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Um lamento pela impunidade generalizada
Sob o título "O Sistema Criminal segundo os Tribunais Superiores", o texto a
seguir é de autoria do Procurador da República Vladimir Aras, da Bahia.
Todo cidadão tem o "direito" de cometer um crime e não ser preso.
Tem o direito de carregar uma arma de fogo, desde que desmuniciada.
Se, por um revés, for preso, tem direito de conseguir liberdade, qualquer
que seja o crime cometido, sem pagar um tostão de fiança.
Tem o direito de não soprar o bafômetro se atropelar alguém e de não
fornecer amostra de sangue ou esperma se for um homicida ou um estuprador.
Tem o direito de não ser processado criminalmente, porque a ação penal viola
a dignidade da pessoa humana.
Para não ser condenado, o cidadão tem o direito de mentir para o juiz.
Se for condenado, terá direito de recorrer até que venham as calendas
gregas, recurso após recurso, um sobre o outro.
Se, por milagre, transitar em julgado a sentença condenatória, o cidadão tem
direito de fugir. Inclusive terá o direito de danificar o patrimônio
público, se isso for necessário para a fuga.
Se for procurado a mando do juiz, terá direito de usar falsa identidade para
enganar a Polícia e não ser preso.
Se não for encontrado, tem direito à intangibilidade de sua vida privada de
condenado-foragido e não poderá ter sua movimentação financeira rastreada
pela Justiça.
Quando, um dia, por sorte ou azar, esse "cidadão de bem" for pego de novo
pelas autoridades, aí a condenação já terá sido atingida pela prescrição.
E, depois de tudo isso, diante de tantos dissabores, esse cidadão terá
direito de ser indenizado pela demora do processo penal ou por erro
judiciário...
Afinal, no Brasil, pátria cujo revolucionário lema parece ser
"Criminalidade, Desigualdade e Impunidade", todos são inocentes, inclusive
os culpados. E "certos alguéns" jamais são condenados, mesmo após prova
cabal em contrário.
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