialmente no que se refere ao número dos Orixás, a teologia não é complicada: um Deus criador de todas as coisas e deuses menores regentes da Natureza, da personalidade e da vida dos homens. Entretanto, a liturgia ou seja, as práticas rituais, de iniciação, cultos e sobretudo o oráculo, esta liturgia é extremamente complexa.
O Candomblé não é uma religião "caseira". Um católico, depois de ser catequizado, depois de aprender princípios básicos, pode se sentir perfeitamente livre [apesar das admoestações do vaticano] para dispensar a freqüência às missas, pode rezar o Terço em casa, até acompanhando pela televisão [Rede Vida]. Um muçulmano também: estende seu tapete cinco vezes ao dia para orar voltado para Meca em qualquer lugar. O budista segue o caminho do meio, medita sobre as oito verdades do Buda Sakyamuni e tudo está bem. Os evangélicos, não obstante a insistência dos pastores para que freqüentem a igreja, uma vez que tomam consciência da força da fé em Deus-Jesus Cristo [a técnica] pode igualmente" dar um tempo das reuniões. É verdade que judeus e hinduístas são mais cobrados em suas obrigações religiosas porém nada que se compare à rígida disciplina exigida dos adeptos do Candomblé.
No Candomblé não existe autodidata nem auto-iniciação. Para ser um Filho [a] de Santo um longo tempo de Iniciação é indispensável e se o interessado em Candomblé pretende se utilizar do oráculo africano, o Jogo de Búzios, foco de interesse de muita gente, a religião se mostra ainda mais inacessível. Apesar dos inúmeros oráculos online [softwares, programas] disponíveis na internet; apesar, ainda, de existir até um Tarô do Búzios ou Tarô dos Orixás [Tarô dos Orixás: Senhores do Destino ─ Editora Palas], inovações recentes, o oráculo afro-brasileiro, o Jogo de Búzios [Ifá], somente é confiável quando "operado" pelas mãos credenciadas dos sacerdotes, o Babalorixá [Pai ou Zelador de Santo] ou Yalorixá [Mãe ou Zeladora de Santo]. Este é um ponto indiscutível entre os especialistas.

Criptóides: eles sempre estarão entre nós.



Chupa CabraCharlie Cox e Martin Sanders jamais viram um ao outro, apesar de terem vivido quase toda vida a menos de 10 milhas um do outro, no condado de Gloucestershire na Inglaterra. Durante alguns dias do mês de Outubro de 1976, ambos os fazendeiros tiveram juntos quase 60 ovelhas mortas por uma estranha criatura que assombrava seus rebanhos. A polícia local deixou de dar atenção ao caso quando ambos - mesmo não se conhecendo - deram as mesmas descrições do caso.
Disse Martin ao Daily Telegraph na edição de 27 de Novembro de 1976: Eu acordei com um barulho ensurdecedor de ovelhas correndo pelo pasto; eu tinha a certeza de que estavam sendo atacadas. Peguei o rifle e sai imediatamente para ver o que se passava. Um lobo de tamanho muito acima do normal, de cor branca e olhos amarelados perseguia meu rebanho.
Ele saía do nada, galgando como um típico animal de sua espécie, mas ao atingir certa velocidade, passava a perseguí-las apenas nas patas traseiras, de onde onde eu pude notar que nesta posição, apenas a cabeça mantinha-se na forma canina; tronco e membros eram muito parecidos como nós humanos. Era como um homem muito corpulento e muito, muito veloz. Todas as minhas ovelhas tinham ferimentos enormes no pescoço, totalmente drenadas de sangue.
O chefe de polícia de Gloucestershire admite que não conteve os risos:"Se tivesse sido o contrário; começasse correndo como um bípede e só então virasse um lobo, aí eu teria acreditado". Nosso país está mergulhado numa recessão econômica e altos índices de violência e você quer que eu dê atenção a dois caipiras lunáticos ?  Casos criptozoológicos como esses acontecem aos montes ano após ano, e passaram a ter mais atenção da mídia quando pessoas como Jena Miller decidiram estudar e reportar com mais atenção os acontecimentos. Ela mesma, interessou-se pelo assunto após as férias "macabras" que vivenciou nos assombrosos templos do Império Khmer no Camboja, em 1999 quando lá esteve em férias com o noivo. "O nosso guia na ocasião, diz Jena, nos aconselhou a experimentar a atmosfera do local após o anoitecer, mas ter o máximo de cuidado com batedores de carteira."
Pareceu-me interessante, até avistar enormes felinos parecidos com aquelas panteras negras das quais eu já tinha ouvido falar sobre seus ataques em Ohio, EUA. O estranho no caso era o fato de terem asas. Levei meses para me recuperar do susto e acabamos encurtando nossas férias. Hoje sou mais esclarecida e sei quando se trata de fraude e de quando se trata de algo legítimo e excitante. Mas admito que ainda sou um pouco medrosa em relação a um contato mais direto com o assunto.
Douglas Shelton, 15 anos de idade, capturou um gato com asas enquanto caçava nas redondezas de Pinesville, West Virgínia. O bicho parecia amigável e nada feroz, exceto quando suas asas eram tocadas. Foi dado o nome de Thomas ao animal, e, não foi trocado mais tarde quando descobriu-se que ele na verdade era ela. O gato parecia um típico persa peludo, embora seu tamanho fosse bem maior do que o normal.

Quando um veterinário examinou Thomas pela primeira vez,  pensou que tratava-se de uma simples e típica aberração da natureza, típica na maneira de dizer, pois patas extras, tamanho anormal de membros não é exatamente incomum na medicina veterinária. Uma ou duas avaliações a mais e o veterinário mudou de idéia.
Thomas tornou-se uma celebridade local. Chegou a aparecer no The Today Show mas parecia bem entediada. Foi oferecido 400 dólares por ela mas a família Shelton recusou, percebendo que poderia fazer muito mais dinheiro com a gata.  Repórteres que queriam tirar fotografias tinham de pagar uma taxa. Alguns trocados também eram cobrados da vizinhança se quisessem ver o animal. A celebridade em que tinha se transformado o caso chamou a atenção da senhora Hicks, uma socialite local; ela alegava que Thomas pertencia a ela e que um amigo que deu o apelido de Mitzi para a gata poderia confirmar tudo.
O caso foi aos tribunais e no dia 5 de Outubro de 1959, ficou decidido que os Shelton deveriam devolver Thomas/Mitzi a família Hicks. Todos que estavam presentes à audiência, ficaram chocados ao perceber que quando foi aberta a caixa em estava Thomas/Mitzi, suas asas tinham desaparecido.
Mas sem dúvida nenhuma, o caso que mais deixa criptozoologistas perplexos ao redor do mundo, é o do Chupa-Cabra. A primeira descrição que temos destas criaturas, datam do ano de 1956 no estado do Arizona. Entre Fevereiro e Julho de 1975, foi a vez de Porto Rico sofrer com ataques bestias que deixavam litros de sangue na forma de rastros. New Jersey, New Mexico, Oregon, Florida, Michigan, Illinois, Texas, Brazil e México também entraram na rota do terror nos anos seguintes.
A maioria dos casos mostram animais mortos sendo feridos brutalmente na região do pescoço. Dois ou três furos é sempre o bastante. Não há mutilação. Nunca foi encontrado sinais de luta, o que mostra que o ataque do chupa-cabra é sempre eficaz e indefensável. As descrições da besta podem variar, mas a maioria aponta seu tamanho como superior a de um ser humano médio, olhos vermelhos e rosto oval.
As testemunhas ainda apontam o terrível odor exalado pela criatura, e que acaba impregnando o local do ataque; muitos criptozoologistas afirmam que pode ser parte de uma técnica para manter afastados os perseguidores, como atesta o mexicano Juan Solires, um ex-coiote de imigrantes que presenciou um ataque na fronteira com o Texas: "De longe o odor já é insuportável. Mesmo depois do ataque, dezenas de metros antes de chegar aos animais mortos, você já respira com uma dificuldade imensa. É impossível permanecer por perto dos animais por mais que alguns poucos segundos".
"Os imigrantes achavam que tratava-se de uma forma do governo americano nos assustar e não mais voltarmos para lá, era um dos locais preferidos dos ilegais; hoje ( fim da década de 90 ) o número de imigrantes ilegais que tentam atravessar a fronteira caiu muito por aquelas bandas, conclui Juan". Como sempre, a ciência deixa-nos a ver navios; não resolve nem esclarece o mistério, mas também não leva em consideração o trabalho suado dos criptozoologistas.
Como diz Jill Stefko, membro de um dos mais renomados e respeitáveis sites sobre o assunto: "O que seria do sinistro, do oculto, do mistério sem a ciência ? Séculos para desvendar o genoma humano, se a maioria dos estudiosos pagãos já fizeram isso muito tempo atrás; confio muito mais nos nossos instintos do que nos laboratórios deles”.

A Gênese dos Anormais


monstruoso“Digamos que o monstro é o que combina o impossível com o proibido”.
- Foucault - Os anormais.

Segundo Michel Foulcault, em Os anormais, o monstro fez parte da constituição do domínio da anormalidade no século XIX. Ele é a figura chave que nos permite entender as articulações entre as instâncias de poder e os campos de saber envolvidos na constituição dos “anormais”.

Cada época constitui formas privilegiadas de monstro. No decorrer da Idade Média, o homem bestial – mistura entre o reino humano e animal – constituiu o imaginário da época. A monstruosidade dos irmãos siameses dominou a literatura especializada ao longo do Renascimento. Já na Idade Clássica, os hermafroditas foram eleitos os monstros da vez.

Se cada época possui suas formas eleitas de monstruosidade, assistimos, ao longo do século XIX, uma diluição dos grandes monstros em uma série de monstrinhos perversos, a saber: os anormais. Como se deu esse processo?

O suplício


Até o século XVIII, o monstro era considerado dentro de uma noção jurídico-biológica ou jurídico-natural. Ele não era apenas uma infração das leis da sociedade, mas, principalmente, uma violação das leis naturais. Nesse contexto, o monstro não gerava uma simples resposta da lei. O que ele suscitava era algo diferente da lei, era a violência, o suplício.

O suplício funcionava como um ritual de atrocidade que tinha como objetivo responder ao crime cometido com um desequilíbrio de forças tal que anulasse a ofensa, seja ela qual fosse. Não por acaso temos notícias de suplícios que duravam dias como o caso do assassino de Guilherme de Oranges, em 1584, que sofreu queimaduras, decepações, cortes e as mais horríveis torturas durante dezoito dias.

Essa economia do poder de punição transforma-se, no final do século XVIII, num conjunto de preceitos e análises que permitem intensificar seus efeitos de poder. Desse modo, o poder de punição deixa de se exercer como um rito (ritual do suplício) e passa a funcionar por meio dos mecanismos de vigilância e controle. Nesse ponto, a questão deixa de ser “qual é o crime?” e passa a ser “o que leva um indivíduo a ser criminoso?”. É a passagem do crime ao criminoso. O crime que era apenas uma violação das regras, passa a ter uma constituição, em outras palavras, uma natureza.

A patologização das condutas criminosas: o nascimento da psiquiatria


A partir dessa nova economia do poder de punição são formuladas novas teorias sobre a natureza da criminalidade. Surge, portanto, uma patologia das condutas criminosas. É na passagem do crime ao criminoso que vemos emergir um novo saber que pretende colocar-se como protetor da sociedade contra os anormais. É o nascimento da psiquiatria. E foi justamente nesse terreno fértil da constituição da anormalidade que a psiquiatria se constituiu como um novo campo de saber. Isso porque a natureza ou a racionalidade do crime cria uma lacuna para o poder judiciário que só pode julgar e penalizar na medida em que conheça a natureza do crime, ou seja, na medida em que conheça as causas que levaram o criminoso a cometer seu crime.

Essa nova mecânica das relações de poder teve como efeito alterar a antiga concepção jurídico-natural do monstro. A partir desse momento, a monstruosidade passa a ser entendida de um ponto de vista moral, ou seja, nasce uma monstruosidade moral que, ao longo do século XIX, se transformará em uma espécie de monstruosidade das condutas cotidianas.

O monstro moral


O primeiro monstro moral é o monstro político. Com o advento da revolução francesa, o criminoso passou a ser aquele que rompe o pacto social. Em outras palavras, o criminoso é aquele indivíduo que coloca seus interesses pessoais acima dos interesses sociais. A figura paradigmática dessa relação é o rei, o rei déspota ou tirano. Assim, o primeiro monstro moral é o rei. Nessa época, foi constituído todo um arcabouço teórico que ligava a realeza, principalmente Luis XVI e Maria Antonieta, a uma monstruosidade tirânica sempre associada ao tema do incesto. Monstro incestuoso, monstro sexual.

Segundo livros e folhetos da época, Maria Antonieta era o modelo desse monstro político-moral-sexual: além de sua tirania e de sua sede de sangue era uma mulher depravada, escandalosa, entregue à libertinagem. Quando criança perdeu a virgindade com seu irmão José II e se tornou amante de Luis XV (e do cunhado deste). Para completar seu quadro libertino, ela era acusada de manter relações homoafetivas.

Concomitante ao modelo do monstro déspota com sua libertinagem, surge o monstro revolucionário, o monstro popular, imagem invertida do rei tirânico. Do mesmo modo que o monarca, o monstro popular (que também é um monstro político) rompe o pacto social. Se aquele era um monstro incestuoso, esse será o monstro antropofágico, que tem fome de carne humana, que volta a um estado de natureza selvagem. É a imagem do povo revoltado.

Foram justamente essas duas figuras do monstro político-moral, o rei incestuoso e o povo canibal ou a monstruosidade sexual e a monstruosidade antropofágica, que serviram de modelo de inteligibilidade para a psiquiatria no século XIX. A psiquiatria constituiu seu saber reativando esses temas da sexualidade antropofágica por meio de uma série de novos domínios, de novos objetos no interior de seu discurso. Essa nova série de elementos são os impulsos, pulsões, tendências e, principalmente, os instintos.

O instinto


Segundo os médicos do início do século XIX, o instinto é um dado natural que faz parte da essência do próprio ser. Um instinto deturpado seria a indicação mais que precisa de uma essência comprometida.

Foucault destacou que há, nesse momento, uma freada da teoria da alienação mental centrada no delírio. É o fim dos alienistas e o início de uma neuropsiquiatria organizada em torno dos impulsos e dos instintos. Essa freada na teoria da alienação centrada no delírio abre a possibilidade para construção de uma psicopatia sexual que constrói a idéia do instinto sexual como origem dos distúrbios. Para esse autor, essa freada na teoria da alienação mental centrada no delírio para uma psicopatia sexual é que constrói a ligação entre um instinto sexual como origem dos distúrbios. Entra em cena um novo objeto para a psiquiatria: o prazer. A psiquiatria foi obrigada a elaborar uma teoria e uma armadura conceitual própria e é nisso que consiste a teoria da degeneração.

A psiquiatria do último quarto do século XIX passa por cima do essencial da justificação da medicina no século XVIII e início do XIX, ou seja, sobrepõe a idéia da cura. A psiquiatria deixa de ser, ou será secundariamente, uma técnica de saber da cura.

O que ocorreu foi uma certa despatologização de seu objeto por meio da idéia de “estado”. O “estado” não seria propriamente uma doença, mas um fundo causal que estaria associado a uma gama imensa de processos e episódios (comportamentais) que, unidos em uma síndrome, comporiam uma doença.

Desse modo, a busca por uma causa única que explique a “anormalidade” será substituída por uma “metassomatização” representada pela idéia de hereditariedade. Metassomatização, pois, funciona como um “corpo fantástico” que possibilita a explicação de qualquer tipo de desvio.

Os degenerados: perversidade e perigo


Não é possível abordar a idéia de desvio sem passar pelos seus correlatos: loucura e crime. Em última instância, se todo desvio acontece na forma de um crime (no sentido de não corresponder às normas vigentes), todo crime representará, ao menos em potencial, os indícios de um ser desviante.

Ao deslocar a questão do crime para o criminoso, como vimos acima, – ou da ruptura da saúde para o comprometimento do ser em si – o que a medicina e a jurisprudência fizeram foi dobrar o delito com outras coisas que não são o delito (comportamento, maneiras de ser etc). Esses outros elementos foram apresentados como a causa, a origem ou a motivação do delito. É justamente a possibilidade de criar esses “duplos-sucessivos” que permitiu a passagem do ato à conduta, do delito à maneira de ser. Houve, contudo, o deslocamento do nível de realidade da infração, pois as condutas não infringiam a lei (nenhuma lei impede alguém de ser desequilibrado). Assim sendo, não há mais uma infração penal, mas irregularidades em relação às regras, que podem ser fisiológicas, morais etc.

Temos discursos epistemologicamente fracos, pois pelo lado da justiça, a jurisprudência não buscou exatamente determinar o criminoso ou o inocente, e pelo lado da medicina, a psiquiatria não buscou determinar quem era ou não doente e, conseqüentemente, tratar o mal. Houve a busca pela perversidade e pelo perigo. Em suma, buscou-se determinar e construir o “anormal”. O resultado de todo esse processo foi a construção dos degenerados.

O degenerado não era considerado, de modo geral, como um doente afetado por uma moléstia qualquer. Era, antes de tudo, uma espécie ou classe diferente, menos humana. O degenerado colocava em risco, além dele mesmo, toda a sociedade, por ser ele próprio um perigo.

A monstruosidade das condutas cotidianas


Os anormais ou os degenerados são os herdeiros diretos dos grandes monstros, principalmente, do monstro moral. E o instinto foi o mecanismo que possibilitou a passagem das grandes irregularidades monstruosas aos pequenos distúrbios da anormalidade, das pequenas irregularidades da conduta. Desse modo, o modelo do monstro moral-sexual-antropofágico serviu como base na elaboração dos desvios comportamentais que caracterizaram o domínio da anormalidade no século XIX. Em outras palavras, foi o que permitiu a passagem do grande monstro aos monstrinhos perversos que marcou, e talvez ainda marque, nosso imaginário social.

Perseus Modernos



MedusaA palavra monstro advém do latim “moneri”, que significa “presságio”. A aparição de monstros em nós,é um presságio de aspectos sombrios que precisam ser trabalhados,muitas vezes aspectos sombrios de nosso “Eu” que transmutam-se em formas horripilantes esperando para serem encarados e enfrentados(da mesma forma que Persevs fez com Medusa,a Górgona).
O mito de Persevs é cheio de simbolismos e mensagens implícitas que auxilia-nos na peleja contra nossos próprios monstros e como enfrentá-los.
A Medusa, de acordo com a lenda, residia onde o Sol escondia-se no Horizonte e a Penumbra era uma constância.Entre o Mundo dos Vivos e dos Mortos.Tal localidade pode ser comparada com os limites da Luz do Consciente e a Treva do Subconsciente.Da mesma forma que Persevs devemos ir até esta localidade para encontrarmos nossa própria Medusa e destruí-la.
A figura da Medusa,com seus cabelos de serpente e presas pontiagudas e à mostra pode muito bem ser associada a nossos temores e medos.O facto de esta tornar em rocha todos que a olham pode muito bem ser a encarnação da sensação petrificante ao vislumbrarmos este medo aflorando em nós amiúde vezes.
O Escudo,dado a Persevs pela própria Deusa Athena,era tão polido que refletia tudo o que se projetava ante dele como um espelho.Tal escudo simboliza a capacidade racional de refletirmos sobre o Medo antes de enfrentá-lo de frente como fez Persevs.
É dito que a espada que decepou à Medusa,esta empunhada por Persevs,foi guiada pela Deusa Athena.Sendo Athena a encarnação da Sabedoria,isto representa que devemos ter Sabedoria ao destruirmos nossos Medos.
De acordo com algumas versões da história,ao aniquilar à Medusa Persevs libertou Pegasus que estava mantido cativo pela Górgona.O Pegasus é um símbolo de Liberdade,a Liberdade que adquirimos ao destruirmos o Medo que nos consumia ou reprimia antes.
O sangue da Medusa,foi dado a Asclépio,deus da Cura,e possuía tanto a capacidade de Cura como de Morte(o advindo da veia direita o de Morte e o da Esquerda o de Cura).Isto representa o aspecto dual do Medo.Sua capacidade de curar uma pessoa(estimulando a pessoa a encará-lo toda vez que surge e destarte matá-lo),ou de destruí-lo(estimulando o indivíduo a fugir deste quando tal surge).Está em nós a capacidade de sorver do “sangue bom”,e não do “ruim”.
O pior dos medos provavelmente é o do nosso “lado negro”.A negação e constante  fuga do encaramento de nossos aspectos sombrios pode tornar-nos como Doutor Jekyll,da majestosa obra “O Médico e o Monstro” de Robert Louis Stevenson.Doutor Jekyll graças as forças do moralismo rígido e acéfalo da Sociedade Britânica em que estava inserido(esta muitíssimas vezes perfiladas pela Consciência Tolidora Cristã),tinha medo de encarar seu “lado mais obscuro” conscientemente,assim desenvolveu uma fórmula que permitia este renascer em uma nova “consciência” totalmente avessa da sua:Mister Hide(o vocábulo “Hide” vem do verbo inglês “hide” que significa “esconder” ou “escondido”,remetendo ao “lado negro” de Jekyll que encontrava-se escondido e renascido na figura de Hide).
O “lado Negro” de Jekyll ficou muitíssimo tempo preso nos recônditos de seu ser,e por sua vez quando deflagrado(liberto na figura de “Hide”),este provou-se cada vez mais forte até transformar-se em algo incontrolável e que podia transformar o pacífico e moralista Doutor Jekyll no agressivo e imoral Mister Hide.Certamente,caso Doutor Jekyll tivesse trabalhado com seu “lado negro”,em vez de negá-lo durante quase toda sua Vida não precisaria de uma Fórmula para transformar-se no maléfico Hide ou este jamais assumiria o controlo(pois não teria a Força de uma besta por anos enjaulada e que alimentou-se de anseios negros libertários enquanto esteve nos “grilhões” e assim quando ganhasse sua sonhada liberdade quiçá não tornar-se-ia o furacão inexorável que foi).
O satanismo contemporâneo surge com a premissa do Equilíbrio da Luz e da Treva presente em cada um de nós,e não sua negação.Para que como Persevs tenhamos a impavidez de destruir nosso medos de nosso “lado obscuro” e não tornemo-nos como o barroco “Dr.Jekyll” esperando qualquer estopim para termos um surto psicótico e tornemo-nos o psicopático “Mister Hide”.

Fenômenos Estranhos


"Observatio diuturna, notandis rebus, fecit artem", dixit Cicero num livrinho que se intitula De divinatione Liber II"Observatio diuturna, notandis rebus, fecit artem", dixit Cícero num livrinho que se intitula De divinatione Liber II. Essa passou a ser a divisa do Instituto de Anatomia da Faculdade de Medicina do Porto que se tornou, ao tempo de J. A. Pires de Lima, um centro de estudos de teratologia descritiva. Que fazer dos nado-mortos, senão autópsias? Que fazer do conceito biométrico de anomalia, ou do conceito estatístico de normalidade?

É verdade. Para ver basta ter olhos. Olhar exige muito mais: é necessário discernir o visível de si próprio, distinguindo nele planos em profundidade e em largura, delimitar formas, observar mudanças e seguir movimentos. Olhar acaba por ser impôr objectivos ao visível e, pouco a pouco, a fazer dele objectos.
A ciência tal qual é. A ciência pura. Puros fantasmas ao serviço de. Agamben, ao fazer a genealogia do conceito de vida, conclui que em toda a medicina grega não há um conceito médico-científico, como se pensa, mas um conceito filosófico-político. "O homem é o ser vivo que não tem nenhuma vocação biológica, histórica, etc.. É um ser de potência que não se identifica com nenhuma figura determinada" (Guerreiro).
O fantasma da inquisição é a pureza da fé. Que destino tiveram os judeus e os ciganos, mas também os atrasados mentais e outras criaturas consideradas como desvios à "raça pura"? Onde nos levará o horroroso culto da uniformização em que todos temos de corresponder a um formato? A que fantasma serve a ciência? De que "vida" se ocupa? Que formas de eugenismo dissimula desde Francis Galton (1890/1962) que defende o apuramento da raça humana através de cruzamentos selectivos? (Agamben). Não teremos entrado há muito na projecção aterrorizadora de uma forma de eugenismo, não ideológico - aquele que designaria categorias de pessoas que não merecem viver - mas técnico? Não se terá a técnica separado da ciência que servia a Vida, que, essa, fala em verdade? Não estará o próprio discurso ético a alinhar-se com o discurso técnico, sob pretexto de caridade: fazer as coisas o melhor possível? Barbosa Sueiro fala, a propósito da anatomia, de "finalidade utilitária - mas de virtuoso utilitarismo".
"O monstro reflecte sempre uma determinada ordenação do mundo, seja este natural ou cultural. Eles são a ruptura da ordem em que cristalizam valores sociais e formas de conhecimento. Produz sentimentos e reacções contraditórias: medo, temor, asco, mas também prazer e lubricidade. Parte às vezes de uma cultura demonológica, outras vezes representação do exótico, do desconhecido, do estranho. Ou se manifesta de forma lúdica (lusus naturae), carnavalesca, ou transporta consigo o estigma da admonição (Deus Irae). O monstro não é só o negativo de formas variadas, mas também de graus diferentes de civilidade. Ambíguo, portanto (Mourão). O recurso à Antiguidade tem aqui alguma pertinência. A definição aristotélica de monstro (teras): "Aliás aquele que não se parece com os pais é já, de certa maneira, um monstro porque, neste caso, a natureza se afastou do tipo genérico" (Aristóteles). Um andrógino é um prodígio que publicamente deve ser exposto como sinal maléfico que o Estado deve fazer desaparecer. Levou tempo para que se passasse a uma outra atitude: interpretar o fenómeno como um erro da natureza, uma má-formação anatómica rara, mas explicável. Os seres dotados dos dois sexos serão vistos como um jogo da natureza, é o que Plínio o Velho explicitamente diz. A bixexualidade foi recebida primeiro como monstruosidade, ameaça, depois como fenómeno explicável e finalmente tolerado, recuperado como um "bem" de consumo (Bisson).
A norma anatómica (Sueiro, 1950) faz lei. "Monstra vero per excessum sunt", escreve Vandelli (1776). Porém, o normal foi sempre a crux da ciência. As normas são essenciais aos discursos que animam a vida social. A sua constituição esquemática explica o impacto afectivo que acompanha a sua aparição discursiva. A norma parece exigir uma boa distância, da parte das ocorrências que ela avalia, e que não devem tomar o seu lugar. As normas manifestam uma sensibilidade dupla, correspondendo a uma topologia com duas entradas (pouco/assaz/demasiado), que regula os comportamentos aproximativos, nomeadamente a imprecisão exigida, de todos os fenómenos normativos, do domínio da gramática ao da jurisdição. Mas, em último caso, na norma trata-se da estabilização do imaginário através da referência ao semelhante, mecanismo que caracteriza a identificação categorial e analógica, diz P. A. Brandt.
Não obstante, mesmo entre cientistas o conceito de norma está sujeito a discussão. Carlos May Figueira (1864) considera impossível aceitar a ideia de Pareo, segundo a qual haveria hermafroditas com dupla aptidão geradora. Geoffroy Saint-Hilaire (fundador da teratologia em bases científicas) tem a melhor classificação: "hermafroditas com excesso e sem excesso). Para Luís Guerreiro (1921) o corpus da anatomia é o corps - cadáver. E, no entanto, tudo isto é considerado Biologia.
É fácil identificar um monstro. É fácil idealizar a forma humana, as suas variações musculares. Para o naturalista a vida não tem mistérios, tão bem ele vê, tão bem educou o senso crítico. Não será então necessário bem ver para melhor compreender? Se não podemos negar ao corpo medical uma existência histórica, científica ou ideológica, é pelo menos necessário reconhecer que esse corpo não é todo o corpo (quer dizer o todo duma imaginação do seu real) e trabalhar pelo menos com o mínimo de imaginário com que Valéry tentava descobrir nele funções figurativas, ordens fantasmáticas.
Todo o discurso médico contemporâneo, higienista e moral, de que as bonecas de Pierre Spitzner são uma espécie de caricatura, apoia-se num catálogo desordenado das aberrações de imagens do corpo (Schefer). Para lá das aberrações iconológicas, é necessário notar que a "escrita" médica não tende a fazer significar algo ao corpo. E não se esqueça o seguinte: "From the point of view of the subject, the representation of the body, even when narrowly biological, is always an image of the self: identity, genealogical resemblance, cultural norm and configuration, etc.” (Abel)”. E todavia, haverá, no discurso dos saberes, discurso mais marcado por uma espécie de regularidade do fantasma (o do corpo como objecto, como labirinto, etc.) do que o discurso da medicina?

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Pode haver caos aéreo na Copa.


Aeroporto do Galeão, no Rio, em foto de setembro (Portal da Copa)
Infraestrutura aeroportuária é um dos desafios do setor
A Copa do Mundo de 2014 provocará milhares de deslocamentos aéreos pelo Brasil, que ainda tem muitos problemas de infraestrutura para resolver. Mas existe o risco de um caos aéreo?
Nesta quinta-feira, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) autorizou 1.973 voos extras para as companhias aéreas durante o período da Copa. As empresas áereas também terão mais flexibilidade para cancelar e remanejar voos nessa época.
 
A maioria dos observadores e profissionais do setor consultados pela BBC Brasil acha que haverá transtornos pontuais durante o Mundial, mas não tão graves a ponto de configurar um caos aéreo. Mas eles citam diversos desafios para o bom funcionamento do setor - sobretudo na segunda fase do Mundial, cujas partidas só serão definidas a partir dos resultados da primeira fase.
"Isso já é uma resposta à necessidade de passagens a preços menores, atendendo à alta da demanda", diz à BBC Brasil Guilherme Ramalho, secretário-executivo da Secretaria de Aviação Civil.
Ele diz que a experiência adquirida em grandes eventos recentes - Rio+20, Copa das Confederações e visita do papa - permitiu que o setor se preparasse e se planejasse para o fluxo de passageiros da Copa. "Temos toda a condição de sediar o evento com toda a competência", agrega.
Ao mesmo tempo, infraestrutura aeroportuária, eventos climáticos imponderáveis, pontualidade e mobilidade urbana estão entre as principais questões a serem enfrentadas pelas empresas aéreas, aeroportos e autoridades – e cujos efeitos respingarão nos clientes. Especialistas temem também pelas dificuldades de mobilidade urbana, em cidades onde o trânsito já é naturalmente caótico.
Confira, a seguir, alguns fatores que podem dificultar – ou aliviar – o setor aéreo brasileiro durante a Copa do Mundo:

Grandes eventos prévios

Para a Abear, associação que reúne as companhias aéreas brasileiras, "a Copa representa um desafio logístico de demanda concentrada, mas não é diferente de situações já familiares ao setor, como a sexta-feira véspera de carnaval" - quando brasileiros e estrangeiros vão em massa aos aeroportos, aproveitando o feriado para viajar, em geral para cidades com festividades carnavalescas.
Mas existe uma questão-chave que difere a Copa do carnaval: o horário da partida. "(Os viajantes) precisarão chegar ao destino final até 3 horas antes do jogo", lembra Respício do Espírito Santo Jr, especialista em transporte da UFRJ. Ou seja, atrasos em voos, que muitos tolerariam no carnaval, podem prejudicar seriamente o viajante na Copa.

Infraestrutura aeroportuária

Para Espírito Santo, o "calcanhar de Aquiles" atual do setor aéreo brasileiro são os pátios de aeronaves - ou seja, o espaço físico para abrigar os aviões nos aeroportos e para manter o fluxo de aeronaves pousando e decolando.
Ele diz que, na mais recente edição da Eurocopa, os países-sede Ucrânia e Polônia remanejaram as posições de pátio das aeronaves, para dar conta do maior fluxo de voos. Aqui, em aeroportos que sofram de sobrecarga de voos, Espírito Santo opina que será preciso "aumentar a agilidade" do fluxo de aeronaves, possivelmente adaptando pistas usadas para taxiar como "estacionamento" de aviões e gerenciando decolagens.
A Abear diz que a infraestrutura aeroportuária é um ponto importante, por haver "pontos saturados ou perto disso" em alguns aeroportos brasileiros.
Aeroportos menores (por exemplo, de Manaus e Cuiabá), pouco acostumados a grandes volumes de voos ao mesmo tempo, podem ter transtornos pontuais. "Será que a equipe em terra das companhias aéreas estarão preparadas para manejar 30 voos a mais, por exemplo? Há dúvidas", questiona um técnico da Anac que pediu para não ter o nome divulgado.
Ramalho, da Secretaria de Aviação Civil, diz que haverá posições de pátio suficiente, somando-se obras em parte dos aeroportos das cidades-sede e a permissão para que, em alguns casos, aeronaves façam o pernoite em aeroportos menores, próximos às cidades-sede.
Ele alega que essas as obras de expansão de aeroportos não foram feitas para a Copa, e sim para aplacar a crescente demanda por viagens aéreas - entre 2003 e 2012, o setor de aviação civil triplicou. "É um legado que ficará."

'Substituição' de passageiros

Para especialistas, um dos principais motivos pelos quais um caos aéreo na Copa é improvável é o fato de que os viajantes tradicionais vão evitar os aeroportos durante o Mundial - aliviando o sistema aéreo.
"Em países onde houve outros grandes eventos, há uma substituição de tráfego: as viagens de negócios caem muito e o turista tradicional se afasta", dando mais espaço aos fãs de futebol, explica Elton Fernandes, que acompanha o setor aéreo na Coppe (instituto de pós-graduação em engenharia na UFRJ).
Mas Ricardo Uvinha, professor de Lazer e Turismo da USP, cita pesquisa do Ministério do Turismo prevendo que 600 mil estrangeiros e 1 milhão de brasileiros pretendem transitar pelo país durante a Copa. "A intenção de viajar aumentou em 2014, e muitos vão querer viajar de avião. É um aporte enorme, e não sabemos se os aeroportos vão conseguir acompanhar."

Segunda fase da Copa

Com base em dados das compras de ingressos no site da Fifa, as companhias aéreas já conseguiram estimar a demanda de turistas e seus destinos na primeira fase da Copa. A segunda fase - cujas seleções participantes ainda não foram definidas - traz desafios maiores.
"As empresas terão de (remanejar sua operação) de uma semana para a outra", explica o técnico da Anac. Isso inclui programar a tripulação destinada a novos voos e obter autorização da Anac.
Para a Abear, a segunda fase ainda é "um exercício de adivinhação", mas, por outro lado o número de partidas será menor. E, para ter flexibilidade de atender a demanda da Copa, as empresas poderão, excepcionalmente, alterar voos com 24 horas de antecedência.

Eventos imprevisíveis

Mesmo que todo o planejamento do setor aéreo funcione, existe o perigo do imponderável: um nevoeiro no Sul que atrase os voos de toda a malha aérea, ou a queda de sistema de informática de uma companhia aérea, por exemplo.
"O fechamento temporário de um aeroporto por causa de névoa já atrapalha tudo", explica o técnico da Anac.
A Abear concorda: "Questões meteorológicas são uma suscetibilidade: se você pensa na malha aérea de forma integrada, há um efeito cascata (em voos por todo o país)", diz a assessoria de imprensa do órgão.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Religião não trás qualidade de vida.


Caveira rezando o Brasil mudou, enormemente, nas últimas décadas. Especialmente, nos últimos 20 anos, vários indicadores sociais foram alterados, dentre os quais os percentuais relativos à religiosidade do brasileiro. É sobre isso que vamos falar aqui.
Tabela: Religiões declaradas nos censos do Brasil
em 1980, 1991 e 2000 (população residente)
Religião198019912000
Católicos89,2%83,3%73,8%
Evangélicos6,6%9,0%15,4%
Espíritas0,7%1,1%1,3%
Afro-brasileiros0,6%0,4%0,3%
Outras religiões1,3%1,4%1,8%
Sem religião1,6%4,8%7,4%

Comparando os últimos três Censos, percebemos uma nítida diminuição dos católicos
nominais. Essa queda do catolicismo representa que o Brasil não tem mais um pensamento
religioso único. E se levarmos em consideração que apenas 18% dos brasileiros são católicos
praticantes, então concluímos que o catolicismo, em termos práticos, não é mais predominante.
Temos uma sociedade secular, e laica, onde o cidadão comum é cada vez menos
apegado a crendices, mitos e tabus religiosos.
Nossa proposta é desfazer mais alguns mitos:
1. Mostrar que essa mudança tende a se consolidar e até se ampliar;
2. Mostrar que a religião em si, não muda a qualidade de vida do indivíduo, ou seja,

seus indicadores sociais (escolaridade, renda, etc...).
O conteúdo deste texto foi escrito sem qualquer preconceito. Nosso intuito é
simplesmente mostrar a verdade, através da realidade dos fatos e estatísticas. Não tomamos
partido por religião nenhuma, portanto esta é uma análise de caráter imparcial.

A demarcação do espaço religioso.

Os brasileiros vivem, predominantemente, nas áreas urbanas, perfazendo 81,19% do
total. O Brasil, há algumas décadas, deixou de ser aquele país rural, patriarcal e autoritário. Um
país onde o analfabetismo predominava em muitas regiões, onde as pessoas eram presas a
preconceitos mesquinhos, e se mantinham presas a padrões pré-estabelecidos. Um país opressor
para a maioria da população, certamente.
Dentro desse contexto, a religião era, talvez, a única esperança que o indivíduo tinha de
vidas melhores, se não aqui, pelo menos em outras dimensões. Porém, isso tinha um preço: o
servilismo religioso, se não integral, pelo menos parcial. As pessoas tinham suas vidas pautadas
por valores religiosos. Contudo, como a maioria desconhecia os aspectos teológicos de sua
religião, pois a maioria mal sabia ler e escrever, esses valores acabaram se tornando mitos e
tabus.
Ora, existem três maneiras de um indivíduo constituir o seu código de ética: através do
pensamento racional, através de dogmas religiosos, ou através de tabus e mitos. E a maioria
formula a sua versão do que seria a sua verdade através de tabus e mitos. É aquela “verdade”
que não tem explicação lógica, apenas “é assim, porque sim !”
Mas, a partir dos anos 60, nossa sociedade experimentou grandes mudanças nos
campos: social, político, econômico, ideológico e religioso. A partir de 1988, com a volta a
normalidade democrática e todas as suas implicações, essas mudanças se tornaram irreversíveis.
E uma boa parte desse povo que aceitara tudo, até então, passou a ser cada vez mais crítico.
Porém, há vários “Brasis” dentro do Brasil. E, é claro que essas mudanças são mais
acentuadas nas regiões metropolitanas das grandes cidades. Pois, nesses lugares, as pessoas são quase que “forçadas” a mudar, às vezes, até para garantirem a sua subsistência.
Na “cidade grande”, o homem do campo se vê, constantemente, questionado sobre os
“por quês” da vida. Ele se depara com uma diversidade de pensamentos, comportamentos,
atitudes, e religiosidades que até então desconhecia. E ele se depara com a desigualdade em
todas as sua nuances.
A percepção desse “novo” mundo pode fazer-lhe se tornar um nostálgico pessimista, ou
seja, alguém que não aceita as mudanças. Ou pode gerar nele o desejo de também mudar. É
nesta perspectiva que devemos analisar a mudança da maneira como o brasileiro encara a
religião.
Os católicos nominais são 71,39% nas áreas urbanas, e 82,96% nas áreas rurais,
segundo o último Censo do IBGE. A redução do catolicismo se dá, especialmente, na periferia
das grandes cidades, onde as igrejas pentecostais disputam, ferozmente, os fieis desgarrados do
catolicismo. Estão obtendo sucesso, e até prestígio, junto às populações desses lugares.
É no meio urbano que encontramos a maior diversidade religiosa, pois aí estão:
  • 97,5% dos espíritas assumidos;
  • 96,82% dos umbandistas e candomblecistas assumidos;
  • 86,83% dos evangélicos
  • 91,6% das outras religiões minoritárias;
  • 87,22% das pessoas que não tem religião.
Isso, só confirma a nossa tese anterior. As grandes mudanças sociais ocorreram,
sobretudo, nas áreas urbanas, e justamente por isso é que há mais diversidade religiosa e
ideológica nessas áreas.
Um dado importante é que na população entre 15 e 64 anos, 73,7% são católicos
nominais, porém a maior parte dos não-católicos se situa nessa fase etária. Na população, entre
15 e 64 anos, estão:
  • 62,77% dos evangélicos;
  • 75,26% dos espíritas assumidos;
  • 64,72% dos sem-religião.
Além disso, entre os jovens de 5 e 9 anos, 27,69% não nasceram em famílias católicas,
e entre os de 10 e 24 anos, 26,3% não nasceram em família católicas.
Isso prova que as mudanças ocorridas na religiosidade do povo brasileiro vieram para
ficar.
O catolicismo precisa, urgentemente, rever as suas práticas, se quiser continuar a ser a
maior religião.

A escolaridade dos fiéis.

O desenvolvimento de um religiosidade, e o exercício da fé, independem da classe
social e da escolaridade. A capacidade de acreditar em algo está dentro de cada pessoa, e de
uma forma geral, as pessoas continuam a acreditar em Deus.
Porém, quanto menor a condição sócio-cultural, mais suscetível a pessoa está as
crendices e dogmas irracionais. Quanto menor o grau de instrução de um povo, quanto menor o
acesso a uma cidadania plena, maior será o fundamentalismo religioso, como uma válvula de
escape para os problemas cotidianos.
Ao analisarmos o indicador escolaridade (“anos de estudo”), percebemos que não
existem mudanças significativas entre as religiões, especialmente entre católicos e evangélicos.
Tomamos por base dois aspectos:
  • A quantidade de analfabetos dentro de cada religião;
  • A quantidade de fiéis com 15 ou mais anos de estudo, dentro de cada religião.
Analfabetos dentre os fiéis de cada religião (Censo/IBGE 2000):
  • 16,38% dos católicos são analfabetos;
  • 11,99% dos evangélicos são analfabetos,
                  (15,31% dos pentecostais, 8,67% dos não-pentecostais);
  • 3,29% dos espíritas são analfabetos;
  • 8,51% dos umbandistas e candomblecistas são analfabetos.
Fiéis com 15 ou mais anos de estudo, em cada religião (Censo/IBGE 2000):
  • 4,94% dos católicos;
  • 3,08% dos evangélicos,
(1,5% dos pentecostais, 6,42% dos não-pentecostais);
  • 21,11% dos espíritas;
  • 7,15% dos umbandistas e candomblecistas.
* Ter 15 ou mais anos de estudo formal, significa ter acesso ao nível superior (completo
ou incompleto). Apenas, uma pequena parcela da população brasileira (4,9% do total) consegue
chegar a esse nível. Poderíamos dizer que, de certa forma, esses brasileiros pertencem a alguma
elite (mesmo que não se considerem como tal).

Analisando os dois conjuntos de dados, concluímos que os espíritas são os mais bem
posicionados nesse quesito. Eles têm o menor percentual de fiéis no analfabetismo, e o maior
percentual entre os mais letrados. Os evangélicos pentecostais são os que tem os piores índices,
pois apenas 1,5% deles chegam a esse nível. Porém entre os analfabetos, os pentecostais são
superados pelos católicos que tem o maior índice.
Os católicos são sempre a maioria numérica em qualquer quesito, porém quando se
mede o percentual de católicos nas classes mais altas, se verifica que apenas uma minoria, entre
eles, é que se constituem como uma elite. Ou seja, não foi o catolicismo que fez com que o
individuo estivesse na elite.
Outro dado interessante é que umbandistas e candomblecistas quando se assumem,
apresentam escolaridade acima da média. Eles têm menos fiéis analfabetos que católicos e
evangélicos, e mais fiéis no nível superior, embora sejam uma minoria numérica.

Apenas 4,9% de brasileiros têm 15 anos ou mais de instrução. Nesse grupo, as religiões
se representam da seguinte maneira:
  • 74,0% são católicos;
  • 9,33% são evangélicos
  • 6,72% são espíritas;
  • 0,53% são umbandistas ou candomblecistas;
  • 2,66% são de outras religiões;
  • 6,65% não tem religião;
  • 0,11% indefinido.
Os católicos, numericamente, são a maioria nesse quesito. Porém, só chega a esse nível
uma pequena minoria de católicos, pois esses 74% de brasileiros, com 15 ou mais anos de
estudo, correspondem a apenas 4,94% de todos os brasileiros católicos.
E eles são a maioria entre os analfabetos.
É interessante notar que nesse grupo, temos 2,66% de brasileiros que professam outras
religiões, o que mostra que quanto maior o acesso a informação, maior se torna a diversidade
religiosa.

Poder aquisitivo dos fiéis.

Nesse quesito, consideramos o extrato social mais favorecido, ou seja, aquele que tem
rendimento mensal acima de 30 salários mínimos. Esse grupo representa 1,5% da população
economicamente ativa, e com mais de 10 anos de idade.
Percentagem de fiéis de cada religião que chegam a esse nível (Censo/IBGE 2000):
  • 1,44% dos católicos;
  •  0,84% dos evangélicos,
                  (0,47% dos pentecostais, 1,51% dos não-pentecostais).
  • 4,41% dos espíritas;
  • 1,37% dos umbandistas e candomblecistas;
  • 2,58% dos fiéis de outras religiões;
  • 1,59% dos sem-religião.
O percentual de fiéis, em cada religião, que são empregadores é:
  • 2,94% dos católicos;
  • 2,32% dos evangélicos
                   (1,7% dos pentecostais, e 3,53% dos não-pentecostais);
  • 6,53% dos espíritas;
  • 2,73% dos umbandistas e candomblecistas;
  • 4,3% dos fiéis de outras religiões;
  • 2,32% dos sem religião.

Agora, dentre os que ganham menos de 1/2 salário mínimo, o percentual , em cada
religião, é:
  • 5,82% dos católicos;
  • 4,79% dos evangélicos
                (5,34% dos pentecostais, e 3,83% dos não-pentecostais);
  • 1,14% dos espíritas;
  • 2,63% dos umbandistas e candomblecistas;
  • 3,79% dos fiéis de outras religiões;
  • 4,82% dos sem religião.
É interessante dizer que os católicos são 79,5% daqueles que ganham menos de 1/2
salário mínimo. Isso confirma, a tese de que quanto melhor a condição sócio-econômica, maior
a diversidade religiosa e filosófica. Todavia, os pentecostais têm o menor percentual de fiéis que
são empregadores (ou empreendedores), o que desmascara o mito da teologia da prosperidade.
Contra fatos (e dados), não há argumentos. Então, o que muda a vida do ser humano ? É
a pergunta que devemos fazer a nós mesmos...
Fazendo o cruzamento de dados, está provado que não existe relação direta entre
religião e melhora nas condições de vida do indivíduo. Até umbandistas e candomblecistas, que
são, freqüentemente, rotulados como “pobres ignorantes”, podem chegar a esse nível sócio-
econômico. E mais uma vez os espíritas (kardecistas) se destacam, pois eles têm o maior
percentual de fiéis que conseguem chegar ao nível mais alto.
Isso desmistifica a tese de alguns grupos que enfatizam a teologia da prosperidade, ou a
preservação de dogmas tradicionais. Para católicos, e evangélicos, resta aceitar o fato de que
não são “melhores”, mas apenas iguais. A religião em si, não melhora a vida do indivíduo, pois
brasileiros de religiões distintas tem padrão de vida similar.
A chance de uma vida melhor pode surgir para todos, independente da religião.

Psicopatas: frios e sem consciência.


Como identificar um PsicopataEles vivem entre nós, parecem fisicamente conosco, mas são desprovidos deste sentido tão especial: a consciência.
Muitos  seres  humanos  são  destituídos  desse  senso  de  responsabilidade  ética,  que deveria ser a base essencial de nossas relações emocionais com os outros. Sei que é difícil  de  acreditar,  mas  algumas  pessoas  nunca  experimentaram  ou  jamais experimentarão a inquietude mental, ou o menor sentimento de culpa ou remorso por desapontar, magoar, enganar ou até mesmo tirar a vida de alguém. Admitir que existem criaturas com essa natureza é quase uma rendição ao fato de que o "mal" habita entre nós, lado a lado, cara a cara. Para as pessoas que acreditam no amor e na  compaixão  como  regras  essenciais  entre  as  relações  humanas,  aceitar  essa possibilidade  é,  sem  dúvida,  bastante  perturbador.  No  entanto,  esses  indivíduos verdadeiramente  maléficos  e  ardilosos  utilizam  "disfarces"  tão  perfeitos  que acreditamos piamente que são seres humanos como nós. Eles são verdadeiros atores da vida real,  que mentem com a maior  tranquilidade,  como  se estivessem contando a verdade  mais  cristalina.  E,  assim,  conseguem  deixar  seus  instintos  maquiavélicos absolutamente imperceptíveis aos nossos olhos e sentidos, a ponto de não percebermos a diferença entre aqueles que têm consciência e aqueles que são desprovidos desse nobre atributo.
Por esse motivo, é natural que você esteja agora se perguntando, de forma íntima e angustiada, se as pessoas com as quais convive ou que fazem parte do seu mundo são dotadas de consciência ou não. Por isso, neste exato momento proponho um passeio virtual  (mental).  Pare  e  pense  nos  seus  vizinhos;  nos  jovens  nas  escolas;  nos trabalhadores da sua rua; nos profissionais de várias áreas; nos amigos dos seus amigos; nas mães que zelam pelos seus filhos; nos líderes religiosos e nos políticos de sua nação. Pare e pense agora nos seus familiares, no seu chefe, no seu subordinado. Será que todos, sem exceção, são dotados de consciência?
Torcemos para que SIM! Contudo, lamentavelmente, não é bem assim que a realidade se mostra.  Poderíamos  responder  a essa  mesma  pergunta  com  um vigoroso  NÃO! Qualquer uma das pessoas mencionadas como exemplo poderia, de fato, ser desprovida de quaisquer vestígios de consciência. Em outras palavras, elas estão absolutamente livres de constrangimentos ou julgamentos morais internos e podem fazer o quiser, de acordo com seus impulsos destrutivos. Estamos  pisando  agora  num  terreno  assustador,  intrigante  e  desafiador:  a  mente perigosa dos psicopatas. Como já foi exposto na introdução deste livro, eles recebem outros  nomes,  tais  como:  sociopatas,  personalidades  anti-sociais,  personalidades psicopáticas,  personalidades  dissociais,  entre  outros.  Muitos  estudiosos  preferem diferenciá-los, com explicações ainda subjetivas que, no meu entender, poderiam apenas confundir o leitor. Devido à falta de um consenso definitivo, a denominação dessadisfunção  comportamental  tem  despertado  acalorados  debates  entre  muitos  autores, clínicos e pesquisadores ao longo do tempo. Alguns utilizam a palavra sociopata por pensarem que fatores sociais desfavoráveis sejam capazes de causar o problema. Outras correntes que acreditam que os fatores genéticos, biológicos e psicológicos estejam envolvidos na origem do transtorno adotam o termo psicopata. Por outro lado, também não  encontramos  consenso  entre  instituições  como  a  Associação  de  Psiquiatria Americana (DSM-IV-TR)1 e a Organização Mundial de Saúde (CID-10).2 A primeira utiliza o termo Transtorno da Personalidade Anti-social, já a segunda prefere Transtorno de Personalidade Dissocial.
Em face de tantas divergências e com o intuito de facilitar o entendimento, resolvi unificar as diversas nomenclaturas e empregar apenas a palavra psicopata. Seja lá como for, uma coisa é certa: todas essas terminologias definem um perfil transgressor. O que pode suscitar  uma pequena diferenciação  entre elas é a intensidade com a qual os sintomas se manifestam. É importante ressaltar que o termo psicopata pode dar a falsa impressão de que se trata de indivíduos loucos ou doentes mentais. A palavra psicopata literalmente significa doença da mente (do grego, psyche = mente; e pathos = doença). No entanto, em termos médico-psiquiátricos,  a psicopatia  não  se  encaixa  na  visão  tradicional  das  doenças mentais. Esses indivíduos não são considerados loucos, nem apresentam qualquer tipo de  desorientação.  Também  não  sofrem  de  delírios  ou  alucinações  (como  a esquizofrenia) e tampouco apresentam intenso sofrimento mental (como a depressão ou o pânico, por exemplo). Ao contrário disso, seus atos criminosos não provêm de mentes adoecidas, mas sim de um raciocínio frio e calculista combinado com uma total incapacidade de tratar as outras pessoas como seres humanos pensantes e com sentimentos. Os psicopatas em geral são indivíduos frios, calculistas, inescrupulosos, dissimulados,
mentirosos, sedutores e que visam apenas o próprio benefício. Eles são incapazes de estabelecer vínculos afetivos ou de se colocar no lugar do outro. São desprovidos de culpa ou remorso e, uitas vezes, revelam-se agressivos e violentos. Em maior ou menor  nível  de  gravidade  e  com  formas  diferentes de  manifestarem  os  seus  atos transgressores, os psicopatas são verdadeiros "predadores sociais", em cujas veias e artérias corre um sangue gélido.
Os psicopatas são indivíduos que podem ser encontrados em qualquer raça, cultura, sociedade, credo, sexualidade, ou nível financeiro. Estão infiltrados em todos os meios sociais  e profissionais,  camuflados  de  executivos  bem-sucedidos,  líderes  religiosos, trabalhadores, "pais e mães de família", políticos etc. Certamente, cada um de nós conhece ou conhecera algumas dessas pessoas durante a sua existência. Muitos já foram manipulados por elas, alguns vivem forçosamente com elas e outros tentam reparar os danos materiais e psicológicos por elas causados.
Por isso, não se iluda! Esses indivíduos charmosos e atraentes frequentemente deixam um  rastro  de  perdas  e  destruição  por  onde  passam.  Sua  marca  principal  é  a impressionante  falta  de  consciência  nas  relações  interpessoais  estabelecidas  nos diversos ambientes do convívio humano (afetivo, profissional, familiar e social).  O jogo deles se baseia no poder e na autopromoção às custas dos outros, e eles são capazes de atropelar tudo e todos com total egocentrismo e indiferença. Muitos passam algum tempo na prisão, no entanto para a infelicidade coletiva, a grande maioria deles jamais  esteve  numa  delegacia  ou  qualquer  presídio.  Como  animais  predadores, vampiros ou parasitas humanos, esses indivíduos sempre sugam suas presas até o limite improvável de uso e abuso. Na matemática desprezível dos psicopatas, só existe o acréscimo unilateral e predatório, e somente eles são os beneficiados. Cabe aqui uma breve ressalva. Todos nós dotados de consciência podemos, em um momento  qualquer  da  vida,  magoar  ou  insultar  o  próximo;  cometer  injustiças  ou equívocos e, em casos extremos, matar alguém sob forte impacto emocional. Afinal, somos humanos e nem sempre estamos com nossa consciência funcionando a 100%: somos influenciados pelas circunstâncias ou pelas necessidades. Além disso, vivemos numa sociedade com valores distorcidos, competitiva, de poucas referências, que nos levam a querer tirar vantagens aqui e acolá. Essas derrapagens e
esses deslizes a que estamos sujeitos em nossa jornada, definitivamente, não nos tornam psicopatas. Um belo dia o senso ético nos faz refletir sobre nossas condutas, voltar atrás e rever nossos conceitos do que é certo e errado. Caso contrário, o remorso vai nos perseguir, torturar e, dependendo da extensão, jamais nos deixará em paz. Por isso, é sempre bom que o leitor tenha em mente que aqui me refiro às pessoas de má índole, que cometem suas maldades por puro prazer e diversão e sem vestígios de arrependimento.  Esta  última  palavra  simplesmente  não  existe  no  parco  repertório emocional dos psicopatas.
Como exemplo de uma pessoa capaz de assassinar alguém, tomada por violenta emoção - e nem por isso pode ser considerada uma psicopata -, cito o caso da dona de casa Maria do Carmo Ghislotti, de 31 anos. Em fevereiro de 2006, ela matou o adolescente Robson Xavier de Andrade, de 15 anos, com uma facada no pescoço, por este ter estuprado seu filho de apenas 3 anos. Maria do Carmo e seu marido flagraram Robson cometendo o delito sexual quando ouviram o choro e os gritos no quintal da casa deles. Na Delegacia de Defesa da Mulher em São Carlos, interior de São Paulo, horas depois do estupro, Maria do Carmo se reencontrou com Robson e o atacou.  Ao ser questionada sobre seu ato, ela declarou: "Na delegacia achei uma faquinha velha  num cantinho. Coloquei na cintura. O rapazinho me falou: 'Não vai dar nada, sou demenor.' Ele me olhava e dava risada. Perdi o juízo. Quando vi, já tinha feito. Ele estragou a vida do meu filho. Qual mãe ia aguentar?".
Maria  do  Carmo  foi  inocentada  pelo  júri  popular,  que  acatou  os  argumentos  dos advogados de defesa Hélder Clay e Arlindo Basílio. Eles alegaram que no momento do crime Maria do Carmo ainda estava sob forte abalo psicológico, em função da violência praticada contra seu filho.
É claro que não estou, em absoluto, defendendo que façamos justiça com as próprias mãos.  Mas,  no  meu  entender,  essa  trágica  história  é  perfeitamente  compreensível. Considero Maria do Carmo uma vítima que, no calor da emoção, agiu por amor ao seu filho.
O fenômeno da psicopatia precisa ser exposto e explicitado a toda sociedade da forma como o tema é de fato: um enigma sombrio com drásticas implicações para todas as pessoas "de bem", que lutam diariamente para a construção de uma sociedade mais justa e  humana.  Após  séculos  de  especulações  e  décadas  de  estudos  -  a  maioria  deles baseados na experiência dos seus autores -, esse mistério começa a ser revelado. Segundo o psiquiatra canadense Robert Hare, uma das maiores autoridades sobre o assunto, os psicopatas têm total ciência dos seus atos (a parte cognitiva ou racional é perfeita), ou seja, sabem perfeitamente que estão infringindo regras sociais e por que estão agindo dessa maneira. A deficiência deles (e é aí que mora o perigo) está no campo dos afetos e das emoções. Assim, para eles, tanto faz ferir, maltratar ou até matar alguém que atravesse o seu caminho ou os seus interesses, mesmo que esse alguém faça parte de seu convívio íntimo. Esses comportamentos desprezíveis são resultados de uma escolha, diga-se de passagem, exercida de forma livre e sem qualquer culpa.
A mais evidente expressão da psicopatia envolve a flagrante violação criminosa das regras  sociais.  Sem  qualquer  surpresa  adicional,  muitos  psicopatas  são  assassinos violentos e cruéis. No entanto, como já dito, a maioria deles está do lado de fora das grades, utilizando, sem qualquer consciência, habilidades maquia-vélicas contra suas vítimas, que para eles funcionam apenas como troféus de competência e inteligência. Reafirmo que é comum depararmos com pessoas de boa índole (até mesmo de alto nível intelectual e cultural) que duvidam que os psicopatas possam existir de fato. Para sanar essa  dúvida,  basta  observar  a  grande  quantidade  de  pessoas  mostradas  na  mídia diariamente: assassinos em série, pais que matam seus filhos, filhos que matam seus pais, estupradores, ladrões, golpistas, estelionatários (os famosos "171"), gangues que ateiam fogo em pessoas, homens que espancam as esposas, criminosos de colarinho branco, executivos tiranos, empresários e políticos corruptos, seqüestradores...
Todos os crimes cometidos por esses indivíduos, de pequena ou grande monta, deixamnos tão perplexos que a nossa tendência inicial é buscar explicações que sejam nomínimo razoáveis. E aí especulamos: "Ele parecia tão bom, o que será que aconteceu?", "Será que ele não regula muito bem, estava drogado ou perturbado?", "Será que foi maltratado na infância?". E, mergulhados em tantas perguntas, incorremos no erro de justificar e até entender as ações criminosas dos psicopatas. Passe a ler os jornais sob esse novo prisma (a falta de consciência) e você perceberá rapidamente que a extensão desse problema é amedrontadora. Convenhamos, não é chocante saber que tais comportamentos moralmente incompreensíveis são exibidos por pessoas aparentemente "normais" ou comuns?
É preciso estar atento para o fato de que, ao contrário do que se possa imaginar, existem muito mais psicopatas que não matam do que aqueles que chegam à desumanidade máxima de cometer um homicídio. Cuidado, os psicopatas que não matam não são, em absoluto, inofensivos! Eles são capazes de provocar grande impacto no cotidiano das pessoas e são igualmente insensíveis. Estamos muito mais propensos e vulneráveis a perder nossas economias ao cair na lábia manipuladora de um golpista do que perder a vida pelas mãos dos assassinos.
Dizem que a vida imita a arte e vice-versa. Desse ponto de vista, costumo acreditar na segunda opção: a arte imita a vida. Se observarmos bem, existem diversos filmes em que os personagens principais ou secundários dão vida, voz e ação aos diversos tipos de psicopatas, sejam eles golpistas ou estelionatários, grandes empresários ou políticos inescrupulosos,  ou  ainda  os  assassinos  cruéis  e  impiedosos  que  agem  de  forma repetitiva e sistemática (os ditos serial killers).
Desde que o cinema existe, os psicopatas sempre estiveram presentes entre seus grandes personagens. Sob esse aspecto, os filmes sobre vampiros são, a meu ver, os que sempre tiveram os psicopatas como os grandes astros em cena. Assim como os vampiros da ficção, os psicopatas estão sempre de tocaia. Nesse exato instante em que você lê este livro, eles estão agindo por aí: nas ruas, em plena luz do sol, procurando suas  "presas",  às  mesas  de seus  escritórios  envolvidos  em  negociações  escusas  ou mesmo sob o teto acolhedor de um lar que em instantes será devastado.  Eles estão por toda parte, perfeitamente disfarçados de gente comum, e assim que suas necessidades  internas  de prazer,  luxúria,  poder e controle  se manifestarem,  eles  se revelarão como realmente são: feras predadoras.
Os psicopatas são os vampiros da vida real. Não é exata-mente o nosso sangue que eles sugam, mas sim nossa energia emocional. Podemos considerá-los autênticas criaturas das trevas. Possuem um extraordinário poder de nos importunar e de nos hipnotizar com o objetivo maquiavélico de anestesiar nosso poder de julgamento e nossa racionalidade. Com  histórias  imaginárias  e  falsas  promessas  nos  fazem  sucumbir  ao  seu  jogo  e, totalmente entregues à sorte, perdemos  nossos bens materiais  ou somos dominados mental e psicologicamente.
O mais surpreendente é que, a princípio, os psicopatas aparentam ser melhores que as pessoas comuns. Mostram-se tão inteligentes, talentosos e até encantadores como o próprio conde romeno que o cinema imortalizou como o Conde Drácula. Inicialmentenos despertam confiança, simpatia e acabamos por esperar mais deles do que das outras pessoas. Ilusórias expectativas! Esperamos, mas não recebemos nada positivo e, no fim das contas, amargamos sérios prejuízos em diversos setores das nossas vidas. Sem nos darmos conta, acabamos por convidá-los a entrar em nossas vidas e quase sempre  só  percebemos  o  erro  e  o  tamanho  do  engodo  quando  eles  desaparecem inesperadamente, dei-xando-nos exaustos, adoecidos, com uma enorme dor de cabeça, a carteira  vazia,  o  coração  destroçado  e,  nos  piores  casos,  vidas  perdidas.  Para  os psicopatas, essa sucessão de fatos irresponsáveis é absolutamente "normal". Afinal de contas, seduzir e atacar uma  "presa"  é  seu  objetivo  maior,  e  tal  qual  o  escorpião  da  fábula  ilustrada  na introdução do livro, essa é a sua natureza!
Apesar de todo o estrago, muitas pessoas vitimadas por eles ainda se perguntam e exclamam: "Será que o erro foi meu ou foi dele?", "Onde foi que eu errei para que aquela pessoa que era tão boa e fascinante se transformasse num monstro sem escrúpulos?". "Meu Deus, a culpa disso tudo é minha?!"
Tenha absoluta certeza: o problema são eles. São vampiros humanos ou, se preferir, predadores sociais. Eu adoraria dizer que encontrá-los por aí é algo raro e improvável, mas se assim eu fizesse, estaria agindo como um deles: mentindo, omitindo a verdade e impossibilitando-o de se precaver contra suas maldades e perversidades.  Essa diferença entre o funcionamento emocional normal e a psicopatia é tão chocante que, quase instintivamente, recusamo-nos a acreditar que de fato possam existir pessoas com  tal  vazio  de  emoções.  Infelizmente,  essa  nossa  dificuldade  em  acreditar  na magnitude dessa diferença (ter ou não ter consciência) nos coloca permanentemente em perigo.
Moreno alto, bonito e sensual
Andréa estava separada havia um ano quando conheceu Rafael numa festa. Tratava-se de um advogado comum, com roupas despojadas, jeito sedutor e com um sorriso que contagiava todo o ambiente. Seus cabelos escuros, lisos e bem tratados emolduravam o belo rosto com olhos castanhos e encantadores.  Ele se aproximou de Andréa e iniciaram um papo animado como se já se conhecessem há muito tempo. Ela narrava sua última viagem aos Estados Unidos, onde se "refugiou" para esquecer os últimos acontecimentos. Rafael, por sua vez, contava com riqueza de detalhes sobre a Europa e por que o Velho Mundo o fascinava tanto.
Rafael delicadamente  lhe  servia  drinques,  canapés  e,  vez  por  outra,  contava  piadas absolutamente engraçadas que a faziam rir como nunca. Ele era habilidoso e performático em narrar histórias divertidas e ela se via cada vez mais encantada com aquele homem tão especial, que estava a um palmo de distância.Outros encontros vieram, e sempre tão agradáveis quanto o primeiro. Andréa pensou: "Meu Deus, isso é tudo de bom! Encontrei o homem que toda mulher sonha em ter ao seu lado!" Ela estava se apaixonando novamente e deixando para trás a amargura do casamento fracassado.
Com alguns meses de namoro, Andréa ainda não conhecia a casa e a família de Rafael. Sabia que ele morava com a mãe viúva, que ele alegava ser uma pessoa muito difícil, possessiva e indelicada com suas namoradas. Por isso, não queria novamente que sua felicidade  fosse  "ladeira  abaixo"  com  o  ciúme  doentio  de  sua  mãe.  Andréa compreendeu.
O tempo passou e algumas atitudes de Rafael começaram a intrigá-la: ao mesmo tempo em  que era  amável  e sociável,  ele  se mostrava  intolerante,  impulsivo  e,  às  vezes, preconceituoso. Um dia, ao fazerem compras juntos, agarrou um garoto pelo colarinho, simplesmente porque o menino esbarrou no seu carrinho de compras.
"Por que você foi tão agressivo com ele?", ela perguntou. "Porque não fui com a cara dele", foi a resposta. Ao saírem do supermercado, um funcionário se ofereceu para colocar as compras no carro. Rafael o empurrou com tanta força que por pouco o rapaz não tombou indefeso no meio da calçada. Partindo com o carro, constrangida, Andréa ainda ouviu o rapaz gritar: "Você está louco? Eu só quis ajudar!"
Não tocaram mais no assunto. Apesar do que aconteceu, Rafael estava calmo e dirigia com cuidado como se nada tivesse acontecido. Ligou o rádio, comprou flores pelo caminho e contou mais algumas piadas. Dessa vez ela não achou a menor graça. Andréa comentou com seus amigos sobre esses e outros episódios contraditórios, mas ninguém deu muita importância: "Ele parece ser um cara legal, deve ser apenas uma fase de estresse","Não fique tão preocupada, todos nós temos defeitos e vocês formam um belo casal". Dois meses depois, Rafael quis trocar de carro e convenceu Andréa a emprestar suas economias. Estava prestes a receber seus honorários e em poucos dias devolveria o dinheiro. Ela não questionou, apenas confiou e raspou sua poupança. Ele nunca mais deu sinal de vida.
Em pouco tempo, toda a verdade foi descoberta: Rafael é um impostor, um tremendo picareta! Não é advogado, nunca trabalhou e jamais colocou os pés na Europa. Apesar de sua inteligência, na fase escolar só estudava para passar aos trancos e barrancos. Seus pais adoravam cachorros, mas abriram mão desse prazer porque Rafael os maltratava e ria enquanto sua irmã mais nova chorava em defesa dos cães. Havia poucos anos seu pai morrera de um enfarte fulminante e lhes deixou uma gorda pensão.  Rafael já era um homem feito e ainda apelava para o bom coração de sua mãe, que lhe assegurava uma boa mesada.Andréa não foi a primeira e certamente não será a última pessoa do mundo  a ser enganada por ele. Provavelmente Rafael jamais matará alguém (isso só o tempo dirá), mas continuará vivendo de golpes "baratos", aproveitando-se de mulheres fragilizadas e se divertindo com seus feitos. Com sua habilidade de ludibriar, seduzir e até assustar, sente-se superior a todos e os vê como tolos. Alvos fáceis. Rafael não se importa com ninguém. Rafael é um psicopata.
A piedade e a generosidade das pessoas boas podem se transformar em uma folha de papel em branco assinada nas mãos de um psicopata. Quando sentimos pena estamos vulneráveis emocionalmente, e é essa a maior arma que os psicopatas podem usar contra nós.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

A Caveira de Cristal






A verdade sobre a caveira de quartzo
caveira de cristalO século dezenove foi uma época bastante esquisita. Devido especialmente as expedições inglesas, foi um dos períodos mais férteis para as descobertas arqueológicas e consequentemente um período de grande reavivamente de antigas lendas antes esquecidas. Foi no final da Década de 1890 foram encontradas no México duas caveiras de cristal, mais especificamente de quartzo transparente. Tratava-se de peças únicas no seu gênero, supostamente descobertas por mercenários que obtiveram as caveiras de camponeses locais, que por sua vez, roubaram de tumbas da região. Tratavam-se de uma réplica perfeita de uma cabeça humana talhada em um bloco de cristal de quartzo. O modo como os maias fizeram esse objeto é considerado um mistério. Para isso, precisaram de várias gerações de artesãos com 300 anos de dedicação ao polimento de cristal. A parte superior da boca atua como um prisma. Quando as caveiras são iluminada por baixo, esse prisma projeta a luz para cima fazendo com que essa saia pelos olhos, dando um aspecto bem vivaz à escultura. A complexidade do desenho, assim como a do trabalho em geral, deu força à especulação de que a escultura teria sido feita com tecnologia extraterrestre.

Ironicamente, ainda que seja uma peça da engenhosidade latina, as peças ganharam fama e nome na Europa. Uma dessas peças é conhecida como "A Caveira de Cristal Britânica". Ao que parece, a famosa joalheria Nova Iorquina Tiffany''s comprou uma das caveiras e depois, em 1898, o Museu Britânico adquiriu-a e ela permanece lá até hoje...A outra é chamada de "Caveira de Paris", exposta no Museu Trocadero, da Capital Francesa. Tem uma agulheta que atravessa de cima a baixo (supostamente feita por um grupo cristão para inserir nela uma cruz). Seu estilo, forma e corte são similares a outras caveiras de cristal mais pequenas descobertas em diversas ruínas do México e atribuídas aos Astecas.

Os traços faciais são muito toscos se comparados com as demais do mesmo material, mas esta é quase de tamanho humano.No momento em que saiu a público o mistério das caveiras de cristal apareceu o chamado crânio de Mitchell-Hedges. Esta peça foi descoberta nas ruínas de uma cidade Maia em Belize (Honduras Britânicas) em 1924.

Naquele ano, o explorador F. A. Mitchell-Hedges realizou uma expedição ao coração de Belize com a intenção - segundo o relato da sua filha adoptiva, Arma - de encontrar evidências arqueológicas da Atlântida perdida. Os nativos locais guiaram-no até umas ruínas Maias, completamente escondidas pela vegetação. Assim que a eliminaram com fogo, surgiu uma enorme cidade com muitos edifícios. Ao que parece, e antes do descobrimento oficial aquela localidade recebia, no dialecto Maia, o nome de Lubaantum, (Cidade da Pedra Caída). Arma afirma que no dia de seu 17º aniversário, enquanto caminhava pelas ruínas, algo reflectiu a luz do Sol, atraindo a sua atenção.

Naqueles dias, seu pai encontrava-se na Inglaterra arrecadando recursos financeiros para a expedição, e quando regressou, Arma mostrou-lhe imediatamente o referido lugar.Após algumas horas levantando pedras pesadas, ajudados pela população local, acharam a parte superior de um crânio de cristal perfeito. Seis semanas mais tarde, numa área diferente, cheia de andares, a mesma equipe de homens descobriu a sua mandíbula. Tratava-se de um objecto fabricado com quartzo transparente, formado por duas peças distintas, com uma mandíbula articulada e do mesmo tamanho que um crânio humano.


Em 1964, Arma Mitchell-Hedges conheceu um pesquisador de enigmas Arqueológicos chamado Frank Dorland, durante a Exposição Universal de Nova York. Dorland investigou esta caveira de cristal durante os seis anos seguintes até que, finalmente, decidiu levá-la a Hewlett Packard, uma companhia de computadores.Esta empresa, que dispõe de um dos laboratórios de cristal mais sofisticados do Mundo, examinou o crânio em 1971. Entretanto, os especialistas não se mostraram demasiados seguros em poder duplicar a peça, mesmo empregando a Tecnologia mais sofisticada ao seu alcance. Descobriram que o fabricante da caveira seguiu a natureza do quartzo, e que havia dado forma ao cristal completamente ao contrário.Assim mesmo, a caveira parecia dispor de um elaborado sistema interno de lentes e prismas, devido a forma que reflectia e refractava a luz quando esta passava através dela.O cristal de quartzo não apresenta tais propriedades no estado natural.

E ainda que muitos escultores contemporâneos afirmassem poder duplicar a forma externa da caveira de cristal de Mitchell-Hedges, ninguém produziu uma peça que produza o estranho fenómeno que é observado na peça original.Uma das chaves que poderiam desvendar o enigma das caveiras de cristal é o material com que foram talhadas: o Quartzo. Hoje,estamos familiarizados com a utilização deste material em quase todos os aparelhos electrónicos, inclusive os Micro-Chips utilizados em computadores. A propriedade do Quartzo é a sua capacidade de amplificar qualquer corrente eléctrica que passe através de sEssa é a razão por que os computadores são cada vez mais pequenos, já que só necessitam de uma pequena parcela de corrente eléctrica para que funcionem.

O consenso geral de quem investigou o mistério é que possivelmente uma ou várias Civilizações Antigas, dotadas de grande sabedoria e avançados conhecimentos cósmicos - se não forem de origem Extraterrestre - introduziram as caveiras de cristal entre seres humanos com a intenção de proporcionar-lhes uma poderosa ferramenta.Tal instrumento seria capaz de ajudar a humanidade a aumentar seu nível de consciência e vibração. Muito se tem a falar sobre estes enigmáticos crânios de vidro, pois as conclusões não são ainda definitivas. Tudo o que se pode dizer é que muitas Culturas Indígenas - Incas, Índios Norte-Americanos, Maias, Astecas, Aborígenes Africanos, etc - conheciam sua existência.

As Origens do Tarô


consultar tarotTudo começou com o livro Tarô dos Boêmios (Paris, 1889) que seguramente é o primeiro na história do Tarot a abordar os arcanos, tanto sob a ótica da metafísica cabalística quanto dos jogos adivinhatórios numa única obra, pois os outros autores de sua época ou se reportavam a um ou a outro. O livro em questão foi escrito pelo médico espanhol, radicado na França, Gérard Anaclet Vincent Encausse (1865-1917), conhecido como Papus. Encontrei, com suas próprias palavras, toda sua vaidade e arrogância espiritual explicitada nas páginas 273/275 e depois no final da 309 da edição brasileira. Resumindo o conteúdo: Papus dizia que as mulheres eram todas burras o suficiente para não entenderem sua obra cheia de números, letras hebraicas e deduções abstratas, que pertencia aos homens da ciência, mas como era tradição delas jogarem cartas, ele escreveria algumas páginas para não se aborrecerem; esclarece às ignorantes leitoras que o homem tem a razão e a mulher a intuição. Pensei - Homens não jogavam cartas!? Por que ele exultou a cabala e desdenhou a cartomancia?
Tal fato foi uma luz no fim do túnel para começar o que desejava: entender um pouco do passado do Tarot. Como um detetive segui os passos de Papus para entender seu chovenismo; observei a bibliografia do Tarot dos Boêmios e percebi que de consistente e lógico sobre o estudo das cartas de Tarot, ele citava os autores de sua época até, no máximo, um século antes, precisamente, até 1775 sobre as idéias de Antoine Court de Gebelin. Comecei a ler algumas obras possíveis: Etteila (1787), Claude de Saint Martin (1790), Saint Yves d'Alveydre (1830), J.A.Vaillant (1850), Eliphas Lévi (1854), Estanislau Guaita (1886), Mac Gregor Mathers (1888), Piobb (1890), mas não cheguei a lugar nenhum porque observei que todos citavam uns aos outros e todos tinham como ponto de apoio Gebelin e Lévi. Até ai nenhuma novidade, pois todos os estudantes de Tarot já ouviram falar que eles escreveram uma vasta literatura sobre as origens do Tarot. Bem, então o melhor era começar pelo mais antigo.
Ao pesquisar Antoine Court de Gebelin (1725-1784) fiquei estarrecido com a descoberta que foi negligenciada, não sei se proposital, por ingenuidade ou falta de maiores informações dos ditos mestres ocultistas do século 19. Gebelin era filho do famoso pastor evangélico francês Antonie Court (1695-1760) que restaurou a Igreja reformada na França, fundou um importante seminário para a formação de pastores evangélicos, sendo um grande historiador de sua época. Gebelin seguiu os passos do pai, tornando-se um pastor e mais tarde, também influenciado pelo pai, interessou-se por mitologia, história e lingüística. Embora alguns livros o citem como ocultista, talvez, devido a sua obra sobre o Tarot, em sua biografia não encontrei qualquer referência a este respeito; em todo caso é mister esclarecer que ele não teve uma vida dedicada ao esoterismo. Tinha uma obsessão junto com o pai: descobrirem a língua primeva que dera origem a todas as outras e/ou explicaria as várias mitologias conhecidas; também acreditavam que esta língua seriam símbolos, talvez os hieróglifos egípcios.
Certo dia, como ele mesmo diz em sua obra (Le Mond Primitif...), inclusive citado no Tarot do Boêmios, página 231, foi convidado a conhecer um jogo de cartas que desconhecia e em menos de quinze minutos declarou ser um livro egípcio salvo das chamas, explicando, imediatamente, aos presentes, todas as alegorias das cartas. Escreveu, em sua obra, uma retórica do Tarot como sendo a chave dos símbolos da língua primeva e da mitologia; fez uma relação dos arcanos com as letras egípcias e hebraicas e, revelou que a tradução egípcia da palavra "tarot" é "tar" = caminho, estrada e "ot" = rei, real. Para tornar suas teorias pessoais mais contundentes, lançou mão de seu conhecimento em história, abordando a trajetória do Tarot (Tarot dos Boêmios, página 229 e 233), disse que ninguém antes dele desconfiou de sua ilustre origem porque as imagens eram muito comuns e por isso nenhum cientista dignou-se a estudá-las; também revelou que durante os primeiros séculos da Igreja os egípcios, que estavam muito próximos dos romanos (Era Copta, conversão absoluta do Egito ao Cristianismo - 313 a 631 d.C.), ensinaram-lhes o culto de Ísis e os jogos de cartas de seu cerimonial; assim, o jogo de Tarot ficou limitado à Itália e Alemanha (Santo Império Romano); posteriormente, chegou ao sul da França (Provença, Avignon, Marselha) e, ainda desconhecido, no norte (Paris, Lion).
A primeira vez que li sobre essa história, não atentei ao fato de que numa simples olhadela Gebelin descobre ser o Tarot um livro egípcio, que fora ensinado aos romanos pelos próprios egípcios e que ninguém antes dele sabia a respeito - se aceitarmos esta tese como verdadeira, como é possível os romanos (católicos) aprenderem uma devoção (culto de Ísis) considerada pagã aos moldes da época, passando de geração a geração durante mais de 1.500 anos (de 313 a 1775), incólume pela própria Santa Inquisição (1230/1834), sendo disseminada nas regiões que ele cita e absolutamente ninguém escreve ou fala nada a respeito de sua origem egípcia? Então, onde estaria a tradição egípcia do Tarot tão exultada pelos seus conterrâneos posteriores? No período por ele citado, a Itália teve renomados ocultistas, alquimistas, astrólogos, magistas, historiadores, filósofos, arqueólogos, enciclopedistas, todos formadores de opinião e de grande saber - o hermetismo, a gnose e a cabala eram amplamente disseminados -, e Gebelin chama-os de incapazes de observar o que ele, em sua enorme sapiência evangélica, descobriu literalmente em quinze minutos! Observe que Gebelin NÃO descobriu tal fato (a origem egípcia do Tarot) em algum livro perdido no tempo, em algum documento antigo, em alguma ordem esotérica ou revelado por alguma entidade espiritual! Então, tudo o que falamos a respeito da origem egípcia do Tarot surgiu numa simples visita a uma cartomante, numa tarde de sábado, que nem ela e nem a Europa sabiam nada a respeito? Eu me questionava.
Gebelin ficou rico e famoso com suas obras e, a partir de então, o Tarot se tornou uma febre parisiense, todos queriam aprender o jogo egípcio; as ciganas que eram considerados, na época, de origem egípcia, embarcaram na onda e começaram a ler cartas! Ele publicou um Tarot junto com sua obra, mas não se tem notícias de que tenha jogado ou ensinado, pois não se preocupou com jogos ou métodos em seu livro, somente com o Tarot enquanto revelação da escrita egípcia e com os símbolos das cartas como sendo a chave da mitologia. Bem, Gebelin sempre fora uma pessoa respeitada muito antes de falar sobre as origens do Tarot, era filho de um famoso pastor evangélico, historiador reconhecido e amigo pessoal de Benjamim Franklin (!). Com certeza merecia créditos; eu daria, se vivesse naquela época. Tenho que esclarecer mais um fato: Gebelin não escreveu Le Mond Primitif... para o ocultismo, foi em função de sua vaidade em buscar a mesma fama de seu pai que toda a sua obra é voltada em esclarecer a mitologia egípcia e romana e não propriamente o Tarot; embora os ocultistas o citem como tal depois de sua morte, ele era acima de tudo um evangélico! Suas obras e idéias percorreram o mundo da ciência, todos os arqueólogos queriam falar com ele, pois era uma febre francesa descobrir as chaves dos hieróglifos egípcios. Nenhum ocultista esteve com ele ou o citou em alguma obra até alguns anos após sua morte; somente uma pessoa que se tem notícia o procurou em vida para conversar sobre a origem egípcia e fins adivinhatórios: o francês Etteila, anagrama de seu verdadeiro nome Aliette.
Não encontrei muitas referências sobre a vida de Etteila, nome completo ou datas pessoais, além do que está exposto nas obras dos ocultistas do século 19; diziam que ele era um peruqueiro da corte francesa, professor de álgebra, amigo íntimo de Mlle Lenormand (famosa cartomante de Napoleão) e de Julia Orsini (outra famosa cartomante francesa) - não se tem notícias de que tivesse pertencido a alguma ordem ou fraternidade oculta; em todas as suas referências é tido como charlatão. Lévi e Papus revelam que ele se apropriou para benefício próprio das idéias da origem egípcia, da relação das letras hebraicas e egípcias feitas por Gebelin, criando seu próprio Tarot corrigido, compilando as obras de suas amigas, escrevendo onze livros. Instalou-se num dos mais luxuosos hotéis de Paris, Hotel de Crillon, e começou a atender e ensinar a nata parisiense! Voilá, cherry! Gebelin e Etteila devem ter falecido ricos e felizes; um sob a visão da fama científica e o outro do misticismo.
Vamos sair do contexto ocultista e voltar aos historiadores e arqueólogos que devem ter acreditado na figura respeitada, aos olhos parisienses, de Antoine Court de Gebelin, até que Jean-François Champollion (1790-1832) decifrasse os hieróglifos através da Pedra de Roseta. Champollion publicou em 1822 a relação legítima do alfabeto egípcio e seus fonemas; este trabalho lhe rendeu o disputado cargo de curador do departamento egípcio do Museu do Louvre, em Paris, em 1826. Após sua morte, foi publicado, em 1835, seu mais precioso trabalho onde revela toda a gramática e literatura egípcia jamais revelada em toda a história desde o seu desaparecimento na Era Copta. Descobre-se que tudo o que Gebelin escrevera a respeito do Tarot como língua primeva e codificação dos hieróglifos egípcios estava errado, em nada se sustentava perante as verdadeiras revelações da história do Egito - não existe a palavra tarot na língua egípcia (!), muito menos o que supostamente Gebelin disse ter traduzido (!); também, tudo o que ele decifrara de alguns hieróglifos estava absolutamente errado (!) - esta é a parte negligenciada pelos ocultistas, bem como a forma inconsistente da revelação de que precisou de quinze minutos para descobrir a própria origem das cartas de Tarot - Porque? Eu me perguntava frequentemente.
As respostas começaram a surgir quando reli as obras de Eliphas Lévi (1810-1875), pseudônimo de Alphonse Louis Constant, tido como padre por se instalar por algum tempo na ordem franciscana, em Paris, para ter acesso à vasta biblioteca sobre a cabala cristã, mas não era um padre oficializado na Igreja Católica Apostólica Romana, como se pressupõe - a roupa faz o monge, já diz o ditado popular. Um fato incontestável foi que Gebelin e Etteila mexeram com o imaginário popular e, consequentemente, dos esotéricos, pois fica muito claro nas obras de todos os ocultistas do final do século 18 e início do 19 que no âmbito tradicional do universo das ciências ocultas nunca se analisou ou questionou o Tarot - são palavras do próprio Gebelin e de todos posteriores a ele, sem exceção; este é sem dúvida um dos dados mais importantes a serem analisados no que tange à tão exultada expressão "tradição do Tarot", pois tradição não é algo que se extingue e depois reparece.
Lévi, em seu primeiro livro (1854), Dogma e Ritual, páginas 405 a 421, e no segundo, História da Magia, páginas 76 e 242 a 252, execra as obras e a conduta de Etteila, contesta a origem egípcia de Gebelin e repudia a palavra tar=caminho e ot=real. Vai mais além, introduz o conceito de que Moisés escondeu nos símbolos do Tarot a verdadeira cabala e depois ensinou aos egípcios o jogo de carta; também, pela primeira vez, um ocultista, em toda a história da magia, faz uma acalentada tese de associações das letras hebraicas com os arcanos e diz que a palavra tarot é análoga a palavra sagrada IHVH ( h w h y ), sendo também uma variação das palavras Rota / Ot-tara / Hathor / Ator / Tora / Astaroth / Tika. Assim como no livro de Papus, numa segunda leitura, também encontrei críticas às mulheres na obra de Lévi, um pouco mais cruéis eu diria - desdenha Mlle Lenormand chamando-a de gorda, feia, ininteligível e louca, e duas outras cartomantes, Madame Bouche e Krudener, de prostitutas (coquetes ou Salomé à época) - História da Magia, paginas 346 e 347. Reparei que tanto Lévi quanto Papus condenavam as práticas femininas de cartomancia, achavam que elas usurpavam o poder do homem na ciência oculta... Indagava-me, por quê?
Bem, encontrei duas passagens em seu livro História da Magia, páginas 78 e 251, e uma no Dogma e Ritual, página 420, que me deixaram muito intrigado; pareceu-me que ele sabia da verdade sobre o passado do Tarot, mas não sei se foi por ingenuidade ou se proposital, preferiu não dar importância. Primeiro, ele diz que o Tarot mais antigo que se conhece é o Tarot de Gringonneur (1392) e que a Biblioteca Imperial tem uma vasta coleção de todas as épocas; segundo, ele contesta a origem dos ciganos revelada na obra de J.A.Vaillant - Les Rômes, historie vraie des vrais Bohémiens, 1853; a mesma obra que Papus faria sua apologia do Tarot mais tarde -; Vaillant diz que os ciganos eram egípcios e entraram na Europa no início do século 15, chegando à Paris em agosto de 1427; e Levi diz que ele estava errado pois os ciganos são originários da Índia, fato revelado historicamente à época. Temos três verdades absolutas: os ciganos são indianos, entraram no início do século 15, depois do surgimento do Tarot no fim do século 14. Surgem minhas questões: por que Lévi não questionou o porquê de tanto tempo sem que nenhum renomado ocultista falasse a respeito, visto que as cartas eram amplamente conhecidas? Por que Papus insistiu na idéia de que os ciganos eram egípcios, se já era de conhecimento publico sua origem indiana? Por que todos sustentaram a história egípcia de Gebelin, tanto na tradução da palavra Tarot quanto em sua origem, visto que, com a descoberta de Champollion, nada se descobriu em pergaminhos e papiros que as amparassem?
Antes de continuar é importante salientar que TODOS os conceitos que Lévi descreve sobre o Tarot NÃO são dele, pois Gebelin já havia feito a equiparação das letras hebraicas e o ocultista Claude de Saint Martin (1743-1803) publicou em 1792, na obra Table Natural du Rapports..., o restante que Lévi descreve para o Tarot; se você tiver paciência irá reparar em todos os escritos de Lévi que Saint Martin é constantemente citado. Outro dado impressionante, que também não havia percebido na primeira vez, é que absolutamente tudo o que Lévi e Papus escrevem sobre a cabala e os sistemas ritualísticos, podem ser encontrados nos seguintes livros da mesma época: Magus de Frances Barret (1801), A língua hebraica restituída de Fabre D`Olivet (1825) e A ciência cabalística de Lenan (1825). Vamos observar que da mesma forma que Gebelin, Lévi não se baseou em nenhum escrito antigo, lenda ou fraternidade oculta para estabelecer sua relação entre a cabala e o Tarot, foi a partir das idéias do próprio Gebelin e Saint Martin. Portanto, assim como Gebelin inventou a história egípcia, Lévi inventou a história hebraica, pois não há registros de nenhum ocultista - cabalista, magista, alquimista, gnóstico, hermetista - fraternidade ou ordem mística que tenha comentado, escrito ou usado o Tarot antes das obras deles. Para se entender o passado do Tarot ou o que escreveram sobre ele é mister observar os dados históricos; a crença e o misticismo pessoal, neste caso, somente levará à equívocos e discussões inúteis.
Contudo, verdade seja dita sobre as obras de Éliphas Lévi com relação aos textos de magia, cabala e filosofia: são perfeitos e maravilhosos; o que estou manifestando é a relação histórica do Tarot e a forma que entrou no ocultismo. A esta altura já tinha uma noção bem razoável que nem Gebelin e nem Lévi possuíam, ou seja, nada que sustentasse de forma verossímil o passado do Tarot como encontramos nas outras ciências: alquimia, hermetismo, astrologia, numerologia, i ching, magia, cabala. Está absolutamente claro o círculo vicioso de informações, um compilando do outro; talvez eles estivessem disputando quem seria o "pai da criança". Mas tudo tem seu lado positivo, o interesse dos ocultistas pelo Tarot cresceu e, cada um ao seu modo contribuiu para a exploração inesgotável dos arcanos. Tudo é válido no âmbito de sua exploração simbólica, mas a consciência de seu surgimento é um passo importante para o seu futuro.
Eliphas Levi, por ter uma linguagem metafísica muito eloqüente e por sua dissertação dos conceitos cabalísticos em associação ao Tarot, chamou a atenção dos ocultistas ingleses, principalmente, Mac Gregor Mathers (1854-1918). Mac Gregor adota o sistema cabalístico de Lévi, mas faz correções segundo seu entendimento pessoal para aplicar, pela primeira vez na história da magia, o Tarot como forma de meditação e monografia para atingir os degraus de uma ordem esotérica: a Golden Dawn, 1888; esta fraternidade mudaria por completo a visão do Tarot no mundo (!) através de seus dissidentes no início do século 20 - Arthur Waite, Carl Zain, Israel Regardie, Aliester Crowley. No mesmo ano da fundação dessa ordem, ele lança um livro, The Tarot, its occult signification, com base no trabalho de Lévi, Guaita, Etteila, Gebelin, acrescentando correções que achou necessárias sobre a relação da cabala com o Tarot.
Voltemos a Papus - depois de estudar os autores citados até o momento, reli o Tarot dos Boêmios (já era a quinta vez!) e finalmente descobri que o livro é uma fonte arqueológica do Tarot! Tudo está absolutamente lá, só não vê quem não quer! Em cada título de seu livro há subtítulos se referindo a todos os demais. Dentre as obras de Tarot que ele possuía em sua biblioteca, Gebelin era o autor mais antigo e Mac Gregor o mais atual em sua época! Então, vamos observar a principal cadeia viciosa sobre as origens do Tarot: Gebelin (1775) - Etteila (1783) - Saint Martin (1792) - Vaillant (1853) - Lévi (1854) - Christian (1854) - d´Alveydre (1884) - Guaita (1886) - Mathers (1888) - Barlet (1889) - Papus (1889) e ponto final! Um se baseou no outro, cada qual colocou sua teoria, fez suas próprias correções e ninguém questionou nada - ingenuidade, manipulação, arrogância, vaidade, eloquência? Não saberia responder. A verdade dói, em mim também doeu. Eles tatearam no escuro para falarem sobre o Tarot; uma realidade bem cruel é que eles não sabiam absolutamente nada sobre o Tarot e suas origens, mas uma coisa eu achei interessante: por mais que fizessem a retórica cabalística e a verborréia para provar seus pontos de vistas, as explicações práticas sobre os jogos do Tarot terminavam nas cartilhas de Etteila e das cartomantes. Por que? Eu continuava a me indagar. Sinceramente, independente das falhas históricas grotescas que estou questionando em suas obras, eu os indicaria como os patronos do Tarot - Gebelin, Etteila, Lévi, Mac Gregor e Papus; foi graças a estes cinco personagens que o Tarot é o que é atualmente.
A esta altura, sentia-me como um órfão, abandonado de pai e mãe! Eu estava quase jogando para o alto minhas convicções de que o Tarot era sagrado, intocável pelo tempo, guardado a sete chaves por homens eruditos e que escondia toda ciência antiga; mas eu podia estar errado, eu queria acreditar em seu aspecto intocável pela profanidade! A forma como chegou a pseudo história egípcia, cigana ou hebraica do Tarot aos nossos ouvidos eu já havia descoberto: a idéia de Antonie Court de Gebelin foi ampliada por Etteila, Lévi e Mac Gregor; Papus fez uma amalgama de todos; chegou ao século 20 através das mãos dos dissidentes da Golden Dawn, que mantiveram as mesmas histórias, também acrescentando outras, todos corrigindo as imagens do Tarot, todos querendo os louros da vitória, e assim por diante... Mas e antes? Estaria, o Tarot, numa arca sagrada aos pés dos guardiões da verdade? Sendo escondido, noite após noite, do famigerado Santo Ofício?...
Durante anos bisbilhotei várias obras, referências históricas, museus, bibliotecas - tudo está detalhado em meu livro -, fiz uma mapa do tempo de tudo o que havia sobre o Tarot. Confesso que ri muito quando comecei a ver os verdadeiros fatos. É uma pena o século 19 ter sido desprovido do telefone, fax, computador, e-mail, internet, avião, pois não estaríamos dois séculos atrasados nos estudos do Tarot, inventando histórias e distorcendo a potencialidade do uso dos arcanos! Os dados históricos destronam qualquer idéia mais romântica a respeito do Tarot, mas em nada invalidam seu potencial; para continuar este manifesto do futuro do Tarot, vamos separar o que é o Tarot do que querem que o Tarot seja!
Minhas convicções sobre a "tradição" do Tarot começaram a ruir quando eu descobri que entre 1583 e 1811 na Espanha, e entre 1769 e 1832 em Portugal, houve estatais na produção de cartas de Tarot, produziam em média 250.000 pacotes por mês para consumo interno e envio para suas colônias ao redor do mundo! Para jogar adivinhação com o Tarot!? Não, para jogos lúdicos! Sim, o Tarot é usado até os dias atuais na Europa como uma jogatina, principalmente, na França, onde há campeonatos anuais; eu mesmo, já tive a oportunidade de observar um em 1998, em Avignon. O ofício de artesão de Tarot era uma profissão (!) em toda a Europa desde 1455 até o fim do século 19! As cartas pintadas à mão (valiosíssimas) constavam do espólio de famílias nobres, com clérigos! O Tarot teve altas tributações ficais em todos os países desde o século 16 até o início do século 20 - uma particularidade que achei fantástica (para acabar de vez com meu misticismo com o Tarot) foi que em 1751, o rei da França, Luiz XV, ordenou que todas as taxas provenientes do Tarot de todo território fosse para o fundo monetário da Academia Militar! E mais: os primeiros registros oficiais de cartomancia datam por volta de 1540 !!!!!
- Meu Deus!... Onde estava a Santa Inquisição que todos dizem ter persiguido o Tarot? Dormindo? O arcano 15, O Diabo, que possivelmente condenaria o Tarot aos olhos da Igreja, sempre esteve presente em todas as mesas da Europa, desde as primeiras cartas que se tem notícia no final do século 14 até os dias atuais! Como as cartomantes passaram incólumes pela fogueira? Por que Gebelin disse desconhecer as cartas de Tarot se havia alta produção de cartas em Paris e por toda Europa? Por que nenhum ocultista renomado da Europa anterior a Gebelin nunca prestou atenção na cartomancia ou nos símbolos das cartas? Por que??? Por que o Tarot não fazia parte do círculo ocultista?
Por fim soube que o Tarot não se chamava Tarot (!) e nem as cartas se chamavam de arcanos (!). - Onde está a tão exultada tradição milenar dita por Lévi e Papus sobre o nome "Tarot"? Foi a última coisa que me lembro perguntar sobre o passado do Tarot, antes de aterrissar meus pés no chão e ver que o Tarot ainda é um bebê se comparado à astrologia, numerologia, cabala, sem nenhum passado extraordinário... Os primeiros registros datam por volta de 1370/90, o que denominamos de Tarot era chamado de Ludus Cartarum (cartas lúdicas) ou Naibis; depois, por volta de 1440/1500, passou a se chamar Trunfos (mais usual à epoca), Tarocco ou Tarochino; por volta de 1550/1600 de Trunfos do Tarocco na Itália e Trunfos do Tarot na França, também outras variações chamadas de Minchiatte ou Florentino; somente por volta de 1850/1900 surge o termo Arcano do Tarot; e no século 20 cada país passa a nacionalizar a palavra: Tarocco (Itália); Taroc (países germânicos); Tarok (leste europeu); Tarot (língua portuguesa) e Tarot (na maioria dos países). Observe os espaços de datas, não são meses, são em média de um século. Imagine seu eu lhe dissesse que você iria casar daqui a cem anos? Sim, esse é o tempo de uma nominação para outra! Uma média de um século! Cadê a tradição? Onde está a base histórica de Gebelin e de todos os outros que o seguiram? A palavra "tarot" surge na França por volta de 1590/95 nos estatutos da Associação de Fabricantes de Cartas Parisienses!
As descobertas subsequentes não me aborreceram mais, muito pelo contrário: comecei a vibrar por ter certeza de que absolutamente ninguém sabe nada além do que está escrito (de certo ou errado) nos livros! Não tive nenhum trauma quando procurei referências dos grandes ocultistas renomados, formadores de opiniões, cátedras das ciências ocultas, e não encontrei nada que tivessem dito sobre o Tarot ou algo que se assemelhasse a ele. Para dizer a verdade, encontrei somente um único ocultista sem grande expressão que fez uma referência aos quatro elementos em relação ao Tarot - Guilleume de Postel (1510-1581) -, mas ninguém deu ouvidos a sua teoria até Lévi e Papus fazerem sua apologia do passado longínquo do Tarot e citá-lo como destaque. Em 400 anos de existência do Tarot, desde os primeiros registros oficiais até a história egípcia de Gebelin (~1370/~1770), somente uma única pessoa fez referências esotéricas!? Este fato corrobora ainda mais o desinteresse pela classe ocultista dos séculos 14 ao 18 pelo Tarot e sua cartomancia.
Porém, encontrei algo surpreendente fora dos círculos esotéricos sobre as cartas do Tarot: crônicas questionando o que seriam aquelas imagens enigmáticas, poesias líricas, óperas, romances, murais, quadros, uma vasta expressão artística a partir do século 15; assim, as cartas do Tarot estavam inseridas no contexto social, sendo conhecidas por todos! Repito: um fato muito curioso é que as cartilhas sobre a taromancia começaram a surgir por volta de 1530-50 e o Tarot começou a ser visto também como algo para predizer a sorte e o futuro. Por que nenhum renomado ocultista sequer comentou sobre isso - Basílio Valentin (1398-1450), Picco della Mirandola (1463-1494), Paracelso (1493-1541), Cornelius Agrippa (1486-1535), John Dee (1527-1608) -, principalmente, Robert Fludd (1574-1637) e Jacob Boehme (1575-1624) que resumiram todos os oráculos de sua época? Os aspectos de jogos lúdicos e adivinhatórios andaram lado a lado e, estes, paralelos com a astrologia, numerologia, cabala, mitologia, hermetismo, alquimia, magia até se juntarem nas obras de Gebelin, Levi. Mac Gregor e Papus. Outro dado curioso que percebi: somente mulheres jogavam o Tarot (ditas cartomantes)!... Comecei a pensar sobre a sociedade até o final do século 19 - era patriarcal e misógina! Será que houve uma descrença no sistema de cartas por causa do contexto feminino? Ou será que pelo fato do Tarot expressar símbolos comuns de sua época não teria nenhum valor ocultista? Neste caso, eu acredito que foram ambos os fatores!
Lembram como comecei minha pesquisa que durou dez anos (1987/97)? Sim, voltemos ao cavalo de Tróia: Gebelin, Lévi e Papus; eles me forneceram as peças de todo o quebra-cabeça. A partir da bizarra história egípcia sobre o Tarot criada por Gebelin, os ocultistas viram uma possibilidade de abarcarem as técnicas de cartomancia, sem caírem no ridículo de usarem "uma arte feminina nos vôos da imaginação", como disse Papus, ou usaram a arte das "loucas e coquetes", segundo Lévi. Como? Fizeram uma retórica metafísica impossível delas compreenderem - se reparar na história do ocultismo, da magia, da cabala e da alquimia observará que não há uma única mulher (eram todas consideradas bruxas, ignorantes e maldosas!) que anteceda a Helena Blavatsky (1831-1891)! Ela foi muito "macho" em peitar todos os ocultistas eruditos. Assim, não foi difícil começarem a estudar uma arte feminina, que estava ao lado de todos eles por tantos séculos, mas que nunca ousaram tocar por puro preconceito machista. Os homens (ocultistas eruditos ou não) sempre tiveram a mulher como burra e incapaz, um ser inferior; como eles iriam admitir que o poder feminino descobriria uma arte oracular que somente pertenciam às sábias mentes masculinas?
Afinal, nada melhor do que a imaginação e a intuição feminina para descobrir o significado simbólico das cartas ao invés da razão e da lógica dos eruditos que necessitavam de fórmulas complicadas para tudo. Para mim ficou muito claro o porquê da ausência do estudo do Tarot entre os renomados ocultistas até o século 18 e, principalmente, o porquê de tanto escárnio nas obras de Lévi e Papus sobre as cartomantes ou, no caso de Etteila, um homem que se atreveu a jogar cartas como elas, denegrindo a imagem do "macho esotérico que conjura demônios"... Coisas do século passado... Hoje, homens e mulheres jogam o Tarot; mas você deve ter percebido que ainda temos uma resistência em aceitar os jogos adivinhatórios e tentamos sempre lucubrá-lo com a mais alta metafísica - talvez seja o ranço herdado das obras de Levi, Papus, Mac Gregor e seus dissidentes.
Vamos falar a verdade? Não conheço um só estudante de Tarot, em qualquer lugar do mundo, que se diga "cabalista da tradição em busca do sagrado", ou que diga "o Tarot é uma arte do autoconhecimento", que não esteja diariamente se profanando, jogando o Tarot, querendo saber dos acontecimentos e das causas! Vamos ser honestos? No fundo todos querem aprender a abrir o Tarot como qualquer cartomante antiga! Pode falar que é orientação, autoconhecimento, espiritualidade, tradição, não importa, no fundo terminamos onde Etteila começou; aliás, aperfeiçoamos primorosamente as suas cartilhas e de todas as cartomantes! Assim como os ocultistas do século 19, também estamos nos escondendo atrás dos estudos da cabala, mitologia, astrologia, psicologia, para encontrarmos a dignidade e o direito de jogarmos cartas! Estaremos nos enganando, complicando uma arte que poderia ser simples?
Embora o Tarot fosse conhecido e utilizado há séculos na Itália, Alemanha, Suíça, Espanha e França, foi precisamente em Paris que ele criou sua própria luz espiritual, tanto no surgimento de seu nome (tarot), quanto em sua centrifugação com o ocultismo; observe que todos os autores que descrevemos são franceses e publicaram suas obras na Cidade Luz. Bem, no início do século 20, principalmente, depois da 1º Guerra Mundial, tudo mudou para a imagem feminina: elas conquistaram o direito de trabalhar, de votar, de viver sozinha, escolher sua família e, finalmente, começaram a desenhar o Tarot... ôps, esqueci de dizer, somente homens podiam ser artesãos de Tarot até o início do século 20. A primeira mulher a pintar um Tarot foi Pamela Smith que desenhou o Rider-Waite Tarot, publicado em 1910... Hoje elas tomam seu lugar glorioso no pódio das sibilas e pitonisas parisienses, italianas, americanas, espanholas, brasileiras... Avante mulheres tomem as rédeas do Tarot: ele pertence a vocês - agora posso usar a palavra - por tradição!
Quem sabe, talvez, se tivéssemos a humildade e a dignidade de admitir que o Tarot opera perfeitamente no mundo oracular e divino, mas não existe todo esse passado magnífico, mágico e tradicional que nos imputam ou em que queremos acreditar; ou ainda melhor, aceitar uma verdade tão clara e evidente: ele é um oráculo recente, jovem, aberto à exploração, ávido por uma estruturação, que nasceu há poucos séculos e depende de nós preservá-lo, estudá-lo, tomando o devido cuidado em não deformar seus símbolos por puro egocentrismo e perder essa arte maravilhosa, esse alfabeto mágico, que casualmente foi descoberto! Também por quem foi descoberto não saberemos, como não saberemos nada além do que existe de real e concreto a respeito dele; se os verdadeiros homens eruditos que se debruçavam na maravilhosa arte alquímica e hermética ou de toda espécie de filosofia oculta não sabiam, ou não procuraram saber e investigar as cartas do Tarot, nós que perdemos o elo simbólico e a visão filosófico-espiritual do mundo iremos descobrir? Nós que nos baseamos em todo o manancial de cultura simbólica desses eruditos medievais e renascentistas, que não revelaram nada, iremos desvendar? A resposta é um sonoro NÃO; o restante será apenas conjecturas insólitas e inverossímeis. O Tarot é como uma criança que precisa ser alimentada e educada, senão poderá se perder durante sua vida com tantos Tarots corrigidos que surgem e tantas informações desencontradas.
Em todo caso é compreensível o fato dos antigos ocultistas não aceitarem o Tarot no âmbito esotérico, não pelo seu aspecto de pertencer às mulheres, mas pela falta de conhecimento do conceito de "arquétipo" - padrão de comportamento que é intrínseco na vida humana, desenvolvido na metade do século 20! Hoje observamos o símbolo e não propriamente a imagem desenhada, tentamos nos transportar além de sua figura para atingir um sentido de significações. Assim, o Tarot se tornou um conjunto de modelo comportamental humano, adapta-se a qualquer sistema que se queira trabalhar ou estudar. Talvez algum iluminado, um sábio ocultista, realmente o tenha criado, pois sua estrutura não deixa dúvidas de que há elementos bem significativos de toda ciência oculta, porém acredito que não tenha sido inventado para a finalidade que utilizamos atualmente... Coisas do destino... Também observe que se aceitarmos a associação do Tarot-cabala que Levi desenvolveu, o sistema desenvolvido por Mac Gregor ou Waite estarão errados; se aceitarmos o sistema cabalístico de Crowley, o de Mac Gregor, Waite e Levi estarão errados; se aceitarmos o de Mac Gregor e Waite, o de Levi e Crowley, também, estarão errados - o mesmo ocorre com os trabalhos de Juliet S.Burk (mitologia grega), Clive Barret (mitologia nórdica), Falconnier (mitologia egípica), Anna Franklin (mitologia céltica), que se negam um ao outro em analogias! -. Quem está com a razão? Todos! Qualquer sistema se adapta ao Tarot porque ele é um conjunto arquetípico! Isto é que faz o Tarot tão rico em sua expressão e, talvez, confuso à primeira vista.
Tenho lutado para que todos desenvolvam uma elaboração estrutural do Tarot, sem ego pessoal ou assimilação de outras doutrinas, que escrevam ou conceituam mais do que apenas desenhar "seu próprio Tarot", porque fica evidente sua deformação simbólica à medida que todos querem ter a "revelação mágica dos símbolos"; mas para tal, não podemos nos negar nada, nem que seja o absurdo de começarmos do nada, de inutilizarmos tudo, fazermos uma deliciosa fogueira exorcizando todo devaneio romântico do que foi aprendido sobre os arcanos e recomeçarmos fortes, verdadeiros, rumo a análises confiáveis e livres de dogmas pessoais. Se não partirmos da premissa básica que é o reconhecimento de seu verdadeiro passado, seja ele bom ou mau, mundano ou divino, falso ou real, lazer ou oracular, não será possível termos certeza do que temos nas mãos, nem a convicção do que poderemos fazer com o Tarot. Sei que formulei mais questionamentos, deixei muito mais perguntas do que evidenciei respostas. Também vamos ser práticos, as respostas do passado não existem, somente as do futuro: como vamos estruturar e conceituar definitivamente seus arcanos e, assim, garantir a continuidade do Tarot para futuras gerações?

Notas Importantes


1) Desenhe o Tarot que desejar, expresse sua criatividade, mas nunca deforme sua fonte original simbólica, nominativa, quantitativa e os atributos essenciais de cada carta;
2) Ao consultar tarot escreva e associe o Tarot com qualquer coisa em nosso universo, mas nunca se esqueça de que é do Tarot que está falando ou explicando - sempre deixe essa "outra associação" em segundo plano;
3) Tenha mais consciência do Tarot enquanto significado de seus arcanos e não do significado da cabala, astrologia, mitologia, numerologia, pois cada uma destas ciências tem sua própria história, estrutura e utilização; todas as associações feitas até hoje ainda são discutíveis;
4) Vamos descobrir novas estruturas, explicações e análises para o Tarot, de uma forma mais pura, mais direta, menos abstrata, como ocorre na astrologia ou numerologia: longe dos devaneios místicos;
5) Esqueça do passado tradicional do Tarot, ele não existe; pense em seu futuro!  O tarot on line e o tarot virtual são apenas um rascunho do que está por vir.
6) Diga não a tudo o que não comporte a significação dos 78 arcanos.
7) Tarot é Tarot.