quinta-feira, 29 de agosto de 2013
Echelon: O Sistema de Espionagem Mundial.
Talvez você não saiba, mas tudo o que você fala pelo telefone ou transmite pela Internet é controlado, em tempo integral, via satélite, pelo Sistema Echelon, uma sofisticada máquina cibernética de espionagem, criada e mantida pela Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos, com a participação direta do Reino Unido, do Canadá, da Austrália e da Nova Zelândia.
Com suas atividades iniciadas nos anos 80, o Echelon tem, como embrião histórico, o Pacto denominado Ukusa, firmado secretamente pela Grã-Bretanha e pelos EUA, no início da Guerra Fria.
Destinado à coleta e troca de informações, o Pacto Ukusa resultou, nos anos 70, na instalação de estações de rastreamento de mensagens enviadas desde e para a Terra por satélites das redes Intelsat (International Telecommunications Satellite Organisation) e Inmarsat.
— Outros satélites de observação foram enviados ao espaço para a escuta das ondas de rádio, de celulares e para o registro de mensagens de correios eletrônicos.
Além disto, já sob o guarda-chuva do Echelon, são captadas as mensagens de telecomunicações, inclusive de cabos submarinos e da rede mundial de computadores, a lnternet. Em linguagem técnica, o objetivo dessa rede (network) é o de captar sinais de inteligência, conhecidos como sigint.
O segredo tecnológico do Echelon consiste na interconecção de todos os sistemas de escuta. A massa de informações é espetacular e, para ser tratada, requer uma triagem pelos serviços de espionagem dos países envolvidos, por meio de instrumentos da inteligência artificial.
“A chave da interpretação — afirma Nicky Hager; pesquisador do tema — reside em poderosos computadores que perscrutam e analisam a massa de mensagens para delas extraírem aquelas que apresentam algum interesse. As estações de interceptação recebem milhões de mensagens destinadas às estações terrestres credenciadas e utilizam computadores para decifrar as informações que contêm endereços ou textos baseados em palavras-chaves pré-programadas”.
Estas palavras-chave resumem os alvos principais dos serviços de inteligência dos Estados Unidos e de seus sócios no Echelon. Integram os chamados “dicionários”, que são produzidos e trocados, sistematicamente, entre esses organismos. Entre essas palavras encontram-se, por exemplo, os nomes de Fidel Castro, Saddam Hussein e Hugo Chávez e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST. Incluem, também, expressões como terrorismo, guerrilha, narcotráfico e ajuda ao Terceiro Mundo.
O acesso a alguns desses “dicionários” só tornou-se possível graças à colaboração de ex-agentes — sobretudo australianos e neo-zelandeses — com pesquisadores ligados a ONGs defensoras das liberdades públicas e do direito à privacidade. Os megacomputadores da NSA são capazes de reconhecer automaticamente a identidade dos interlocutores, numa conversação telefônica.
Além de palavras-chave, o código do Echelon também inclui cifras-chave. 5.535 representa as comunicações diplomáticas japonesas; 8.182 indica a troca de tecnologias criptográficas. Os documentos resultantes das pesquisas recebem símbolos distintivos: Moray (secreto), Spoke (ultra-secreto), Gamma (interceptação de comunicações russas, mesmo no pós-Guerra Fria).
O megapoder da NSA
A agência de inteligência norte-americana mais conhecida é a CIA. No entanto, de acordo com os pesquisadores nessa arca, a mais poderosa é a NSA. Ela possui, hoje, cerca de 20 mil funcionários em Fort Meade, seu quartel-general. São, principalmente, analistas de sistemas, engenheiros, físicos, matemáticos, linguistas, oficiais de segurança e administradores de empresas, entre outros especialistas de alto padrão.
A NSA foi criada em 1952 por meio de um decreto secreto do presidente Harry Truman para cuidar de espionagem e contra-espionagem, dentro e fora dos Estados Unidos. Seu organograma (conhecido publicamente, pela primeira vez, em 18 de dezembro de 1998, graças à lei conhecida como Freedom Information Act), demonstra que seus serviços cobrem praticamente todo o universo das tecnologias da informação.
Com base nessa massa crítica, os EUA adiantaram-se no tempo para assegurar s???? ?o?ua hegemonia mundial no século 21. Em novembro de 1997, o chefe do Estado-Maior da Força Aérea norte-americana fez palestra na Câmara de Representantes, em Washington e afirmou: “No primeiro trimestre do próximo século, seremos capazes de localizar, seguir e mirar — praticamente em tempo real — qualquer alvo importante em movimento, na superfície da Terra
Ao refletir sobre o que chama de televigilância global, o filósofo e urbanista francês Paul Vinho afirma que o fenômeno histórico que leva à mundialização exige cada vez mais luz, cada vez mais iluminação. E assim que se desenvolve hoje uma televigilância global que não reconhece qualquer premissa ética ou diplomática. A atual globalização das atividades internacionais torna indispensável uma visão ciclópica ou, mais precisamente, uma visão cyber-ótica... Com essa dominação do ponto de vista orbital, o lançamento de uma infinidade de satélites de observação tende a favorecer a visão globalitária. Para “dirigir” a vida, não mais se trata de observar o que acontece diante de si. A dimensão zenital prevalece, de longe ou mais alto, sobre a horizontal e não se trata de um assunto de pouca importância porque o “ponto de vista de Sirius” apaga toda perspectiva”. (em Le Monde Diplomatique, agosto de 1999, pgs.4e 5).
Confirmação Oficial do Parlamento Europeu
Em 18 de Maio de 2001, veio a conhecimento público o informe, elaborado pela Comissão Provisória, nomeada pelo Parlamento Europeu, para investigar o Echelon, em que confirmaram:
“A existência de um sistema global de interceptação das comunicações em que cooperam os Estados Unidos, o Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, já não pode ser colocado em dúvida.(...) O que resulta importante é que seu propósito é interceptar comunicações privadas e comerciais, e não comunicações militares.” (NAVARRO, 2001: 50)
Sem dúvida, mais do que um sistema de espionagem, este sistema é uma grave violação ao nosso direito de privacidade. Qualquer dia nem os sites de Internet escaparão à censura total. O relatório completo do parlamento europeu pode ser facilmente encontrado na internet.
O Brasil no Echelon
De forma totalmente extralegal, a NSA utilizou a rede Echelon para espionar todos os movimentos do Greenpeace por ocasião dos protestos contra os ensaios nucleares franceses, no Atol de Mururoa, no Pacífico Sul. O Brasil também participa da história secreta do sistema: por meio da rede, o governo norte-americano interceptou as negociações entre o governo FHC, no primeiro mandato, e a empresa francesa Thomson, para a compra dos equipamentos de vigilância da Amazônia, através do Sivam.
Com base nos dados coletados, a Casa Branca e o complexo industrial estadunidense conseguiram derrubar Thomson e, finalmente, a empresa norte-americana Raytheon acabou ganhando a concorrência internacional. As comunicações dos países e dos cidadãos latino-americanos são processadas na estação de Sabana Seca, em Porto Rico. Na Inglaterra, o órgão governamental associado à NSA é a GCHQ (Britain’s Government Communications Headquarters).
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